Crônica imperdível de Eberth Vêncio - Calma, palhaços: a vida é um circo
Quem duvida que as Leis neste país ainda são feitas para Pobre, Preto, e Puta? E que as Constituições dos países da América do Sul devem urgentemente serem revistas para evitar golpes à Democracia? Basta uma rápida leitura na mídia e nos meios de comunicação para certificar-se disso. Oportunistas, perdulários, perjuros e detratores da Pátria de toda a espécie navegam de braçadas em meio a um Código Penal e Código Civil arcaicos, que não atendem mais às necessidades da sociedade, e nos fazem de palhaços.
O que é bem comum? O que são direitos básicos do cidadão perante o chamado Estado de Direito? O que é Estado de Direito nessa onda de impunidade e corrupção que assola o país? Independentemente de questões partidárias e ideológicas?Vislumbra-se uma luz no fim do túnel com o início das reformas desses Códigos através de Projetos de Lei, ora tramitando no Congresso Nacional. Até que isso se torne realidade, seguimos como palhaços induzidos a acreditar que não vale a pena esperar por Justiça.
Com muito bom humor, Eberth Vêncio produziu uma crônica publicada na revista Bula, cuja leitura é de extrema importância para um momento de reflexão sobre o assunto. O texto nós leva a questionar as decisões do Poder Judiciário, com base em instrumentos ineficázes previstos no atual Sistema penal, que não condizem com o direito inalienável de igualdade dos homens perante a Lei. Um direito universal.
Este texto sim, vale a pena compartilhar com sua rede de contatos do correio eletrônico, ou através das redes sociais. Sem deixar de mencionar a origem e o autor, para que não se torne apenas mais um viral na rede a atender interesses ideológicos particulares, que nada de bom acrescenta para o bem estar geral da humanidade.
Depois de ler, você pode ficar indiferente, ou registrar sua opinião acrescentando valor a esta postagem. De qualquer forma, será de muita valia para todos que porventura vierem a tomar conhecimento desta "coluna gravada".
Transcrevo na íntegra.
Calma, palhaços: a vida é um circo
publicado em colunistas

Todos os presentes naquele respeitável
recinto, exceto o magistrado, riram à beça do inusitado comentário feito
pelo réu. A atitude seria mesmo muito risível, não fosse aquele um
julgamento da maior relevância, envolvendo um palhaço de bufê para
festas infantis que, supostamente, matara de susto uma velhota de
oitenta e nove anos, ao estourar um balão de aniversário ao seu pé de
ouvido.
— Mas aquela senhora nem escutava mesmo muito bem.
O juiz ficou mais rubro que a escarlate
bandeira do MST e ameaçou retirar o acusado imediatamente do tribunal,
caso ele se manifestasse novamente sem a sua devida autorização.
— O juiz é mulherzinha!
Olhem a saia dele! (na verdade, a indumentaria, apesar de lembrar muito
uma saia, era uma toga). O réu comediante cantarolou aquelas bobagens
levando o público a quase se urinar de tanto dar gargalhadas. Parecia um
bando de pastores dividindo o dízimo dos fiéis.
— O senhor respeite este tribunal! Isto aqui não é um circo, seu palhaço!
Percebendo que Sua Divindade, ou melhor,
o magistrado já perdia as estribeiras, o rapaz sentiu-se ainda mais
confiante e emendou o bizarro falatório.
— Vocês sabem como é que um juiz diz “Bom dia, Excelência” para outro? “Louvado seja”. Daí o outro responde “Amém”.
Neste momento a algazarra tomou conta da
sala. O juiz Divino (aqui não faço qualquer trocadilho; o nome do
meritíssimo era mesmo Divino) ordenou aos policiais que levassem embora
aquele bagunceiro, mas não foi atendido, pois os fardados homenzarrões
rolavam no chão, contorcendo-se em dolorosas cólicas abdominais de riso.
Os jurados gargalhavam como se
estivessem sentados num auditório da Câmara dos Deputados acompanhando o
depoimento de um parlamentar acusado de honestidade pelos seus pares.
Quanto mais o povo ria, mais o palhaço matador de velhinhas semi-surdas
continuava a sua leréia.
Naquele momento, como se fora o
Presidente Lula nos velhos tempos de Sindicato dos Metalúrgicos, ele
dominava completamente a massa, inclusive os parentes da falecida, os
quais, no fundo, no fundo, acreditavam que a decrépita anciã carecia ter
morrido há mais tempo, o que propiciaria a divisão antecipada, em
partes iguais, de todo aquele maravilhoso patrimônio material. Àquela
altura da situação, o patrimônio moral já tinha ido para as cucuias.
— Hoje tem goiabada?
— Tem sim, senhor!
— Hoje tem julgamento?
— Tem não, senhor!
— E o juiz o que é?
— É ladrão de mulher!
A surreal interação dos presentes com o
réu palhaço (o palhaço réu) parecia um daqueles estranhos filmes do
cineasta mexicano Luis Buñuel, e finalmente contagiou o todo poderoso
baluarte da justiça, que não conteve o próprio riso quando o comediante — que estava maquiado a caráter, palhaço que era, ao contrário dos demais desavisados — molhou
o paletó xadrez do advogado de acusação, pessoa que ele odiava do fundo
de sua toga, utilizando o velho golpe da flor artificial grudada na
lapela, que esguicha água sempre que alguém é convidado a cheirá-la.
Ora, e vejam: este chiste é mais antigo que agentes públicos cobrando
propina...
— Querem saber de uma
coisa? Aquela pobre senhora estava mesmo com um pé na cova e o outro na
porta de um Pronto-Socorro do SUS. Que se dane! Caro palhaço, você é
inocente. Vá e não peque mais, meu filho! — ordenou o
magistrado, em tom professoral, imitando Jesus Cristo, fazendo-me
lembrar de Irmã Amarilis, uma remota professora de Educação Moral e
Cívica que me condenava rispidamente por eu ter me masturbado aos doze
anos de idade.
Terminava assim o quase julgamento do
palhaço animador de festas infantis que matara de susto uma mulher muito
velha, praticamente surda, conforme já foi aqui frisado, um verdadeiro
estorvo, como habitualmente se diz daqueles cidadãos que sobrevivem às
agruras da vida e atingem a senectude neste país.
Então, acordei no sofá. O não-depoimento
na CPMI daqueles bacanas capturados pela Operação Monte Carlo da
Polícia Federal já tinha acabado. Desliguei a TV, liguei o computador e
escrevi esta palhaçada.
Assim como fizeram aqueles calhordas,
espero que vocês, leitores, reservem-se no direito constitucional de
permanecerem calados e só falarem em juízo. Eu prefiro a falta de
juízo.
Para concluir. O cartunista Bessinha retratou com ousadia e com muita criatividade, onde os braços curtos da Justiça pode alcançar. Por falta de instrumentos legais, ou por pura falta de bom senso de seus executores.

Fonte: Revista Bula.

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