O Efeito Ciro no segundo turno. Por Rudá Ricci

Por Rudá Ricci*: Uma das novidades que a última pesquisa Datafolha trouxe foi o "Efeito Ciro" neste final de campanha. Em três semanas, o Brasil estará se preparando para sair de casa e escolher nosso próximo Presidente da República. Se o que ocorreu nas últimas três semanas se repetir, Lula se manterá à frente com 45% da intenção de voto e Bolsonaro oscilará ao redor de 37%.

Ocorre que eleição não é assim tão linear e os votos para Bolsonaro crescer (está com 34% das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha), precisará tirar votos de algum lugar. Que lugar seria esse?

Uma possibilidade seria capturar os indecisos. Acontece que Chico Meira, da Voz Populi, sustenta que não haverá mudança significativa no total de indecisos daqui por diante, justamente porque atingiu o patamar histórico das abstenções em eleições presidenciais.

Com efeito, se analisarmos a série histórica dos indecisos desde 1989, perceberemos que nunca houve um número tão baixo como agora.

Há outra novidade. Nunca, faltando três semanas para o pleito, tivemos tantos eleitores decididos: 77% já cravam seu voto em um candidato.

Se não são os indecisos que podem dar votos para Bolsonaro, então são os eleitores volúveis de algum candidato. E é aí que aparece Ciro Gomes. Em julho, a pesquisa BTG/FSB já apontava que o eleitorado do candidato pedetista era o mais volátil de todos candidatos à presidência: 60% admitiam mudar seu voto. Em 31 de agosto, a pesquisa Genial/Quest revelava que 48% dos eleitores de Ciro Gomes desejavam que ele declarasse apoio à Lula no segundo turno.

Mas aí veio a pesquisa Datafolha de ontem. Reforçou a volatilidade do voto do eleitor de Ciro. Contudo, o número de seus eleitores que têm Bolsonaro como segunda opção de voto cresceu de 24% (pesquisa de 1º de setembro) para 30%. Resumindo: em uma semana, houve uma mudança significativa de seus eleitores que passaram a ser pró-Bolsonaro. 

O que teria ocorrido?

A mudança foi consequência dos discursos cada vez mais à direita do candidato do PDT. Ciro passou a aliar os ataques à Lula e ao PT com declarações, como a defesa do uso de armas entre moradores da Amazônia. Nas redes sociais, assessores diretos de Ciro chegaram a sugerir o adoecimento de Lula.

A guinada de Ciro à direita parece ter se transformado em senha para parte de seu eleitorado volátil.      

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VOTO ÚTIL DERROTA O INÚTIL

— victor. 1️⃣3️⃣ (@viccommie) September 10, 2022

Mas, mais uma vez, política e eleição não são lineares. O que nos faz ter cautela para analisar as tendências das próximas semanas.

O que podemos afirmar é que:

1. Os impactos do "Pacote de Bondades" já ocorreram (e foram muito pequenos)
2. As manifestações de 7 de setembro teriam alimentado a bolha bolsonarista, mas não foram além, como constataram diversos analistas da movimentação nas redes sociais
3. O percentual de indecisos deve se manter estável  

Assim, mudanças devem ocorrer entre eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet. Em especial, eleitores de Ciro que já começaram a abandonar sua candidatura. Assim, a decisão sobre definição desta eleição no primeiro turno está por 2 pontos percentuais. Se o eleitorado de Ciro mantiver a intenção de de voto pró-Lula (33% dos eleitores de Ciro indicam voto em Lula como segunda opção e 30% em Bolsonaro) e decidir migrar nas próximas semanas, Lula vencerá no primeiro turno.

Contudo, a guinada de Ciro à direita está alterando a decisão de seus eleitores sobre volto e Lula ou Bolsonaro num segundo turno. Então, o "Efeito Ciro" será, possivelmente, a principal variável do movimento do eleitorado brasileiro. Desta vez, Ciro Gomes não poderá mais se safar: está sendo diretamente responsável por alimentar o bolsonarismo ou debelá-lo de vez. 

*Rudá Ricci é cientista político formado em Ciências Sociais pela PUC-SP, com mestrado em Ciência Política pela Unicamp. Doutor em Ciências Sociais pela mesma instituição. Presidente do Instituto Cultiva em Minas Gerais.

 

Imagem: reprodução