Como os jornais noticiaram os 100 dias do governo Lula
Por Patrícia Faermann, no GGN: "Governo envelhecido", com a "cabeça de 2003" e "reeembalando programas de suas gestões anteriores", a suposta falta de "novidades" dos 100 dias do novo governo Lula foram o cerne das críticas que os grandes jornais desfilaram nesta segunda-feira (10).
Com o início de governo turbulento, assolado pela resolução dos ataques golpistas de 8 de janeiro, por tragédias ambientais e a crise Yanomami e que, apesar de 100 dias de Executivo, considerando o recesso, o Legislativo voltou às atividades há pouco mais de 2 meses.
Mas este foi também o segundo grande foco de críticas do noticiário: a suposta imobilidade governista no Congresso, somando-se às altas expectativas sobre o novo presidente na área econômica e destacando os feitos e as medidas positivas tomadas até hoje.
Confira como cada jornal manchetou os 100 dias de governo Lula:
CNN
A CNN centrou a crítica à incerteza de governabilidade de Lula junto ao Congresso Nacional. O jornal afirma que o presidente não tem "base consolidada", "nem marca petista" no Legislativo. Ressaltou que os avanços e mudanças do novo governo são aqueles que não precisaram passar pelo aval dos parlamentares.
"O teste está por vir nos próximos meses", acrescentou, em referências às 13 medidas provisórias que terão que passar no Legislativo a partir de agora.
Sem dar destaque ao fato de que boa parte delas já tem consenso e acordos estabelecidos e que as Comissões Mistas deverão dar maior equilíbrio para a força governista nas análises - distinta da sequência anterior de Câmara, primeiro, Senado depois -, a CNN apostou nas dificuldades.
Ainda ignorando o menor tempo de atividade do Congresso, em comparação ao Executivo, uma vez que os parlamentares voltaram do recesso no dia 3 de fevereiro, rodeados ainda de outros embates como os ataques golpistas de 8 de janeiro, a falta de medidas concluídas ou aprovadas pela nova gestão no Legislativo foi caracterizado pelo veículo como falta de "marca petista".
G1
Iniciando pela turbulência dos ataques golpistas e a crise dos povos Tanomami, que exigiram tempo e esforços urgentes do novo mandatário, e que tiveram boa aceitação, o portal do grupo Globo também apontou como positivas as medidas sociais aplicadas que foram promessas de campanha, como a volta do Bolsa Família, e a "nova posição do Brasil no cenário internacional", com agenda intensa de viagens.
Mas contaminou as melhorias colocadas em práticas com as escorregadas de declarações do presidente, como a fala de que viu "armação" de Sergio Moro no caso das ameaças do PCC às autoridades e as críticas ao Banco Central.
O Globo
Já O Globo rotulou que Lula "é o único presidente sem nova marca no início de gestão", que o país "continua polarizado" apesar da tentativa de "União e Reconstrução", e que medidas feitas até agora são a recuperação de programas de seus governos anteriores.
"Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), Mais médicos (criado pela presidente Dilma Rousseff) e Água para Todos são alguns dos programas reeditados por Lula."
A falta de "novidade" destes 100 primeiros dias, segundo o jornal, é a mostra de "um país ainda fortemente polarizado".
Em outra publicação, o jornal analisou que, a partir de agora, da marca dos 100 dias, o governo Lula tentará "driblar" a resistência da classe média ao seu governo, buscando aproximação com este setor.
Estadão
Editorial do Estadão manchetou "Um governo envelhecido aos 100 dias", por comparar a postura do presidente como um prestador de contas e "em busca de trunfos eleitoreiros", ao contrário de fazer o que se espera de um início de mandato, "momento em que decisões difíceis e impopulares costumam ser tomadas".
Abusando em adjetivos pejorativos, a opinião do jornal impresso não disfarça o ataque ao falar em "sinais de decrepitude precoce", "aparente incapacidade do presidente de dar um rumo", "base governista aparenta ser frágil e pouco confiável".
Após listar somente três medidas que considerou positivas - o desarmamento, o regate dos povos Yanomami e indígenas e a imagem do Brasil no exterior -, o Estadão descarrega que "os retrocessos são igualmente notáveis".
Os retrocessos vistos pelo editorial são a paralisação da reforma do ensino médio e do Marco do Saneamento, "para favorecer estatais falidas e incompetentes em detrimento do bem-estar dos pobres"; o avanço da Leio das Estatais, "criada para estancar a corrupção das estatais, grande marca dos governos petistas"; a "ameaça" à reforma trabalhista, caracterizada como "formidável avanço"; e "detonou o teto dos gastos".
Por fim, chamou o arcabouço fiscal - alvo de críticas de renomados economistas -, de algo "menos mal", criado "entre uma pirraça e outra".
Uol
Menos ofensivo, mas ainda assim com duras críticas, o site Uol martelou a imagem de que Lula não trouxe novidades e que, ao assumir após ano, o presidente teria tomado "um choque de realidade".
Segundo o jornal, "os principais anúncios na data são relançamentos de programas antigos, numa versão repaginada dos primeiros mandatos" e também espetou o tema da governabilidade: "a prova de fogo com o Congresso ainda nem aconteceu, mas promete".
Folha
À semelhança do Uol e do Globo, a Folha de S.Paulo manchetou a mesma "falta de marca" e "reciclagem" de projetos antigos. E em mais altas cobranças, que, após "arrumar a casa", aliados estariam criticando a "demora excessiva para colocar a máquina federal para trabalhar" nestes 100 dias.
Parte dessa demora, traz o jornal, é justificada nas moedas de troca que os parlamentares exigem para dar andamento a propostas no Legislativo: cargos e verbas, que esperam os não governistas e a base de apoio.
Além da pressão materializada pelo noticiário, mercado e espectadores, o jornal considera que Lula tem também "expressado ansiedade" por apresentar resultados de ministros, cobrando-os na entrega de projetos e a divulgação dos mesmos.
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