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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Uma família pode buscar a trégua com as milícias do Rio. Por Moisés Mendes

Originalmente publicado por Moisés Mendes, em seu blog: Setores da política com vínculos ou com conhecimento sobre o funcionamento das facções milicianas do Rio têm um desafio que devem enfrentar, como a parte dos esforços para pacificar a cidade. Líderes políticos, com ou sem mandato, podem convocar uma reunião de cúpula dos chefes do crime, como os mafiosos faziam em Chicago. É só querer agir em nome do fim da guerra. 

www.seuguara.com.br/milícias/Rio de Janeiro/vínculos/Moisés Mendes/

Parece, mas não é ironia. Nessa terça-feira, na entrevista ao Roda Viva, o ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação do governo, lembrou das conexões da família Bolsonaro com milicianos.

"São notórias as investigações que demonstram a relação histórica do Bolsonaro e dos familiares com o crime organizado e com a milícia no Rio de Janeiro", disse Pimenta. 


fatos e farta documentação sobre esses vínculos. A família Bolsonaro pode não ter mais o poder que chegou a ter, mas detém reservas de influência numa área que está no lastro político de muita gente no Rio.

Os Bolsonaros já não têm mais condições de manobrar com a estrutura militar. Não têm o que oferecer  ao Centrão. Daqui a pouco não terão o que retribuir ao PL. Mas ainda podem ter pontos de contato com as milícias.


A família Bolsonaro já homenageou milicianos. Bolsonaro visitava na cadeia o miliciano Adriano da Nóbrega, executado na Bahia. Há exemplos de negociações dos Bolsonaros com criminosos.

A jornalista Juliana Dal Piva contou no UOL no ano passado que em 2004 Bolsonaro e o filho Flavio negociaram com policiais criminosos presos amotinados no Rio. 


Adriano era um dos participantes do motim e depois iria virar miliciano. O sociólogo Paulo Baía, que havia sido subsecretário de Direitos Humanos do Rio, foi chamado pelo então deputado estadual Flavio Bolsonaro para as negociações.

"O principal interlocutor do Flavio era o Adriano", contou o sociólogo a Juliana Dal Piva. Segundo Baía, o motim teria sido uma farsa para que o filho de Bolsonaro brilhasse como negociador com policiais que agiam como bandidos. "Um  circo armado para projetar Flávio Bolsonaro", disse o sociólogo.


Os Bolsonaros entendem do assunto, têm expertise. A origem das milícias está nas polícias que eles conhecem bem há muito tempo.

Podem estar desatualizados, pela concentração de atividades em Brasília a partir de 2018, mas sabem como funciona a partilha de territórios em guerras internas e em conflito permanente com o Estado. 


A extrema direita brasileira, e não só os Bolsonaros, têm desqualificado as tentativas de Lula de fazer a intermediação da paz na ONU para conter a matança em Gaza.

Os líderes dessa extrema direita têm a chance de chamar uma reunião de cúpula das milícias e apresentar resoluções pela paz no Rio.

Líderes respeitados pelos milicianos podem oferecer sua contribuição para conter o terror na cidade. Que chamem os chefes e negociem. Que cada um cuide da ONU que lhe cabe.


Abaixo, um vídeo em que Bolsonaro revela o que pensa sobre as milícias.



E aqui elogios, na tribuna da Câmara, um discurso em defesa de Adriano da Nóbrega.



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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A última lição deixada pelo Rei Pelé. Por Sacramento

Por Marcos Sacramento, no DCM: Gênio incontestável dentro do campo, imperfeito enquanto homem. Pelé, falecido nesta quinta-feira, 29 de dezembro, deixou uma última e involuntária lição. Neste momento em que a opinião pública se divide entre a exaltação ao atleta Pelé e os insultos ao cidadão Edson, por conta do polêmico processo de reconhecimento de paternidade movido pela filha Sandra Regina, o melhor caminho é reconhecer a fragilidade dos ídolos.

www.seuguara.com.br/Pelé/lição/

Por mais extraordinárias que sejam as suas realizações, ídolos são antes de tudo seres humanos, com fraquezas, contradições, falhas.

Com Pelé não foi diferente. Era fisicamente forte, inteligente, disciplinado, cerebral e explosivo. Completo e prefeito do ponto de vista desportivo, a ponto de Edson separar o homem do atleta. 


Humano fora das quatro linhas do campo, Edson Arantes do Nascimento esquivou-se de polêmicas políticas e sociais. Frustrou os que desejavam nele a contundência de um Muhammad Ali.

Na intimidade familiar, o imbróglio com a filha Sandra Regina decepcionou os que buscavam no Edson a perfeição do Pelé.


São críticas em certa medida pertinentes, não fosse o nível dos questionamentos direcionados ao ex-jogador. Como se outros gigantes das artes, da ciência e dos esportes fossem irrepreensíveis em todos os aspectos da vida.


Edson cometeu erros em sua vida, como eu, você, nossos amigos e familiares cometeram e cometem, em maior ou menor grau. Foi só mais humano, imerso nos valores do tempo e do ambiente em que viveu.

Pelé, por sua vez, foi gigante, unanimidade. Um dos raros vultos da História onde o adjetivo genial pode ser usado sem comedimento.


É possível, sim, reconhecer a grandiosidade do jogador e tudo que a existência de Pelé representou não só para o futebol, mas para a cultura mundial, embora Edson tenha passado longe da perfeição. Podemos chorar a morte do Rei, mesmo sabendo o quanto foi plebeu em sua existência enquanto homem.


A passagem de Pelé nos deixa, como último ensinamento, que é possível reconhecer a fraqueza dos ídolos e buscar admirá-los e buscar admirá-los por aquilo que os tornou célebres. 


Imagem: reprodução


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sábado, 27 de abril de 2019

Política: 'um filho é para internar, o outro está deslumbrado', diz o presidente da Câmara dos deputados sobre o clã Bolsonaro em entrevista

O presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia, avaliou nesta sexta-feira (26, a relação do presidente Jair Bolsonaro com os filhos e as consequências para a agenda política do país. Em entrevista ao site BuzzFeed News, Rodrigo Mais diz que o vereador Carlos Bolsonaro pode ser "doido à vontade", mas age em uma estratégia definida pelo próprio presidente nas redes sociais.
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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Paulo Moreira Leite: 'Em 2036, almoço com a família PEC 241'


"A história de povos e países ensina que nunca foi possível superar o atraso e a miséria sem a fantasia de uma situação melhor. Não haveria democracia, em nenhum lugar do mundo, sem o sonho do século XVIII de um sistema de homens livres e iguais."



- Paulo Moreira Leite, jornalista, escritor e diretor do 247 em Brasília - "Ao longo de várias gerações, reprises e versões, os brasileiros já acompanharam o destino de várias famílias fictícias. Entre 1967 e 1971, era possível dar boas gargalhas com a Família Trapo, onde Ronald Golias, no papel do inesquecível personagem Bronco Dinossauro, produziu momentos antológicos do humor brasileiro.

Em 328 capítulos, exibidos pela primeira vez entre 1970 e 1971, o jovem Tarcísio Meira no papel principal, Irmãos Coragem contava a epopeia de uma família de um garimpeiro as voltas com a tirania de um coronel sem escrúpulos numa cidade remota do país. Muitos enxergavam neste microuniverso uma metáfora sobre a ditadura militar que esmagava o país, na época.

A família de 2016 não tem o humor da primeira, nem os lances de heroísmo da segunda. 

Estou falando da família PEC 241, uma farsa construída por economistas e porta-vozes do governo Temer-Meirelles em atividade nos meios de comunicação. Sua finalidade é funcionar como suporte ideológico ao mais perverso programa de ataque ao patrimônio econômico do país e ao progresso – relativo mas real – de conquistas sociais, num processo até chocante pelo espírito neo-colonial. Em síntese, quer iludir consciências para amortecer a resistência.

Para empregar um diagnóstico do economista e professor da PUC de São Paulo Antônio Correa de Lacerda (Estado de S. Paulo, 15/10/2016), a intenção é construir um “autoengano coletivo” sobre o “orçamento do lar.”

Metáfora risível, que deveria corar de vergonha todo economista e todo jornalista que tenta nivelar as opções que envolvem gastos do Estado com decisões que envolvem orçamento de uma família, sugerindo que dizem respeito a realidades comparáveis, o sucesso publicitário da família PEC 241 é enganoso – mas não pode ser negado.

Já lhe permitiu atravessar a primeira de duas votações na Câmara. Caso não seja  derrotada numa segunda decisão, missão que boa parte dos observadores considera muito difícil, a última palavra caberá ao Senado. Também não será fácil, convenhamos.

Assim, sem uma forte reação das ruas, que deve ser trabalhada e articulada pelas organizações de trabalhadores e dos movimentos sociais, o país irá ingressar numa realidade econômica e social que parecia extinta pela Revolução de 1930. Sim.

O horizonte de uma regressão de mais de 80 anos, um retorno a velha república do café com leite, ajuda a explicar a disputa entre mineiros e paulistas do PSDB, convencidos de que a sucessão de 2018 será um anacrônico baile entre eles, com o povo mantido a distância, como acontece nas sociedades onde a questão social é um caso de polícia, como dizia o carcomido Washington Luiz. 

Para entender o caráter ruinoso da metáfora que compara o governo a uma “dona de casa”, vamos levar esta imagem a sério. Pense em qualquer família, inclusive na sua, para entender o que vem a ser a economia da família PEC 241. É fácil perceber que não há nada de doméstico nos eventos e mudanças principais que irão ocorrer no país. O papel do Estado, com investimentos, e estímulos, aparece em decisões e episódios que muitas pessoas tem dificuldade para compreender e imaginar.
 
Por exemplo: sente-se à mesa de um imaginário almoço de domingo. Claro que a terceirização irá diminuir a presença de pais e irmãos, já que muitos serão obrigados a trabalhar no antigo dia do descanso.  Isso já acontece hoje, mas será ainda mais frequente em duas décadas, com a PEC 241, quando a CLT terá sido transformada em menos que um retrato na parede.

Como também lembrou Antônio Correa de Lacerda, daqui a 20 anos a população terá crescido 10%, ou 20 milhões de pessoas, o que implicará num adicional importantes nas despesas típicas para atender a demanda de jovens, desde alimento até educação – num horizonte de cobertor curto, onde o movimento que cobre a cabeça expõe os pés e vice-versa.

Ao mesmo tempo, as vovós e vovôs irão dobrar. Se hoje eles vão embora mais cedo – e representam 12,1% da população – em 2036 chegarão a 21,5%. Mesmo com os cortes previsíveis nas despesas com saúde pública, a expectativa de vida tende a aumentar – como se nota, inclusive, em países que sobrevivem num grau de miséria grotesca que a maior parte dos brasileiros abandonou na última década e meia.

Não pense em senhoras e senhores de cabelos brancos, que em anos recentes tiveram um reforço em suas pensões e até puderam dar apoio, com conforto razoável e saudável orgulho, um número maior de filhos e especialmente netos. A contrapartida da PEC 241 é a reforma da Previdência, o corte das pensões, a criação de barreiras a aposentadoria. Isso quer dizer que nossos velhinhos mal terão para o próprio sustento e, em vez de ajudar, muitas vezes serão obrigados a pedir ajuda. Muitos voltarão a residir com os filhos, naquela convivência compulsória que pode ser tensa e pesada, pode ser muito enriquecedora e agradável, mas também tensa e pesada. 

Forçados a trabalhar até mais tarde, para atingir o limite de idade para a aposentadoria, os avôs e avós mais irão levar mais tempo para deixar o mercado de trabalho. Vão trabalhar até a última gota. Isso irá dificultar a abertura de vagas para as gerações mais jovens. As consequências são previsíveis, em qualquer país onde os jovens não tem oportunidades necessárias de estudo e trabalho. Já somos a quarta população carcerária do planeta. Conforme algumas estatísticas, podemos ser considerados a primeira. Alguém tem dificuldade de prever o que pode acontecer depois da PEC 241?

Na família da PEC 241, não teremos de garotos e garotas que tiveram acesso a bolsas no Exterior, que logo estarão na mira da tesoura de Meirelles-Temer, junto com o FIES e, é claro, o pró-UNI. Pelo retorno das mãos mais visíveis do racismo, teremos ataques duros ao programa de cotas.  Na melhor das hipóteses, a PEC 241 irá implantar o modelo educacional previsto nos acordos MEC-USAID dos primeiros anos da ditadura de 64. Este projeto acabou derrotado nas ruas dos protestos estudantis da geração de 1968, que impediram uma reforma universitária que previa universidade pública para poucos – e paga – e ensino profissionalizante para alguns. Estamos no país onde só vai para a universidade quem tem dinheiro, como disse aquele deputado paulista, numa frase de quem perdeu todo receio de assumir o caráter de classe da PEC 241. 

Neste imaginário almoço em família de um país derrotado, vinte anos depois que suas maiores peças de resistência foram destruídas, pelo abuso e pela prisão, depois da sobremesa alguém irá lembrar como era a vida no Brasil antes que todos tivessem incorporado a PEC 241 ao sobrenome.

Sempre aparece um parente que leu textos que os jornais não publicam, que foi atrás dos fatos como eles aconteceram e é capaz de separar a verdade da lenda. Então todos irão lembrar que o empobrecimento, a miséria cultural e o inferno de uma sociedade sem espinha dorsal só foi possível depois que, embalada por um golpe de Estado pacífico mas nem por isso não-violento, a PEC 241 impediu um país inteiro de sonhar. Irão compreender que é por isso que, hoje, colunistas amigos escrevem, com orgulho, que a PEC é o fim da fantasia. É mesmo. E é um projeto venenoso justamente por isso. Este é o mal. O pesadelo.

A história de povos e países ensina que nunca foi possível superar o atraso e a miséria sem a fantasia de uma situação melhor. Não haveria democracia, em nenhum lugar do mundo, sem o sonho do século XVIII de um sistema de homens livres e iguais – que os sábios da época diziam ser inviável e insustentável, já que a maioria da humanidade era formada por pessoas submissas e diferentes pela renda, pelo estudo, pela história.

A humanidade não teria vencido o terror e a tragédia do nazismo sem a convicção de que era possível vencer a Depressão terrível da economia criada pela crise de 1920-1930.

O Brasil não teria vencido a ditadura militar sem o sonho de outro país, outra ordem política, outras oportunidades, expressas na Constituição de 1988 – e realizadas, ainda que parcialmente, com vários limites e muitos pontos críticos, pelos governos Lula e Dilma.

Nenhuma dessas mudanças se fez sem investimentos públicos, sem estímulos ao crescimento e a distribuição de renda. É isso que faz as decisões de governo essencialmente diferenças das decisões de uma família.

Um governo fixa os juros e tem meios de promover o crescimento ou a ruína organizada de um país. A família está submetida a política econômica que o Estado determina. Paga a taxa de juros que o Banco Central definiu. Pode fazer empréstimos e consumir, se encontra juros favoráveis. Ou terá de empobrecer e conformar-se, caso sejam impagáveis – como quer a PEC 241.

A boa lição da história é que não se conseguiu, até agora, eliminar a capacidade de um povo sonhar e fantasiar. Os efeitos do pensamento único pode ser mais ou menos duráveis. A audiência da burrice bem remunerada pode alcançar um alcance surpreendente. Mas nada disso dura para sempre. Em geral, menos do que se programava. A pior ditadura do século XX durou 83 vezes menos do que seus arquitetos planejavam. Os 25 anos sonhados pelo PSDB depois da vitória de Fernando Henrique limitaram-se a 8 – sem golpe parlamentar.

Acredito que, mesmo que venha a ser aprovada, a PEC 241 não irá sobreviver o período de 20 anos de seus criadores. Não chegará nem aos dez, previstos para uma revisão intermediária.

Tenho certeza de que, mais cedo do se imagina, os brasileiros irão reagir e impedir que seu país seja transformado em ruína. Foi assim em 1965, em protestos contra a recessão que anteciparam 1968. Também foi assim na resistência a recessão de 1983, que abriu a Diretas-Já em 1984.

Exercício de imaginação e futurologia, o almoço de um domingo de 2037 é uma tentativa de alerta – num momento em que a ficção ajuda a compreender a realidade. 

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