quinta-feira, 26 de maio de 2011

O segredo de Palocci

Alguém só enriquece do dia para a noite quando é contemplado na Mega Sena, ou quando inesperadamente recebe uma portentosa herança de algum parente rico que imaginava-se há muito ter partido dessa para melhor. Fora isso, resta a possibilidade de lançar-se no mundo dos negócios, o que normalmente leva um certo tempo. Mesmo que o ramo negocial envolva grandes somas, licitamente é quase impossível multiplicar um patrimônio por 20, em apenas quatro anos. Até porque, o que cai do céu totalmente de graça, é chuva. E, se for demais pode gerar calamidade e pobreza.
Para um cidadão comum, amealhar uma pequena fortuna que lhe permita possuir uma casa, talvez até um carro popular, vai ter que ralar muito. Normalmente entre 10 ou 15 anos. Isso, se estudar bastante e se especializar em uma profissão que possa lhe render um ganho acima do nível de mercado.

No entanto, há uma saída para que esse tempo possa ser diminuído. Por exemplo, se lançar na carreira política e nela se sair vitorioso. Os ganhos são infinitamente diferenciados, e fora de qualquer realidade. Pelo menos aqui no Brasil, não existe outra atividade que ofereça tantos benefícios pecuniários para tão pouco tempo de "trabalho".

Há uma outra vantagem intrínseca no labor da política. Notadamente se o expediente for executado na câmara dos deputados, estadual ou federal. É a experiência vivida com os pares. Com os segredos, as informações, os saberes adquiridos, as alianças formadas,  torna-se possível ao indivíduo, depois do mandato, buscar sem dificuldade uma nova profissão. Uma outra atividade que lhe permitirá auferir ganhos proporcionais e até superiores aos que estava acostumado a receber, sem grandes sacrifícios. É a chamada Consultoria empresarial.

E, se tiver sido escolhido para o comando de algum Ministério, mesmo que tenha sido convidado a renunciar ou optado pela demissão voluntária por questão política, ou outra qualquer que o tenha impedido de exercer o cargo, não sofrerá nenhuma restrição quanto ao seu valor como consultor de uma organização, ou até de grandes grupos empresariais. Ao contrário, por ser conhecedor dos nebulosos caminhos do mundo político e suas composições, e do pernicioso tráfico de influências que esse meio oferece, seus serviços poderão ser contratados a peso de ouro.

Recentemente, veio ao conhecimento público através da grande mídia, que o médico sanitarista, Antonio Palocci, atual ministro da casa civil, e que no governo Lula respondia pelo Ministério da Fazenda, arrecadou R$ 7,4 milhões desde 2006. Isso aconteceu logo que saiu do governo, e até ser convidado novamente pela presidente Dilma Rousseff, a compor seu novo ministério. Segundo o jornal A Folha de São Paulo, Palocci comprou um apartamento no valor de R$ 6,6 milhões, no final do ano passado, e um ano antes um escritório por 882 mil.

Considerado o homem forte, e talvez o mais importante articulador político do atual governo, durante o tempo em que esteve fora, Palocci fundou a empresa de consultoria Projeto Consultoria Financeira Econômica Ltda, onde atendeu várias empresas e prestou serviços individualmente a muitas outras. Foi assim que fez fortuna. Não demorou muito para que a oposição o acusasse de enriquecimento ilícito, e tenta até o momento intima-lo a dar explicações na Câmara dos deputados. Também articulam um pedido de  investigação por parte do Ministério Público. Afinal, donde vem tanto dinheiro, em tão pouco tempo? Quem são os seus clientes especiais?

Suponhamos que você se aposentou enquanto exercia um cargo de confiança, no escalão gerencial, em um dos departamentos de uma grande empresa nacional ou multinacional. Alguns meses depois resolve atuar no ramo de consultorias. Certamente sonharia em ter entre seus clientes, por exemplo, empresas como as Organizações Globo, Petrobras, Vale do Rio Doce, Bradesco Holding, até a EBX do bilionário Eike Batista. Bem, é sonhar um pouco alto demais. Isso seria praticamente impossível. Mas não para um homem que foi um dos mais importantes ministros do governo anterior, e prestes a ser convidado a voltar a compor o novo Ministério, como o faz agora.

Então, existem coisas que são impossíveis de se imaginar para um cidadão comum, livre e de bons costumes.  Do outro lado, existem pessoas que se tornaram tão importantes e influentes, tanto na na vida privada quanto na vida pública, e por causa dela,  mesmo depois de serem  protagonistas de escândalos inadmissíveis, escapam ilesas. Declarados inocentes perante a Lei. O Sr.  Antonio Palocci, se tornou em um curto espaço de tempo, uma dessas pessoas.

Segundo a edição on-line do jornal "Novo Jornal", tanto deputados da oposição quanto da base aliada, deixaram vazar os nomes dos poderosos clientes do atual ministro da Casa Civil do governo de Dilma Rousseff. O ministro Palocci, além de trabalhar na fusão Itaú-Unibanco, em novembro de 2008, prestou serviços "às empreiteiras que atuaram na obra do Rodoanel, em São Paulo, com todo o conhecimento do ex-governador José Serra". Enquanto isso, se articulava seu retorno ao governo.

Na lista dos que foram seus clientes, constam pessoas jurídicas de extrema importância. Tais como: Pão de Açucar, Íbis, LG, Samsung, Claro-Embratel, TIM, Oi, Sadia Holding, Embraer Holding, Dafra, Hyundai Naval, Halliburton, Volkswagen, Gol, Toyota, Azul, Vinícola Aurora, Siemens, Royal (transatlânticos). Talvez, muita coisa venha a ser revelada. Segundo consta, os contratos de prestação de serviços de consultoria firmados com a empresa do ministro, possuiam uma clausula de sigilo. Em que era proibida a divulgação do tipo de serviço prestado. O que é devidamente amparado pelas Leis vigentes, desde que acordado entre as partes.

Diante dos fatos, podemos concluir que não só o ministro Palocci pode manter consultorias em pleno exercício do cargo, ou fora dele, como qualquer integrante do governo. E, usando do privilégio de poder transitar por diversos orgãos governamentais. Se estiver em uma posição estratégica como na área da economia, por exemplo, torna-se uma pessoa de extrema importância para o mundo dos negócios. Nem sempre lícitos, porém altamente lucrativos. Com a parceria do setor privado, de repente poderá  ganhar muito dinheiro. Em dado momento isso virá público, e consequentemente o indivíduo será alvo de denuncias de enriquecimento ilícito.

Não há impedimento algum para que parlamentares exerçam atividade empresarial. Claramente verificamos no Congresso a presença de advogados, agropecuaristas, grandes comerciantes, e industriais. Levantamento recente mostrou que 273 deputados federais e senadores estão ligados a estabelecimentos comercial, industrial, de prestação de serviço, ou de atividade rural.

Um cidadão que tenha vivido a experiência de ter passado pelo ministério da Fazenda, ou ter exercido cargo no alto escalão de orgãos subordinados, com toda certeza será muito valorizado como profissional no mercado de capitais. Em poucos anos pode até se tornar um banqueiro. Como é o caso de Pérsio Arida e André Lara Rezende. Ou diretor de instituição financeira, como o ex-ministro Pedro Malan. E, em último caso, um consultor de prestígio, como Maílson da Nóbrega, também ex-ministro. Atualmente são vários os homens públicos em cargos no alto escalão do governo, da base aliada ou não, que estão faturando alto no ramo de consultorias. Discretamente, sem serem incomodados. Palocci, no período que esteve fora do planalto, surfou tranquilo no mundo dos negócios prestando altas consultorias, certamente, recebendo quantias exorbitantes por isso. Detentor de informações valiosas por ter comandado a economia do país durante um longo tempo, se tornou um consultor do mais alto calibre no meio empresarial. Até mesmo quando cumpria seu mandato de deputado. 

Obviamente, por ter se envolvido no passado em escândalo político, justamente por tráfico de influência e tido como o homem chave, e principal articulador do atual governo, o ministro Antonio Palocci Filho, se tornou o alvo preferido da oposição. A finalidade é derrubá-lo e atingir o governo de Dilma Rousseff. A acusação de enriquecimento ilícito é apenas um meio para isso. E nesse jogo político da disputa pelo poder quem perde é o cidadão. Palocci, dentro ou fora do governo continuará juntando seu milhões sem ter que dar explicações a quem quer que seja.  É intrigante, mas é a realidade. Mais uma vez é hora de parar para pensar. Quando é que os governantes vão deixar de governar para si mesmos e começar a governar para o povo?        


Fonte: Novojornal.
Imagem reprodução: novojornal.
                   
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