“Mais Médicos” – onde foi parar a solidariedade humana?

Na opinião do famoso médico oncologista, cientista e escritor, Dráuzio Varella, o juramento de Hipócrates está antiquado e deveria ser eliminado das cerimônias de formatura. Dr. Dráuzio, criticou o programa “Mais Médicos” recém lançado pelo governo federal com a finalidade de buscar solução para o problema da falta de médicos nas periferias e no interior do país.

Veja o vídeo em que o médico expõe sob seu ponto de vista, sobre os prós e contras do programa.

Por outro lado, o médico cardiologista e ex-ministro da saúde, Adib Jatene, disse que falta humanismo para a classe médica. E que o "Brasil precisa de médico especialista em gente". "O sujeito não estuda medicina para conquistar posição social, acumular patrimônio, isso até pode acontecer. Ele estuda medicina para ajudar as pessoas que estão sofrendo a se sentir melhor. Esse é o objetivo da profissão. É isso que faz o profissão respeitável", ressalta Adib Jatene.

Uma visão pessoal sobre todas aquelas profissões que exigem um certo tempo de preparo acadêmico, tenho um pensamento. Sem desrespeito a qualquer uma outra exercida sob capacitação técnica apenas, pois todas são dignas, o exercício da profissão de médico sugere também, um grau maior de nobreza.

Porque os formados nesta profissão são seres especiais, privilegiados, como assim julgam as pessoas comuns. Esta crença é maior na medicina, que lida diretamente com o início, o meio e o fim da vida das pessoas enquanto doentes e fragilizadas. Creio porém, que todas as profissões exigem indistintamente a prática de valores humanos genuínos no plano nas relações humanas. Valores como a solidariedade, a consideração e o respeito ao ser humano, por exemplo. A ganância, a necessidade de distinção social, pelo menos nestes casos, deveriam ser relegadas à um segundo plano. Mesmo que a realidade nos obrigue a pensar ao contrário, em vista do materialismo que toma conta das pessoas nos dias de hoje. 

A proposta de importar médicos estrangeiros para o Brasil, não só gerou protestos públicos da classe médica brasileira e de outros profissionais da saúde. Ela fez brotar teorias absurdas através das redes sociais na internet e exacerbar o sentimento de corporativismo de uma classe social. Médicos cubanos no Brasil? Houve quem achasse nisso uma teoria da conspiração. Só pode ser coisa de quem prepara um golpe comunista no país para se perpetuar no poder, disseram.

Um pensamento até certo ponto reacionário, que não condiz com a realidade e a busca de solução para problemas sociais cruciais que se arrastam há meio século no Brasil. Que ao sabor de interesses partidários antagônicos, nunca receberam a atenção necessária dos governantes até aqui. Como este, relacionado ao sistema público de saúde no Brasil, especificamente com o Serviço Único de Saúde (SUS). Que mesmo com todas as deficiências segue aos trancos e barrancos servindo à população mais necessitada, recebendo todas espécie de críticas. Umas verdadeiramente genuínas, outras sem fundamento algum.

Todavia, é preciso tolerância e paciência nesses momentos de incerteza política relacionadas com a administração pública, em todas as esferas. Já existiram épocas bem piores. Esgotar toda possibilidade de diálogo com a sociedade, com parlamentares e entidades representativas dentro e fora do Congresso Nacional, é de fundamental importância. É difícil chegar a um senso comum quando existem interesses egoístas envolvidos. Como exigir de repente, sob o calor de manifestações de toda sorte, que problemas de várias décadas se resolvam a curto prazo, como num passe de mágica?

A propósito da vinda de médicos estrangeiros para atuarem no serviço público, é salutar ler a carta de um médico cubano: simplesmente respeito, solidariedade e ética.

Este assunto continua na próxima postagem.