domingo, 2 de fevereiro de 2025
sábado, 1 de fevereiro de 2025
Notícias falsas e democracia, por Marcus Pestana
Por Marcus Pestana, colunista do Congresso em Foco: A democracia está em crise? Qual é o papel da desinformação? Há hoje abundante literatura e espaço central para o debate sobre a manipulação da verdade como ferramenta de ação política através das tão propaladas fake news. Mas este é um problema novo? De jeito nenhum. A fofoca, as notícias falsas, as mentiras são presentes na vida pública e privada desde que o mundo é mundo, desde a Grécia Antiga e o Império Romano. E foram eficazes em grandes momentos da História.
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Se liga, 2026 será mais pauleira; bolsonarismo quer vingança, por Marcos Verlaine
Por Marcos Verlaine*, do Diap - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar: Em princípio, a diferença fundamental das eleições de 2026 será apenas o fato de que o nome do ex-presidente não constará na urna eletrônica. E de que não possa votar porque, muito provavelmente, estará preso. De resto, o componente novo é que o pleito será mais pauleira, porque o bolsonarismo que vingança.
Ou seja, os níveis de radicalização e polarização¹ estarão tão ou mais elevados que nas 2 eleições anteriores. Isto porque o bolsonarismo - apelido dado à extrema-direita brasileira - não arrefeceu nem tampouco dá mostras de que recuou. Ao contrário. Sobretudo, se Bolsonaro for preso.
A próxima eleição também vai expor algo que já ocorreu em 2018 e 2022, que é o fato de as democracias liberais serem generosas e contraditórias, com os inimigos do Estado de Direito.
Após a redemocratização, a parir de 1985, essa contradição não estava presente no debate público, já que os candidatos que disputaram os pleitos livres, diretos, secretos e universais não pretendiam "matar" a jovem democracia brasileira nascida com a Nova República e a Constituição de 1988.
Generosidade e contradição
São generosas porque esses regimes políticos permitem que os segmentos que são contraditórios à democracia possam disputar livremente - é o caso do bolsonarismo - e até ganhar e ampliar espaços, a fim de avançar sobre nacos do poder político. Veem a democracia apenas como ferramenta para atingir seus propósitos de obter poder.
São contraditórias, porque permitem que esses segmentos possam ganhar as eleições - de presidente a deputado - e ainda eleger maiorias no Parlamento. E a partir disso atuar, com as ferramentas proporcionais pela democracia, que eles dão de ombro, para miná-la e destruí-la.
Hitler e o partido nazista fizeram isso, quando em 1934, o chefe se tornou o Führer, o líder único da Alemanha.
Projeto bolsonarista
Embora não seja candidato porque está inelegível - em princípio até 2030, mas esse prazo poderá ampliar-se - Bolsonaro será relevante como cabo eleitoral, em todos os níveis do pleito - de presidente a deputado estadual.
Já o foi em 2018, quando o PSL, partido hospedeiro de Bolsonaro, que elegeu apenas 1 deputado em 2014, elegeu 52 em 2028. Em 2028, o PR, que era PL, voltou a ser PL, em 2019, elegeu 33 deputados. Em 2022, o PL, que hospeda o ex-presidente, elegeu 99. No senado, o PL é a segunda bancada, com 14 membros. Atrás do PSD, com 15.
Das 27 cadeiras que estavam em disputa para a Casa em 2022, o PL elegeu 8. Sem contar os bolsonaristas que foram eleitos em outras siglas.
Inclusive, estão organizados, do ponto de vista do projeto eleitoral, para tentar eleger a maioria dos candidatos que disputarão, nos estados, as 2 cadeiras que estarão disponíveis para o Senado. Este é o projeto central do bolsonarismo.
O propósito é criar, tendo maioria, as condições para abrir processos de impedimento de ministros da Corte Suprema. Pauta nada republicana, porque se trata de vingança, já que veem no STF a instituição que, em grande medida, impediu o avanço da espiral neofacista que ganhou musculatura e fôlego após o ascenso do ex-presidente ao Planalto. Algo impensável em anos anteriores.
Este projeto está em curso e extrapola a mera disputa eleitoral. Tem contornos ideológicos. E não encontra contraposição no campo progressista, ao contrário do que apregoam as mídias tradicionais e digitais. Isto é, a polarização existe na sociedade, todavia o governo sob Lula (PT), até pelas características de amplitude política do governo, não aguça os confrontos estimulados pelo bolsonarismo.
Centrão em alta
As eleições de 2026 terão maior protagonismo dos principais partidos que compõem o chamado Centrão - União Brasil, PP, MDB, PSD, Republicanos, Podemos, Avante, PSC, PRD² e Solidariedade³ - que se sobressaiu no pleito municipal de 2024.
O PSD, por exemplo, desbancou o MDB, em relação ao número de prefeitos eleitos. O primeiro elegeu 887 prefeitos, sendo 5 em capitais. O segundo, elegeu 846, sendo 5 em capitais.
Esses resultados refletem, objetivamente, a correlação de forças existente hoje no Congresso Nacional, que está inclusive espelhada nas eleições para presidentes da Câmara e do Senado.
Na primeira Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), e na segunda, o senador Davi Alcolumbre (União-AP), estão virtualmente eleitos para comandar o Poder Legislativo nos próximos 2 anos. Ambos os partidos dos novos líderes são do campo do Centrão.
Progressistas
Em razão de as características das últimas 2 eleições - 2018 e 2022 - a próxima, que deverá seguir a mesma receita, isto é, serão disputadas sob amplas frentes, à direita e à esquerda, incluirei as forças de esquerda e de centro-esquerda na terminologia "progressistas".
Os progressistas estão preocupados com a manutenção da democracia e do Estado de Direito, com a vida digna, a ampliação do emprego e renda, os problemas climáticos, as questões da biodiversidade, questões éticas e tudo o mais que possa permitir que a vida dos cidadãos e cidadãs possa ser mais bem vivida.
Para que não haja retrocessos será preciso disputar as urnas para ganhar, fazer maiorias para ajudar esse campo a governar, em caso de vitória. Em caso de derrota, será preciso eleger bancadas relevantes para exercitar a oposição com força e influência na na sociedade.
As campanhas precisarão mostrar, para convencer, que a extrema-direita nada tem de bom para oferecer à população, em particular, para os segmentos mais pobres. Ao contrário.
Politizar a gestão e o debate público
Cabe ao governo, em particular a Lula, politizar a gestão, a fim de pautar o debate público. E a tarefa cotidiana do campo progressista é politizar, desde já, o debate público. É preciso mostrar e convencer, que as práticas são o melhor critério universal da verdade, para além das retóricas e chamadas narrativas políticas. A fim de dar exemplos de que orientação política pode governar melhor para atender às demandas mais candentes do povo.
O exemplo mais recente de que o fascismo na política e na economia - o neoliberalismo - não são bons para o povo vem dos EEUU, sob Trump e o trumpismo.
No Brasil, relembrar a gestão catastrófica de Bolsonaro - 2019 a 2022 - em todos os setores - da gestão pública à total ausência de políticas públicas para os segmentos mais vulneráveis da sociedade. Não faltam exemplos do que não se deve fazer, na economia, nas relações de trabalho, na política, na ausência total de políticas públicas para melhoria das condições de vida do povo brasileiro.
Violência e outros problemas
Nos estados, há fartos e bons exemplos de como e para quem a extrema-direita governa. Os índices de violência policial aumentaram exponencialmente em São Paulo, sob o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Não esquecer que essa violência atinge, principalmente, os mais vulneráveis socialmente e as periferias dos dos grandes centros urbanos.
É óbvio que esse problema não acomete apenas o estado de São Paulo. Mas na vitrine do Brasil, o estado mais populoso e rico do País, o discurso do governador estimula a violência para enfrentar os problemas na segurança pública. Ele, inclusive, admite o "peso" desse discurso na elevação da violência policial.
Todos no campo progressista precisam se preparar para essa jornada - nos planos político e ideológico - que já está em curso.
(*)Marcos Verlaine é jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap.
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¹ A bem da verdade e do conceito, essa polarização é falsa, já que o governo, Lula e o PT não são o polo oposto ao bosonarismo. O termo foi usado apenas para expressar o confronto e o antagonismo que se dá, desde 2018, entre o principal partido do governo - o PT - o o bolsonarismo.
² Sigla resultante da fusão do Patriota com PTB, autorizada pelo TSE, em novembro de 2023 - https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2023-11/tse-aprova-criacao-do-prd-resultado-de-fusao-entre-ptb-e-patriota- Acesso em 25.01.25.
³ Sigla resultante da incorporação do Pros pelo Solidariedade, deferia pelo TSE, em fevereiro de 2023 - https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Fevereiro/partido-republicano-da-ordem-social-pros-e-incorporado-ao-solidariedade - Acesso em 25.01.25.
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Desesperada, Zambelli faz apelo aos colegas na Câmara após ter mandato cassado
DCM: A deputada federal Carla Zambelli (PL) fez um apelo a colegas parlamentares nesta quinta-feira (30), após o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) cassar seu mandato por 5 votos a 2, sob a acusação de abuso de poder ao divulgar fake news. A ação foi protocolada pela deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Em busca de apoio, Zambelli enviou mensagens pelo WhatsApp a aliados, pedindo que saíssem em sua defesa nas redes sociais para demonstrar que conta com respaldo político, conforme informações do colunista Igor Gadelha, do Metrópoles.
"Infelizmente a votação terminou com somente 2 votos divergentes, com um resultado de 5 x 2 pela cassação do meu mandato e e 8 anos de inegibilidade. Peço que os colegas postem em seu X pra que os jornalistas vejam o apoio dos amigos. Foi um julgamento político e não jurídico no TRE-SP com o inclusão de fatos alheios ao processo", escreveu a deputada em um grupo de WhatsApp com outros parlamentares.
A bolsonarista anunciou que vai recorrer da decisão do TRE-SP, mas alertou sobre as consequências de uma eventual derrota judicial, destacando que, caso perca o mandato, sua vaga será ocupada por um parlamentar do PSOL. "Em caso de perda final, minha vaga vai para o PSOL e ainda perdemos mais 2 a 3 deputados de SP, afirmou.
— Carla Zambelli (@Zambelli2210) January 30, 2025
Zambelli enfrenta acusações e polêmicas nos últimos anos, mas se mantém protegida pelo foro privilegiado. Entre os episódios mais graves está a perseguição armada a Luan Araújo, colunista do DCM, em uma área nobre de São Paulo, na véspera do segundo turno das eleições de 2022.
Nas redes sociais, a bolsonarista mentiu ao alegar que foi agredida. Na realidade, caiu sozinha enquanto discutia com Luan, que lhe disse: "Te amo, espanhola".
Nos vídeos que viralizaram, o jornalista corre em direção a um bar enquanto Zambelli e alguns homens aparecem em seu encalço. Pouco antes, um dos indivíduos que acompanhavam a parlamentar disparou um tiro em sua direção. "A intenção era me matar", disse ele ao UOL na época.
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
São Paulo vence a Portuguesa de virada, com gol nos acréscimos, no Pacaembu
Nazifascismo, trumpismo e cristianismo - isto dá liga?, por Dora Incontri
Por Dora Incontri*, no GGN: É recorrente em meus escritos a análise do contraste entre os ensinos e exemplos de Jesus de Nazaré e as ações e posições de muitos dos que se dizem seu seguidores através da história, sobretudo nos últimos tempos de aliança entre fundamentalismo e extrema direita. Das Cruzadas ao longo período da Inquisição, chegando até o julgamento para o silenciamento de Leonardo Boff, na cadeira em que Giordano Bruno havia sido condenado à morte na fogueira.
Este ato inquisitorial contra Boff foi praticado por Joseph Ratzinger, na época Prefeito da Congregação para Doutrina da Fé (leia-se, remanescente do tribunal da Inquisição). Lembremos que Ratzinger, depois de escolhido como Papa Bento XVI, havia participado da juventude nazista.
Mas o problema é mais profundo. Em 2020, a Conferência dos Bispos Católicos da Alemanha admitiu num documento, que a Igreja Católica teve cumplicidade com o nazismo naquele país. Também a Igreja Luterana alemã foi conivente com o nazismo, chegando no ano 2000 a confessar (e a indenizar as vítimas) que havia sido usado trabalho escravo de judeus. E não se pode esquecer o longo histórico de cristãos perseguindo, expulsando e matando judeus em toda a Europa, de Portugal à Rússia, desde a Idade Média até a tragédia do holocausto, que relembramos por esses dias. E no caso dos luteranos, há fortes passagens antissemitas nos próprios escritos de Lutero.
Poderia preencher páginas e páginas do quanto de violência, perseguição e morte houve no desenrolar da história de cristãos contra judeus, ciganos, homossexuais, mulheres (que eram consideradas bruxas) etc. etc. Usou-se, não com pouca frequência, uma mensagem de amor, compaixão, acolhimento e paz para opressão e destruição.
O que causa angústia é que tudo isso não é coisa do passado, superada pelo avanço civilizatório e pelo pensamento crítico e emancipatório, que vem sendo construído desde o Iluminismo, atravessando os movimentos socialista e anarquista e pelas lutas pelos Direitos Humanos. Estamos de novo mergulhados numa distopia de que temos já visto as cenas mais intensas nesses primeiros dias do governo do inominável dos EUA: gente algemada, crianças sendo expulsas das escolas, manifestações livres de suprematistas brancos e o desmonte de qualquer mínima política pública humanitária, de respeito à diversidade e de justiça social (política que sempre foi mínima nos EUA). E há toda uma narrativa da Teologia de domínio que já estava há décadas preparando o terreno para essa ascensão da extrema direita e agora apoia plenamente a barbárie.
É certo que há resistência, como a corajosa fala da bispa Mariann Edgar Budde, que depois de se dirigir cara a acara ao recém-empossado presidente ainda se negou a pedir desculpas. Como houve cem anos atrás inúmeras resistências entre religiosos. Basta lembrar de Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo luterano que se opôs ao nazismo e morreu em 1945 num campo de concentração. E para citar um herói do campo católico, o frei franciscano Maximiliano Kolbe, também assassinado num campo de horrores.
Em todos os tempos, houve cristãos que entenderam e seguiram a mensagem de Jesus, que é insofismavelmente de amor, fraternidade, compaixão e justiça.
E hoje, tempos o peculiar fenômeno de ateus, que se opõem ao avanço da extrema direita, amparada pelo fundamentalismo cristão, e que fazem questão de lembrar o tempo todo que as palavras de Jesus não se encaixam numa visão de mundo antipobres, anti-imigrantes, anti-LGBTQIAPN+, anti-humanidade... Só por esses dias, vi dois ateus confessos, por acaso dois Leandros, proclamando tais obviedades: Karnal e Demori.
A questão é que o fundamentalismo cristão (principalmente o evangélico) é um projeto muito bem articulado, que partiu dos EUA e se impregnou na cultura brasileira, cooptando o povo, que não tem educação política, mas carrega muitas necessidades de integração social, de acolhimento psíquico, de convivência comunitária... E, por tradição no Brasil, o nome de Jesus é muito atrativo. E é em nome dele, mas um Jesus-fake, envolto muito mais numa bíblia do Velho Testamento, do que no frescor amoroso dos Evangelhos, que se conquista as massa, para manipulá-las em favor dos "valores cristãos".
Esses supostos valores cristãos nada mais são do que uma agenda de repressão sexual, de patriarcado violento, de neoliberalismo submisso ao mercado e predatório do ser humano e da natureza, de discursos anticientíficos e altamente obscurantistas. E tudo isso acompanhado de projetos de instalação de governos totalitários, como os golpistas queriam estabelecer no Brasil e como o trumpismo está se inaugurando como tal nos EUA.
É preciso desmascarar um cristianismo que é anti-Cristo e fazer valer os verdadeiros valores cristãos, que jamais poderiam compactuar com qualquer forma de exploração, opressão e violência contra a humanidade. Acordemos!
*Dora Incontri - Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Mestre e doutora em História e Filosofia da Educação pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP. Coordenadora geral da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e do Pampédia Educação. Diretora da Editora Comenius. Coordena a Universidade Livre Pamédia. Mais de trinta livros publicados com o tema educação, espiritualidade, filosofia e espiritismo, pela Editora Comenius, Ática, Scipione, entre outros.
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Igrejas evangélicas dos EUA esvaziam com deportações de Trump e pastores se desesperam
Diário do Centro do Mundo: A onda de medidas rigorosas de deportação e operações para capturar imigrantes irregulares nos EUA tem gerado um impacto visível em espaços centrais para a comunidade brasileira, com destaque para o esvaziamento progressivo de igrejas evangélicas.
Relatos ouvidos pela BBC News Brasil revelam que fiéis estão evitando cultos por medo de serem detidos, mesmo em ambientes tradicionalmente considerados seguros.
"Os cultos estão bem mais vazios. As pessoas estão com medo até de ir para a igreja", afirma uma estudante brasileira em uma cidade americana com alta concentração de imigrantes do Brasil.
O temor aumentou após a administração Trump autorizar, em janeiro, a detenção de imigrantes em locais como igrejas, escolas e clínicas. A medida, parte de 21 ações executivas para endurecer a imigração, ampliou a atuação de agente federais, incluindo operações em áreas antes vistas como refúgios.
Em Nova York, uma igreja chegou a colar um aviso na porta alertando que o Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) só pode entrar no local com autorização judicial. A ação simboliza a tensão que permeia esses espaços. Fernanda, que frequenta uma igreja em Massachusetts, conta que até ela reduziu a presença nos cultos: "A gente nunca sabe o que pode acontecer".
O clima de apreensão é alimentado por relatos de deportações de imigrantes sem antecedentes criminais, contrariando o discurso oficial de que o foco são "criminosos". Rafael, evangélico sem documentos na Flórida, revelou que sua advogada orientou evitar não apenas mercados e festas, mas até aglomerações religiosas: "O medo aumentou, mas seja feita a vontade de Deus", resigna-se.
Embora o governo afirme priorizar deportações de pessoas com crimes graves, a definição ampla de "criminoso" - incluindo quem violou leis migratórias - e a prática de detenções em massa em residências ou locais públicos geram o chamado "dano colateral".
Dinorah, da Carolina do Norte, resume: "Se você estiver perto de alguém com problemas, vai ser levado junto".
Pastores também sentem o impacto. Um líder de igreja em Orlando, que preferiu anonimato, admitiu que o fluxo de fiéis diminuiu e reforçou que a comunidade não incentiva imigração irregular. "Não oferecemos auxílio jurídico a quem está legal", disse, em um sinal de como o tema se tornou tabu até em espaços religiosos.
Além de evitar igrejas, brasileiros relatam isolamento social. Junior Pena, influenciador com milhares de seguidores, orienta: "Andamos pisando em ovos". Ele cancelou uma viagem ao Alasca por medo de voos domésticos, enquanto outros evitam até supermercados étnicos.
Para Fernanda, o fenômeno nas igrejas evangélicas é sintomático: "O templo está mais vazio, e isso reflete o desespero de quem vive na sombra". Enquanto a Casa Branca defende suas políticas como "proteção nacional", a comunidade brasileira enfrenta uma realidade onde até a fé é abalada pelo medo de estar "no lugar errado, na hora errada".
Um vídeo está circulando pelas redes sociais, onde uma jovem brasileira que atualmente vive nos EUA mostra o momento em que a polícia chega na casa de seus vizinhos imigrantes para levá-los à deportação.
— Porto Alegre 24 Horas (@portoalegre24h) January 28, 2025
Nos comentários, feitos na rede social TikTok, diversas pessoas afirmaram… pic.twitter.com/AtQrloFK0E
Em suas redes sociais, o Pastor Silas Malafaia, líder da ADVEC, abordou o tema dizendo que ele "concorda em parte" com as medidas de Trump.
"Deportar gente que tem ficha criminal está certo", diz o extremista religioso, que entretanto cita versículos bíblicos para fundamentar que os "estrangeiros trabalhadores" não deveriam ser atingidos com a política de imigração do republicano.
A diferença entre o imigrante trabalhador e o criminoso. Concordo em parte com o Trump pic.twitter.com/kgErtzDrT4
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) January 28, 2025
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Trump diz que Brasil está entre os países que querem mal aos EUA e cobram muita tarifa
ICL/Notícias: O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a mencionar o Brasil nesta segunda-feira (27) entre os governos que "taxam demais". Ele também incluiu o país no grupo dos que "querem mal" aos EUA, durante um discurso a correligionários na Flórida.
"Coloque tarifas em países e pessoas estrangeiras que realmente nos querem mal", disse Trump. "A China é um grande criador de tarifas. Índia, Brasil, tantos, tantos países. Então, não vamos deixar isso acontecer mais, porque vamos colocar a América em primeiro lugar, sempre colocar a América em primeiro lugar", afirmou.
O presidente fez a declaração ao defender que é preciso taxar produtos estrangeiros para favorecer a produção interna norte-americana.
Ele já havia citado o Brasil em novembro, após ser eleito, como exemplo de país com excesso de tarifas alfandegárias sobre produtos americanos e disse que vai impor um tratamento semelhante às exportações estrangeiras.
Trump fala em tratamento "recíproco"
"Nós vamos tratar as pessoas de forma muito justa, mas a palavra 'recíproco' é importante. A Índia cobra muito, o Brasil cobra muito. Se eles querem nos cobrar, tudo bem, mas vamos cobrar a mesma coisa", disse Trump à época durante entrevista coletiva realizada em Mar-A-Lago, em Palm Beach, na Flórida.
Trump repetiu nesta segunda que "tarifa" está entre as quatro palavras das quais hoje ele mais gosta. Antes de mencionar o Brasil, ele citou o atrito que teve com a Colômbia neste domingo (26). O país sul-americano inicialmente se recusou a receber voos com imigrantes deportados.
O presidente dos EUA reagiu e ameaçou colocar uma tarifa alfandegária de 25% em cima dos produtos bolivianos. Mais Tarde, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, recuou e aceitou receber os aviões, levando Trump recuar na promessa de sanção.
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[Leia também: "Nós não precisamos deles", declara Trump sobre o Brasil e América Latina]
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terça-feira, 28 de janeiro de 2025
Extrema-direita ganha espaço com volta das ideologias fascistas
Por Milleny Ferreira, no GGN: - No aniversário da libertação de Auschwitz, mundo não pode ignorar a extrema-direita atual - Um artigo de opinião publicado nesta segunda (27) por AL Jazeera traça um paralelo entre a ideologia fascista dos nazistas e da extrema-direita europeia, que trocou de "inimigo": antes, os judeus; agora, os muçulmanos e os imigrantes. O artigo ocorre por ocasião do Dia Internacional da Memória do Holocausto, data firmada pelas Nações Unidas em 2005.
Há exatos 80 anos, o maior campo de concentração e extermínio de judeus era encerrado. O Auschwitz-Birkenau aprisionou cerca de 1,3 milhão de pessoas entre os anos de 1940 e 1945, e pelo menos 1,1 milhão delas foram exterminadas.
Enquanto a Europa celebra oito décadas desde o fim do Holocausto, líderes políticos voltam a ressaltar a importância de combater o ódio e lembrar da "ruptura civilizatória" que o genocídio representou.
No entanto, a ascensão de partidos e movimentos de extrema-direita, por todo o continente, coloca em risco este compromisso principalmente com os novos representantes dessas ideologias fascistas.
Embora muitos desses partidos homenageiem as vítimas do Holocausto e afirmem combater o antissemitismo, suas ações falam mais alto. Em vez de abandonar seu passado fascista, essas forças políticas se adaptaram e continuaram a propagar ideias perigosas de supremacia branca e ódio, agora com um foco crescente na islamofobia, podendo ser considerados como os "herdeiros nazistas".
Por décadas, a extrema direita na Europa foi marcada por uma retórica abertamente antissemita, com figuras como Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional, e Jörg Haider, do Partido da Liberdade, desafiaram o consenso pós-guerra.
Contudo, nos últimos anos, com a "guerra ao terror" e o medo crescente do islamismo, a medida foi direcionada contra os muçulmanos. Ao mesmo tempo, o apoio a Israel aumentou, melhorando a negação do direito de existência do país pela negação do direito de um estado palestino.
Essa mudança de foco, que encontrou o antissemitismo por islamofobia, provou ser bem sucedida, por volta de 2022, ano também em que o líder do partido pós-fascista Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, tornou-se primeiro-ministro, e em 2023, o partido de Geert Wilders, na Holanda, foi o mais votado.
Em 2024, a extrema direita participou de grandes vitórias sendo muito significativas em Portugal, França e outros países, com a Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Partido da Liberdade da Áustria também avançando. Esse crescimento está diretamente relacionado ao fracasso dos partidos tradicionais em lidar com questões como a imigração e a islamofobia.
Ao adotar políticas semelhantes às de extrema direita, os partidos de centro ajudam a legitimar essas ideias. Ao mesmo tempo, a incapacidade da esquerda de oferecer alternativas eficazes ao crescente descontentamento social e econômico permitiu que a extrema direita se apresentasse como uma solução para esses problemas.
O mais alarmante é a normalização dessas ideologias nos dias de hoje, já que a extrema direita participa de coalizões governamentais em vários países, e suas ideias radicais, como a "remigração" ou manifestações agressivas de figuras públicas, já não são mais escondidas.
O retorno da extrema direita reflete as mesmas ideologias que geraram o Holocausto. A troca de um inimigo - os judeus - por um novo inimigo, os muçulmanos, ou os imigrantes, e a defesa da supremacia branca, são facetas da mesma ameaça.
Além disso, a negação do genocídio palestino e o apoio ao massacre em Gaza por parte de alguns líderes europeus reforçam a continuidade de uma mentalidade que não só ignora as lições do passado, mas também coloca em risco o futuro.
Neste cenário, as declarações feitas sobre a libertação de Auschwitz são vazias. O ressurgimento da extrema direita e suas políticas de ódio e racismo deixam claro que o "nunca mais" nunca foi garantido.
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