quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A mensagem da cúpula militar aos ministros do STF e ao país. Por Jeferson Miola

Texto originalmente publicado por Jeferson Miola, em seu blog: num gesto dispensável, decerto concebido para ser de cortesia e de ingênuo sinal de distensão, os ministros do STF Edson Fachin e Alexandre de Moraes visitaram Bolsonaro para convidá-lo à cerimônia de posse de ambos no Tribunal Superior Eleitoral [TSE].
www.seuguara.com.br/governo Bolsonaro/militares/STF/

O convite poderia ter tramitado protocolarmente entre as equipes cerimoniais do Planalto e do TSE, mas os ministros decidiram se predispor a riscos. Mesmo sabendo que o anfitrião tem como estratégia gerar tumulto e caos permanente intimidando o STF e ameaçando desacatar a derrota na eleição de outubro [aqui e aqui]. 


Fachin e Moraes sabiam que se encontrariam com quem, muito recentemente, e no gozo da mais absoluta impunidade, xingou Moraes de canalha e otário. A respeito de Moraes, aliás, há pouco tempo Bolsonaro chegou a ameaçar: "ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair".


Na visita de cortesia dos ministros do STF, Bolsonaro fez a descortesia de estar acompanhado da "junta militar" de governo. Mais precisamente, do comitê central do partida militar.


Nos cerca de 9 minutos de duração da audiência, além de alguns bajuladores contumazes, Bolsonaro esteve acompanhado da cúpula das Forças Armadas e do general-ministro da Defesa Braga Neto - aquele que ameaçou que "se não houver voto impresso e auditável em 2022, não haverá eleições".

Braga Neto, como mostra a pornográfica liberdade que este conspirador ainda desfruta, a despeito dos atentados perpetrados contra o Estado de Direito, é beneficiário deste ambiente em que "as instituções funcionam normalmente".


Não há absolutamente nenhuma razão formal e institucional - e, menos ainda, desculpas de atropelo da agenda de um presidente vagabundo, que passa a maior parte do tempo fazendo arruaças -, que possa justificar a presença da cúpula do partido dos generais neste encontro com as autoridades civis responsáveis pelo momento maior da soberania popular, que é a eleição.


Este acontecimento institucional tem múltiplos significados. Nenhum desses sinais, lamentavelmente, parece ser alvissareiro para a democracia.

É preciso reconhecer, em primeiro lugar, que foi um gesto ostensivo de afronta da cúpula militar, que é hoje uma estrutura altamente partidarizada, ao poder civil.


Em segundo lugar, deve-se observar a presunção da cúpula militar em tutelar a democracia, em se apresentar como um espécie de garante politico. Não por acaso, fizeram vazar que, "no encontro, os comandantes militares reiteraram compromisso em garantir a segurança das eleições".

É de se desconfiar que em nome deste simulacro de "garantia", o partido dos generais tenha deliberado escalar o general Fernando Azevedo e Silva para a direção-geral do TSE para... cuidar [sic] da eleições...


E, por falar no general Fernando Azevedo e Silva, é preciso recordar que em 2020 ele sobrevoou de helicóptero a Esplanada com Bolsonaro durante os atos que pediam o fechamento do STF e do Congresso. Como ministro da Defesa, Azevedo e Silva escreveu a ordem do dia de 31 de março dizendo que "1964 foi um marco da democracia" [sic].


Foi este general, subitamente e surpreendentemente convertido à democracia, que acompanhou o périplo de Fachin nos encontros com os presidentes da Câmara e do Senado.

Não por acaso foram divulgados registros fotográficos dos encontros dos ministros do STF com Lira e Pacheco. Mas não foi publicada, contudo, nenhuma fotografia do encontro "sob continência" no Planalto.


A ausência do general Azevedo e Silva no encontro dos ministros do STF com o partido dos generais foi decidida para evitar [falsos?] constrangimentos, ou foi uma jogada ensaiada dos próprios militares? Esta pergunta é pertinente, porque os militares sã super especializados na arte dos simulacros, das dissimulações e das falsas dissidências [aqui].


De qualquer modo, não deixa de ser irônico Fachin de Moraes terem levado o general Fernando Azevedo e Silva a tiracolo no encontro com Lira e Pacheco, mas não o encontro com Bolsonaro.

Os ministros da Suprema Corte programaram se reunir com aquele que deveria expressar a chefia do poder civil, o presidente da República, mas foram recebidos pelo comando militar.


Mas, por outro lado, quando se reuniram com os representantes do poder civil, os ministros da Suprema Corte levaram a tiracolo um general do Exército!  E não se trata de um general qualquer, mas de um general do Exército que teve papel central na conspiração que alçou Bolsonaro ao poder. Como se percebe, uma ironia e tanto.


Isso é revelador da tragédia política e institucional do Brasil. A cúpula das Forças Armadas, que atua como um comando partidário, está disposta e empenhada em aprofundar a guerra contra a democracia.


Esta é a mensagem que ele mandam ao poder civil e ao país por meio da simbologia do encontro com Fachin e Moraes no gabinete do presidente de direito do Brasil, mas não de fato. 


Imagem: reprodução/Foto: Adriano Machado/Reuters


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