segunda-feira, 15 de junho de 2020

"Ainda não é hora de reabrir o comércio e relaxar o isolamento Social"

Por João Valadares e João Pedro Pitombo, na Folha de S. Paulo - O médico e neurocientista Miguel Nicolelis, que coordena o comitê científico do Consórcio Nordeste, avalia que não é o momento de reabertura de atividades econômicas e relaxamento do isolamento social.
"A nossa sugestão era de que, enquanto você tiver leitos ocupados com taxa de 80% e ainda tiver curvas ascendentes, você tem que manter [o isolamento]", disse à Folha.

Professor catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte, nos EUA, ele afirma que o fator mais prejudicial ao controle da pandemia no Brasil é a completa falta de coordenação nacional. "É uma inépcia completa. Se eu tivesse um mapa de risco da inépcia em vez do mapa de risco do coronavírus, o mapa seria totalmente vermelho", diz. 

Na entrevista, o pesquisador, que está morando temporariamente em São Paulo, falou da subnotificação dos casos, da importância de quarentenas rígidas e da cobertura da imprensa e fez um alerta sobre o período de inverno com a confluência de outras doenças. "Haverá crescimento da demanda de leitos de UTI quando essa tempestade perfeita ocorrer. Estamos nela, mas não explodiu da maneira que ela provavelmente pode explodir". 

Alguns estados, a exemplo de Pernambuco, Ceará e Maranhão, no Nordeste, iniciaram uma flexibilização. É o momento correto? 

O que nós fazemos no comitê científico do Consórcio Nordeste é oferecer recomendações e sugestões baseadas em dados científicos e análises de contexto de cenários e riscos. Trabalhamos com os dados disponíveis com a nossa matriz de risco. Há cidades que realizaram lockdown como São Luís, Fortaleza e Recife. Os dados de Fortaleza e de São Luís mostram uma diminuição da procura de pacientes das UPAs, estabilização dos óbitos e queda dos casos confirmados.

Você começa, em Fortaleza, a vislumbrar um horizonte. O momento, como nos posicionamos claramente, no boletim 8, é de manter e aumentar o isolamento social. Funcionou no mundo todo.

Os gestores têm informações outras. São eles que operam e são eles que decidem. O comitê se posicionou claramente. Estamos recomendando que o nível do isolamento social seja aumentado. Caiu abaixo de 50. Em alguns lugares do Nordeste, caiu abaixo de 45 em alguns dias. 

Por essa lógica, o 'lockdown' teria que continuar por mais um período até estabilizar? 

Nós sugerimos no boletim 8 do comitê que o lockdown continuasse para que pudéssemos ter uma confirmação das tendências de queda. A gente interpretou de maneira genérica que era preciso mais uma ou duas semanas. Em alguns lugares, a ocupação dos leitos ainda é altíssima. A nossa sugestão era que, enquanto você tiver leitos ocupados com taxa de 80% e ainda tiver curvas ascendentes, tem que manter.

O problema é, por exemplo, como aconteceu em algumas localidades. Você faz [lockdown] por tempo muito curto, você abre e tem que fazer tudo de novo. E isso cria um problema de mensagem para a população. A população muda a chavinha rapidamente. Os bons exemplos foram feitos. Fortaleza ficou três semanas e está colhendo o resultado que são provavelmente os melhores junto com São Luís que teve um achatamento da curva de óbitos. 

(...)

Há risco de uma segunda onda mais forte? 

Uma segunda onda é um fenômeno conhecido desde que a humanidade tem documentação de pandemias. Desde o Império Romano até idade média na Europa, a peste do século 14 e até a pandemia de 18. 

Pesquisadores renomados dos EUA levantaram o alerta de que o país deveria e preparar porque tem três meses para se prepararem para uma eventual segunda onda. E não vai ser a última também. Esse vírus parece ser bem resiliente. Ele está se espalhando numa proporção muito grande e tem toda a chance de permanecer conosco durante muito tempo.

(...)

Até que ponto a crise política brasileira interfere no combate aos coronavírus e o que é mais prejudicial hoje no Brasil ao enfrentamento da pandemia?  

Posso começar pela segunda parte? O mais prejudicial é a completa falta de uma coordenação nacional. Falta de um plano estratégico, falta de um reconhecimento da gravidade da situação, falta de empatia humana com as vítimas e as pessoas que estão passando necessidade, à beira da falência, à beira da fome e da completa falta de condições de sobreviver. 

E faltam insumos, equipamentos, financiamentos, testes que não foram providenciados de forma adequada pelo governo federal porque, primeiro, não acreditou na gravidade, não se preparou e não entregou.

É uma inépcia completa. Se eu tivesse um mapa de risco da inépcia em vez do mapa de risco do coronavírus, o mapa seria totalmente vermelho. Quando a gente começou, a mensagem do comitê foi muito simples: isto é uma guerra. 

Clique AQUI para acessar a íntegra da matéria e ler a entrevista completa. 

Imagem: reprodução

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