sábado, 8 de novembro de 2014

Você sabe o que é o bolivarianismo?


A palavra Bolivarianismo tornou-se moda no Brasil. O termo tem aparecido muito na imprensa, na mídia em geral e também nas redes sociais. Porém, há muita gente usando esta palavra de uma forma equivocada, sem fazer ideia do seu real significado. Você sabe o que é isso?
Não tem nada a ver com “ditadura comunista”, como diz Marsílea Gambata, jornalista do site da revista Carta Capital em artigo intitulado Você sabe o que é bolivarianismo? transcrito abaixo na íntegra.

Porém, antes de mais nada é importante observar a opinião de uma das maiores estudiosas da vida de Simon Bolívar. Trata-se da jornalista peruana Marie Arana, editora literária do jornal americano The Washington Post e autora do livro Bolívar: American Liberator ("Bolívar: Libertador Americano", nunca lançado no Brasil). 

Em entrevista especial concedida a BBC Brasil constante da matéria assinada por Camilla Costa, a biógrafa de Bolívar diz que, “associar Bolivarianismo com Socialismo é um erro”. 

Por que a referência a Simon Bolívar é importante? 

Primeiramente, porque é do seu nome que deriva o termo Bolivarianismo, claro!  Como outros derivativos tais como: bolivariano, boliarinista, república bolivariana, bolivariano comunista, etc. Apesar de ter falecido em 1830, a saga do líder militar nascido na atual Venezuela, está presente na América Latina com forte influência no estilo de governança de alguns presidentes. 

Simon Bolívar desempenhou um papel importantíssimo na luta pela independência de diversos países do continente sul-americano. Isso fez com que ele seja lembrado até hoje como um dos políticos mais influentes da história, diz Camilla no texto. E  reconhecidamente, Bolívar é um ponto de referência e inspiração para os chefes de Estado, na Venezuela, Equador e Bolívia. São países que vivem sob o regime das doutrinas do socialismo, como asseguram estudiosos dos regimes políticos. 

O venezuelano Hugo Chávez, quando vivo, declarou seu país uma "república bolivariana". Os presidentes Rafael Correa, no Equador, e Evo Norales, na Bolívia, se autodeclaram “bolivarianos”. “Essa apropriação do nome do líder latino faz com que, no Brasil, o termo seja associado ao modelo socialista muitas vezes defendido por estas lideranças latino-americanas atuais”, conclui a jornalista Camilla Costa em sua narrativa.

Evidentemente que, a reeleição da atual presidente, Dilma Rousseff, cujo governo mantem estreitas relações diplomáticas com a referidas nações, levou grande parte dos brasileiros a certo temor. Um medo inconsciente de que seja instalado no Brasil, um regime igual ao adotado pelos governos desses países num futuro bem próximo.

Muitos eleitores e representantes da oposição ao atual governo no Brasil, acabaram por confundir e misturar os conceitos de Bolivarianismo, socialismo e comunismo. E tão logo conhecido o resultado das eleições, que reelegeu a atual presidente, saíram em protestos públicos a reivindicar uma intervenção militar no país, que tão somente tem produzido ódio, preconceito e intolerância. Isto pode ser observado exclusivamente no Estado de São Paulo, onde lideranças conservadoras e outros expoentes reacionários comandaram as manifestações.

Enfim, um equívoco que pode levar a nação a cometer o mesmo erro do passado. Um regime ditatorial que jogou o país por mais de vinte anos a um calabouço de obscurantismo, impedindo o progresso e o bem estar da maioria do povo brasileiro.

Você sabe o que é bolivarianismo?

Por Marsílea Gombata

Após ser apropriado pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, o termo originado do sobrenome do libertador Simon Bolívar aterrissou no debate político brasileiro. São frequentes as acusações de políticos de oposição e da mídia contra o governo federal petista. Lula e Dilma estariam "transformando o Brasil em uma Venezuela". Mas o que é o tal bolivarianismo de que tanto falam? É um palavrão? O Brasil é uma Venezuela? Bolivarismo é sinônimo de ditadura comunista? Antes de sair por aí repetindo definições equivocadas, leia as respostas abaixo:

O que é bolivarianismo?       

O termo provém do nome do general venezuelano do século 19 Simón Bolívar, que liderou os movimentos de independência da Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Bolívia. Convencionou-se, no entanto, chamar de bolivarianos os governos de esquerda na América Latina que questionam o neoliberalismo e o Consenso de Washington (doutrina macroeconômica ditada por economistas do FMI e do Banco Mundial).

Bolivarianismo e ditadura comunista são a mesma coisa?

Não. Mesmo considerando a interpretação que Chávez deu ao termo, o que convencionou-se chamar bolivarianismo está muito longe de ser uma ditadura comunista. As realidades de países que se dizem bolivarianos, como Venezuela, Bolívia e Equador, são bem diferentes da Rússia sob o comando de Stalin ou mesmo da Romênia sob o regime de Nicolau Ceausescu. Neles, os meios de produção estavam nas mãos do Estado, não havia liberdade política ou pluralidade partidária e era inaceitável pensar diferentemente da ideologia dominante do governo. Aqueles que o faziam eram punidos ou exilados, como os que eram enviados para o gulag soviético, campo de trabalho forçado símbolo da repressão ditatorial da Rússia. Na Venezuela, por exemplo, nada disso acontece. A oposição tem figuras conhecidas como Henrique Capriles, Leopoldo López e Maria Corina Machado. Cenário semelhante ocorre na Bolívia, no Equador e também no Brasil, onde há total liberdade de expressão, de imprensa e de oposição ao governo.

Foi Chávez quem inventou o bolivarianismo?

Não. O que o então presidente venezuelano Hugo Chávez fez foi declarar seu país uma "república bolivariana". A mesma retórica foi utilizada pelos presidentes Rafael Correa (Equador) e Evo Morales (Bolívia). A associação entre bolivarianismo e socialismo, no entanto, é questionável segundo a própria biógrafa de Bolívar, a jornalista peruana Marie Arana, editora literária do jornal americano The Washington Post. De acordo com ela, esse “bolivarianismo” instituído por Chávez na Venezuela foi inspirado nos ideais de Bolívar, tais como o combate a injustiças e a defesa do esclarecimento popular e da liberdade. Mas, segundo a biógrafa, a apropriação de seu nome por Chávez e outros mandatários latinos é inapropriada e errada historicamente: “Ele não era socialista de forma alguma. Em certos momentos, foi um ditador de direita”.

O que se tornou o bolivarianismo na Venezuela?

Quando assumiu a Presidência da República em 1999, Chávez declarou-se seguidor das ideias de Bolívar. Em seu governo uma assembleia alterou a Constituição da Venezuela de 1961 para a chamada Constituição Bolivariana de 1999. O nome do país também mudou: era Estado Venezuelano e tornou-se República Bolivariana da Venezuela. Foram criadas ainda instituições de ensino com o adjetivo, como as escolas bolivarianas e a Universidade Bolivariana da Venezuela.

Mas esse regime que Chávez chamava de bolivarianismo era comunista?

Não, apesar de o ex-presidente venezuelano ter usado o termo "Revolução Bolivariana" para referir-se ao seu governo. A ideia era promover mudanças políticas, econômicas e sociais como a universalização à educação e à saúde, além de medidas de caráter econômico, como a nacionalização de indústrias ou serviços. Chávez falava em "socialismo do século XXI", mas o governo venezuelano continua permitindo a entrada de capital estrangeiro no País, assim como a parceria com empresas privadas nacionais e estrangeiras. Empreiteiras brasileiras, chinesas e bielo-russas, por exemplo, constroem moradias para o maior programa habitacional do país, o Gran Misión Vivienda Venezuela, inspirado no brasileiro Minha Casa Minha Vida.

O Brasil "virou uma Venezuela"?

Esta afirmação não faz sentido. O Brasil é parceiro econômico e estratégico da Venezuela, mas as diretrizes do governo Dilma e do governo de Nicolás Maduro são bastante distintas, tanto na retórica quanto na prática.

Os conselhos populares são bolivarianos?

Não, e aqui o engano vai além do uso equivocado do adjetivo. Parte da Política Nacional de Participação Social, os conselhos populares seriam a base de um complexo sistema de participação social, com a finalidade de aprofundar o debate sobre políticas públicas com representantes da sociedade civil. Ao contrário do alegado por opositores, os conselhos de participação popular não são uma afronta à democracia representativa. Conforme observou o ex-ministro e fundador do PSDB Luiz Carlos Bresser-Pereira, os conselhos estabeleceriam “um mecanismo mais formal por meio do qual o governo poderá ouvir melhor as demandas e propostas [da população]”.

(Com informações da BBC Brasil e Carta Capital)
Imagem: reprodução/Wikimedia Commons


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