quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Jorge Messias desmonta bunker bolsonarista e coloca AGU na guerra contra desinformação. Por Leandro Fortes

Publicado por Leandro Fortes, no DCM: A sede da Advocacia Geral da União é um prédio comum, um bloco retangular com acessos laterais para a entrada principal, numa zona recuada do Plano Piloto onde se espremem, à sombra dos monumentos arquitetônicos de Niemeyer, uma meia dúzia de anexos do poder central. Nos quatro anos do governo Bolsonaro, foi convertida em um apêndice das trevas e, de lá, expeliu, do pior das suas entranhas, um ministro do Supremo Tribunal Federal terrivelmente evangélico, André Mendonça Filho. Não sem antes tê-lo conduzido ao Ministério da Justiça, a tempo de permitir a ele participar da cadeia de responsabilidades que levou às crianças yanomami a fome, a dor, a doença e a morte. A chegada de Jorge Messias veio como uma lufada de ar.
www.seuguara.com.br/Jorge Messias/AGU/Advogado-geral da União/

Pernambucano, 42 anos, o novo advogado-geral da União chegou ligeiramente atrasado, pediu desculpas à audiência e foi para a cabeceira da távola da sala de reuniões, no 14º andar do prédio, onde 30 jornalistas e mais uma dúzia de assessores o aguardavam para uma conversa esperada há sete anos. Desde 2016, após o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, a AGU havia se fechado à transparência pública e aos jornalistas, dando sequência ao desfile de nulidades dos governos Michel Temer e Jari Bolsonaro.


Desta feita, na manhã de 25 de janeiro de 2023, os jornalistas não só foram convidados por outro jornalista, o assessor de comunicação Luiz Rabelo, como foram avisados que, dali por diante, as portas estariam abertas para a crítica, o debate e a busca por informação. Claro, é preciso ter nascido anteontem e ter chegado, ontem, a Brasília, para achar que as coisas acontecem assim, mas a disposição do ministro veio acompanhada de notícias de verdade, um item quase revolucionário após tantos anos de mentira institucionalizada.


"A desinformação corrói a confiança da sociedade. A AGU vai virar fiscal de rede social? Jamais", pontuou o ministro. "Nós precisamos ter uma visão estratégica que a nossa atuação precisa ser certeira. Estamos falando da desinformação que coloca em risco o acesso aos serviços públicos. O acesso da sociedade às políticas públicas e que compromete a ordem pública", reforçou Messias, lá pelas tantas, ao explicar, pela enésima vez, o significado e a intenção da Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia.


Imediatamente interpretada como ponto de vulnerabilidade pela nomenclatura da mídia comercial, a PNDD passou a ser tratada como surto autoritário do governo Lula voltado para vigiar, controlar e censurar as redes sociais e meios digitais. Desde que a procuradoria foi anunciada, no primeiro dia do novo mandato petista, os barões da imprensa soltaram os cães de guarda para arregaçar os dentes ao primeiro sinal de menção da ideia. Também tem escalado um batalhão de especialistas, juristas, acadêmicos, jornalistas, escribas e quejandos para apontar o perigo da iniciativa. Felizmente, sem sucesso.


Messias tem se esforçado, dentro de uma estratégia de comunicação permanente, esclarecer que o combate à desinformação ou, para usar o termo corrente, às fake news, precisou ser institucionalizado porque as mentiras produzidas pela máquina de terror digital bolsonarista ameaçam o Estado democrático de direito. Bastou uma semana, aliás, para que o vandalismo verde-amarelo na Praça dos Três Poderes demostrasse a efetividade da tese.


O advogado Marcelo Eugenio Almeida, designado para o cargo, foi apresentado aos jornalistas com a ressalva de que um gurpo de trabalho será formado para se chegar a uma definição jurídica perfeita para o termo "desinformação". Vão participar desse grupo profissionais de imprensa, de agências de checagem, juristas e a comunidade acadêmica. "Vamos responder a esse desafio", avisou Jorge Messias.


A AGU, embora não brilhe na Esplanada dos Ministérios, tem uma vantagem sobre as demais instituições sediadas em Brasília: servidores avançados, simplesmente, em todos os órgãos federais e na maioria das unidades da federação. Essa capilaridade está dando, em muitos sentidos, um poder inaudito de organização e mobilização do Estado, via ação governamental, para reagir à tragédia bolsonarista. A AGU está bloqueando contas, em todo o País, dos envolvidos nos crimes do 8/1 e, agora, prepara-se para se assentar nas freguesias das questões ambiental e indígena, sobretudo, dentro da investigação do genocídio em relação aos yanomami, tocada pela Polícia Federal.


Ironia do destino, pode vir de um Messias de disposição solar a punição do outro, trevoso, escondido, como um rato que é, na periferia da Disney.


Imagem: reprodução/Foto: Renato Menezes/Ascom/AGU


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