sábado, 26 de setembro de 2009

O memorável futebol arte do tempo da várzea.



Falam por aí que o futebol é o ópio do povo. Alguns dizem que é a religião. Mas o bom senso nos ensina que sobre os dois assuntos é proibido se discutir. É exatamente aí que se esconde o mistério e o fascínio que levam à paixão tanto por um assunto, quanto por outro. Quanto ao segundo, acho que deveria existir um certo grau a mais de tolerância, visto que cada um tem a liberdade de praticar o credo que melhor lhe convier. Jamais se chegará a um consenso a respeito. Já o primeiro, a grande maioria mesmo sabendo que a discusão não levará a lugar nenhum, jamais deixará de externar sua opinião como fiel torcedor ou praticante, mesmo que nas horas de lazer, da nobre e mágica arte que é o futebol.

Como é na prática, o exercício das boas relações humanas, em uma conversa sobre futebol de quem torce para uma agremiação diferente não há vencedor nem vencido. Pois, logo adiante se retoma a mesma conversa como se fosse algo novo a se discutir. Como novo é cada confronto entre as mesmas equipes. A cada minuto um só lance pode mudar o rumo tanto da "prosa", quanto da partida em si. Independentemente de quem seja o favorito a vencer a disputa.



De uma forma ou de outra a cultura do brasileiro está ligada ao futebol, eternizada pelas conquistas internacionais e pelos craques que o Brasil revelou nesta modalidade de esporte ao longo da história. É só lembrar de Pelé, o rei do futebol ou do Garrincha, simbolo da ginga do drible exclusiva do jogador brasileiro. 
Resalvadas as falcatruas e pilantragens dos chamados "cartolas", os erros às vezes intencionais da arbitragem, como também a violência inexplicável das torcidas organizadas, o futebol brasileiro continua e continuará sendo o primeiro em produzir craques e exportá-los para os continentes europeus.
O esporte "bretão", assim chamado por um famoso cronista esportivo, está tão gravado na mente do brasileiro, que até pouco tempo atrás o primeiro presente que um menimo recebia era uma bola de futebol. A influência oriunda do futebol que recebia da própria familia seguia vida afora, na escola, e na comunidade. E mais tarde através do lugar onde iria trabalhar, pois sempre eram organizados e ainda se formam,  os grupinhos para jogar a famosa "pelada" do fim de semana.
Há ainda os que vão mais longe, na prática amadora do esporte. Me refiro àqueles que praticaram o inusitado e não menos apaixonante "futebol de várzea". Raro, hoje em dia. Evoluiu para o conhecido futebol de quadra ou futebol suiço, disputado de forma descontraída e menos profissional possível.
Se você pertenceu à uma comunidade ou de uma empresa onde interagiam um número razoável de pessoas, certamente deve ter participado de alguma equipe de futebol ou de outro esporte qualquer. E pode  constatar que esse relacionamento, fazia nascer grandes amizades que seriam lembradas pra sempre.
É claro que uma ou outra divergência ou animosidade sempre existiram e sempre existirão, mas no final sempre prevalecia o espírito de equipe, base do relacionamento harmonioso da convivência em sociedade e da manutenção de qualquer grupo.
Me lembro com muita saudade do tempo do "futebol de várzea". Como era comum uma reação mais agressiva quando as pessoas se envolviam em disputas mesmo elas sendo informais, sempre aparecia a turma do "deixa disso". Quero dizer, os mais experientes. E foi de um deles que ouvi, que o futebol  é uma oportunidade de construir grandes amizades, e jamais criar qualquer tipo de inimizade.
Me permito lembrar dos amigos boleiros de um pequeno time campeão na modalidade. De tão unidos, eram conhecidos entre si, por apelidos.  Se não me falha a memória  a escalação da equipe  e as características de cada um era mais ou menos a seguinte:
1 - Palanque - goleiro de extrema habilidade. Defendeu até penalti na final que garantiu o título. Chamado assim porque tinha deficiência nas saídas do gol. 2 - Sarrafo - defensor de alta estatura e muito magro, especialista  em cortar bolas altas. 3 - Serraria - tinha como principal característica "limpar a área" quando o time tomava um sufoco. Lembrava o famoso "beque de serraria", aquele que resolvia na base do chutão. 4 - Miudinho - lateral direito muito respeitado pela raça e vigor físico que demonstrava dentro de campo. 5 - Raposinha - o mais veloz do time. De baixa estatura, porém o jogador com maior espírito de luta. 6 - Goifa - O lateral possuia o chute mais potente de todos, aqueles "pombos-sem-assa" que nenhum goleiro pegava. Tinha a maior batata da perna de todos. Daí o seu apelido. Constava entre dos três maiores artilheiros da equipe. 7 - Flecha -  ou "frecha", como o chamavam seus companheiros. Conhecido também como "The Flech".  Dos seus cruzamentos nasciam a maioria dos gols. Não precisa falar por que era chamado por este apelido. 8 - Lontra - o carregador de piano, preciso no passe da bola. 9 - Sutir - apologista do futebol arte. Artilheiro numero 1 da equipe. Seu apelido fora inspirado em uma peça do vestuário feminino. O único que sabia matar corretamente a bola no peito. 10 - Bola 8 - o Rei da assistência. Toda a bola passava pelos seus pés. Um craque que construia as principais jogadas. Era assim chamado devido a sua aparência física com o Rei do futebol, Pelé.
11 - Cai-cai - canhoteiro, exímio cobrador de faltas. Parava mais no chão do que em pé. O adversário não via outra saída, senão derrubá-lo. Só assim conseguiam pará-lo. Era o gozador do grupo. Era ele  que criava a maioria dos codinomes das atletas. Querido por todos por ser o mais extrovertido, porém temido pelos adversários.
O técnico era o popular e estratégico Bilo, querido e respeitado. Sabia mexer no time quando estava perdendo.  Exercia grande poder de liderança  perante o grupo. Até entre os reservas, titulares em todas as partidas. Eram eles: Piolho ( o que ficava sempre escondido), Urupusá (marcador implacável), Sapiranga (o coringa do time, jogava em qualquer posição), Sarará ( o pulmão de aço), Pé-de-anjo  (vocação para o gol, quase sempre contundido pela sua mania de querer humilhar o adversário com dribles desconcertantes), e o por fim o Galinha prêta (explêndido meio-campista, quando dava a arrancada para o  pique, saía do chão).
São muitas, as histórias dessa equipe de "várzea", onde as partidas tinham três tempos. O terceiro, era  para comemorar. Nem derrota, nem vitória. Vitoriosos e derrotados comemoravam juntos o valoroso sentimento da amizade e da confraternização.
Não pensem, as mulheres que o futebol é coisa pra homem. Exclusivo esporte pra machos. Basta lembrar que é brasileira, a maior jogadora de futebol do mundo: Martha. Consagrou-se na seleção brasileira, e seguiu brilhando em terras estrangeiras como muitos craques brasileiros que brilham nos estádios da Europa.
Enquanto por aqui nós revivemos com muita emoção, a magia do futebol arte que nasceu nos campos de várzea sem jamais se tornar um fanatismo estéril, e que produziu grande momentos de fraternidade entre os homens.

Se você é ou foi um aspirante a boleiro, ou simplesmente pertence ao rol dos amantes desta nobre e mágica arte que é o futebol, conte sua história. Faça seu comentário. Com certeza será bem recebido por todos nós.

Conheça um ponto de encontro dos amantes do futebol, e divida sua experiência nos campos de futebol.


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