terça-feira, 5 de junho de 2012

Demóstenes x Demóstenes

Um rápido olhar pela história da Grécia antiga e vamos encontrar a famosa cidade de Atenas. Considerada o berço da Democracia, foi a nascente de grandes filósofos, pensadores e oradores. Dentre eles destacou-se Demóstenes, eloquente orador e político influente naquela época. Da sua biografia, consta que antes de dominar plenamente a arte da oratória, o sábio grego enfrentou grandes dificuldades em se expressar, pois era vítima de gagueira.
Reza a história que Demóstenes superou sua deficiência fazendo desde muito jovem, exercícios de oratória,  colocando pedrinhas dentro da boca enquanto falava.
Sua maior preocupação política era o expansionismo de Filipe II da Macedônia, tema central dos seus célebres discursos que ficaram conhecidos como as Filípicas. 

O seu mais famoso discurso escrito foi, Oração da coroa (330 a. C.), lhe rendeu o reconhecimento dos cidadãos atenienses que lhe ofereceram uma coroa de ouro. Entretanto, Atenas foi derrotada pela Macedônia, dominada no início pelo rei Filipe e depois por Alexandre, o Grande. Demóstenes, vê ruir sua reputação e influência. Deixou-se envolver pelo que chamamos hoje de propina. Consta que foi condenado por ter sido comprado por um ministro do próprio Alexandre, que facilitou sua fuga da cidade. A trajetória de Demóstenes, o exímio orador e político grego, acaba com seu suicídio. Ficou como exemplo da mais perfeita oratória de convencimento popular, demonstrado em várias de suas citações. A retórica avassaladora do antigo pensador sobreviveu ao longo da história, tal qual podemos constatar na realidade política brasileira em seus fatos mais recentes. 

Proeminentes homens públicos que atuam ou atuavam no Congresso brasileiro, aprenderam a desenvolver a retórica própria dos grandes oradores da antiga Grécia, provocando perplexidade no meio político e na sociedade. Quando precursores de escândalos de corrupção, ou de certa forma por estarem envolvidos em denúncias, proferiram os mais polêmicos discursos de acusação ou de defesa. Uma rápida passagem pelos principais meios de informações disponíveis e podemos constatar que a retórica usada por nossos senadores, deputados, figuras púbicas em geral, apesar de notória não condiz necessariamente com a realidade dos fatos.

Um exemplo atual, é o ex-senador Demóstenes Torres. Ovacionado como modelo de probidade e conduta nas funções públicas, representava para seus pares e alguns setores da sociedade, o paladino da moral e dos bons costumes. Não exitava em apontar o dedo aos seus adversários políticos envolvidos em atos de corrupção, e representava o mais implacável crítico dos políticos que compunham o Governo Lula. Entretanto, Demóstenes foi convocado recentemente a depor no Conselho de Ética do Senado, suspeito de ligações estreitas com o pivô do mais recente e escabroso caso de corrupção do país. Com a prisão do contraventor Carlinhos Cachoeira, o inquérito da Policia Federal revela que o ex-senador aparece como seu principal parceiro, contendo  elementos suficientes para comprovar que Demóstenes, usou seu mandato para levar vantagem política e beneficiar o suposto esquema de corrupção, objeto da CPMI ora instalada no Congresso. 

Em seu depoimento à CPMI, o senador permaneceu mudo. Não respondeu nenhuma das perguntas dos componentes da Comissão. Porém, no Conselho de Ética do Senado, o ex-senador, ex-delegado de polícia, ex-secretário de Segurança de Goiás e promotor de Justiça licenciado, lembrou seu famoso homônimo da Grécia antiga em toda sua habilidade com a oratória. Demóstenes, proferiu um discurso em sua defesa que durou mais ou menos 5 horas. Em seu conteúdo, preciosas pérolas pronunciadas com a mais pura ironia. Capazes de surpreender incautos, e deixar cabisbaixos os mais preparados oradores e atores que fazem uso da retórica para convencer ou tentar ludibriar uma plateia. No entanto, anos luz distantes das famosas citações de Demóstenes, o político e grande orador de Atenas.

Para começar, em seu enfadonho discurso, logo de cara lembrou uma frase dita pelo ex-presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, quando veio à tona o escândalo de corrupção em seu Governo, que ficou conhecido como mensalão. Lula, teria dito: "Eu não sabia", e logo a mídia tratou de tripudiar a reação do então presidente. Demóstenes, usou do mesmo expediente. Alegou "que só depois da prisão do empresário e com a deflagração da Operação Monte Carlo é que teve consciência das relações que Cachoeira mantinha com outros políticos, governadores e demais agentes públicos". Continuou, "Eu não tinha uma lanterna da popa, não tinha como saber no que eu me relacionava com esse empresário e que ele mantinha relações com cinco governadores" - disse. "Hoje, com essa lanterna na popa, eu dou conta de ver, mas antes, com essa lanterna na proa, eu não via" - declara o ex-senador.

Depois de vir à tona todas as suas maléficas ações praticadas em torno do escândalo, protegido até então pelo manto questionável do foro previlegiado, Demóstenes demonstra toda sua desfaçatez com esta frase: "Eu redescobri Deus. Parece um fato pequeno, mas minha atuação era mais pautada pelos homens que pela fé", tentando convencer os senadores que o ouviam, de sua inocência. 

Muitas outras dessas frases apelativas, ditas por Demóstenes em sua auto-defesa, foram compiladas com cuidado pela repórter da Agência Brasil, Luciana Lima, e publicadas no blog PolíticAética. Todas demostram o poder da retórica usada tantas vezes pelo ex-senador em plenário, tanto quanto por seus pares. No fundo delas, a verdade sempre camuflada. Muito distante das sábias citações do antigo Demóstenes, e até hoje lembradas. Segue algumas delas.

"É necessário que os princípios de uma política sejam justos e verdadeiros".
"É de bom cidadão preferir as palavras que salvam às palavras que agradam".
"Toda a vantagem obtida no passado é julgada à luz do resultado final".
"Nada é mais fácil do que se iludir, pois todo o homem acredita que aquilo que deseja seja também verdadeiro".
"Pensem que as palavras a que não se segue nenhuma consequência são ditas para nada".
"Estamos sempre inclinados a acreditar naquilo que desejamos".


Fonte de informação: 
NetSaber, Pensador, DiáriodoCentrodoMundo, PolíticAética,Wiki.
Imagem: AdrianoZago

                               
                                
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