Voos polêmicos - todo mundo pegando carona

É público e notório. A parceria entre poder público e poder privado tornou-se prática comum de troca de favores. E dá-lhe desculpas que essa prática visa o bem da coletividade, enquanto percebemos tratar-se de um conluio pernicioso. Um pacto preconcebido que permite o livre trânsito entre vielas da corrupção, onde a Lei não consegue alcançar. O objetivo quase sempre é um só. Locupletar-se com o poder, lançando mão dos recursos públicos que não lhes pertencem.

Algo como, eu te ofereço amplo apoio político, ajudo V.Sª a se eleger, e em contrapartida espero a preferência nas licitações públicas. Para que ambos possamos usufruir das benesses do erário público. O povo? Apenas um detalhe. Que se contente com as migalhas, ou com os brioches de Maria Antonieta, sobras de alguma das opulentas festas promovidas pela nobreza gananciosa. 

A mesma atitude arrogante da famosa rainha lá nos idos do século 18, constatamos na elite politica dos dias atuais. Naquela ocasião, a indiferença da corte à miséria e à indignação do povo resultou na Revolução Francesa, que mudou o curso da história. Enquanto que atualmente, perdemos a capacidade de se indignar, e seguimos aceitando impassíveis parcerias suspeitas, como se tudo fosse perfeitamente legal.            

O que está pegando ultimamente no ministério do Governo Dilma Rousseff, é o fato de o ministro do trabalho, Carlos Lupi, ter pego carona (desculpando o trocadilho) em aeronave bancada com recursos públicos. Fato que pode custar-lhe a demissão do cargo tal qual aconteceu com o ministro do Esporte. Caso não seja substituido em eminente reforma ministerial. 

Entretanto, uma reportagem do Jornal Gazeta do Povo, deste sábado (19), comprova que a prática também é comum no Paraná. Vários casos de políticos viajando em aviões de propriedade de empresas particulares vieram a tona através da mídia.

 

 Imagem reprodução/Gazeta do Povo. 

Um vídeo que chegou até o Jornal, mostra os secretários de Estado do Trabalho, Luiz Claudio Romanelli (PMDB), e de Indústria e Comércio, Ricardo Barros (PP), desembarcando de uma aeronave da empresa Pro Tork, que fabrica motopeças, no município de Siqueira Campos, norte do Paraná.

Os secretários se desdobraram em justificativas. Enquanto a Pro Tork, confirmou que a viagem foi a convite da própria empresa, para discutir a instalação de mais duas fábricas no Estado. Uma de motos e outra de bicicletas. A Empresa é considerada a maior fábrica de motopeças da América Latina e emprega cerca de 3,5 mil pessoas.

A reportagem trás a opinião do cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da Universida­­­de Federal do Paraná. Oliveira afirma que, "o maior problema da prática corriqueira do uso de aviões particulares por integrantes do poder público está no fato de que não há regras definidas para essa forma de transporte". Em consonância com o pensamento de Costa Oliveira, felizmente já existe um projeto de lei (PL 2704/11), de autoria do deputado Chico Alencar (PSOL), que obriga a divulgação por parte de parlamentares e ministros de Estado do uso de veículos particulares em viagens. 

Costa Oliveira, afirma ainda - "Particularmente, defendo que haja o impedimento dessa prática. O próprio Estado tem de garantir o transporte aos seus integrantes, principalmente aos do primeiro escalão. Assim, haveria a proteção da autoridade em relação a interesses privados. Isso evitaria a promiscuidade entre o público e o privado, até porque quem oferece esse tipo de serviço muitas vezes cobra uma contrapartida depois".

Um perguntinha sem pretensão alguma - Porque, em alguns a nódoa pega, e em outros não? 

Neste caso, percebemos que a máxima da sabedoria popular: "o pau que bate em Chico é o mesmo que bate em Francisco", pertence na verdade ao folclore brasileiro de contos de carochinha.  A grande mídia finge que não vê o sujo, e fica de olho grande no mal lavado. Também na expectativa de alguma parceria que consiste em assinar algum contrato com o setor público, de seu próprio interesse.



Fonte: GazetadoPovo.
Imagem: intervalodanoticias.