quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Collor x Lula - 22 anos depois, Boni revela verdade sobre debate

Em entrevista ao programa Globo News Bastidores, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, principal executivo da Rede Globo à época da campanha presidencial de 1989, disse  ao jornalista Geneton Moraes Neto, que ajudou Collor contra Lula no segundo debate daquela eleição. A revelação de Boni irritou o ex-presidente e surpreendeu o atual diretor da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, que rebateram as declarações.
Abaixo, o momento em que é revelado a manipulação do debate em benefício de Collor de Mello.


Geneton Moraes Neto - Você, como grande nome da TV, chegou a ser procurado por algum candidato na primeira eleição direta para presidente depois do fim do regime militar? Que conselho objetivo você deu?

Boni - Nós fomos procurados pela assessoria do Collor. O Miguel Pires Gonçalves (superintendente executivo da Globo) é que pediu que eu desse alguns palpites. E eu achei que a briga do Collor com Lula nos debates estava desigual, porque Lula era o povo e o Collor era a autoridade. Então nós conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma glicerinazinha e colocamos as pastas todas que estavam ali, com supostas deníncias contra o Lula. Mas as pastas estavam inteiramente vazias ou com papeis em branco. Foi uma maneira de melhorar a postura do Collor junto ao espectador, para ficar em pé de igualdade com a popularidade do Lula. O suor de Collor no debate, então, foi produzido? Todo aquele debate foi. Não o conteúdo. O conteúdo era do Collor mesmo. Mas a parte, vamos dizer assim, formal nós é que fizemos. Eu me lembrei do Jânio (Quadros). Só não botei uma caspinha no Collor porque ele não aceitou. 






A entrevista faz parte da série Dossiê Globo News, comandada pelo jornalista Geneton Moraes Neto, da Globo News.   

A reação de Collor, por e-mail:

"Nunca pedi a ninguém para falar com o Boni. Meu contato era direto com o dr. Roberto (Marinho). Portanto, não houve assessor nem intermediário para falar com ele. Mentira. Nunca tirei a gravata nos debates. Mentira. Suor durante os debates -  Nem natural nem aspergido pelo Boni. Glicerina - Mais uma viajada na maionese. Mentira. Debate produzido - Um foi na Manchete e o segundo foi na Band. Mentira. Pastas vazias - Ao contrário, cheias de papeis, gráficos, números da economia, que sequer utilizei. Mentira. Resumo, o Boni despirocou".

Alguns trechos da reação de Ali Kamel:

"A afirmação de Boni só pode surpreender a quem não acompanha de perto a história da Globo. No livro Notícias do Planalto (1999), de Mario Sergio Conti, há referências minuciosas ao episódio. De lá para cá, Boni voltou ao tema algumas vezes, a ultima delas, creio, em entrevista à revista Imprensa, de 01/09/2010, quando disse - Houve o debate no qual eu, de certa maneira, participei. O Miguel Pires Gonçalves e a Zélia Cardoso de Mello pediram para que eu desse uma mão para o Collor. E eu dei umas dicas a ele, como se vestir mal para não ficar engomadinho, dicas em relação às pastas de informações que tinham que conter nos debates. Foi, portanto, uma iniciativa do Boni, como cidadão, mesmo que como o consentimento de Roberto Marinho. Com segurança, que, se o episódio era factível no contexto histórico da época, hoje ele seria de todo impossível". (A íntegra da resposta de Kamel, foi publicado por Nelson de Sá da Folha de São Paulo).

Os dois debates entre Collor e Lula, à época, foram transmitidos ao mesmo tempo pelas principais emissoras de TV: Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT. No dia seguinte, a Globo levou ao ar duas versões diferentes do último debate. A primeira no Jornal Hoje, e a segunda no Jornal Nacional. As duas foram questionadas. A primeira por apresentar um equilíbrio que não houve, e a segunda por privilegiar o desempenho de Collor. A Globo foi acusada de ter favorecido o então candidato do PRN, tanto no tempo dado a cada candidato quanto na seleção dos melhores momentos levados ao ar no Jornal nacional. O fato provocou o maior "disse me disse" entre os diretores de jornalismo e editores da Globo. Mais tarde, o candidato que a emissora apoiou sofreria o impeachment. E o que prejudicou, governou por 8 anos e terminou o mandato com 87% de aprovação popular.  

Boni, com 76 anos, atualmente é dono da TV Vanguarda, no interior de São Paulo, afiliada à Globo. Entre 1980 e 1990, era o grande chefe da Vênus platinada. Decidia o que ia para o ar que o que não ia. Apelidado "o todo-poderoso", mandava prender e mandava soltar. Na última Terça-feira (29), lançou seu primeiro livro: "O Livro do Boni". Nele, Boni não menciona a briga que teve com o Jô Soares (hoje um dos profissionais mais caros da Globo), quando o humorista saiu da emissora para o SBT. "Fiquei magoadíssimo com o Jô. Me senti traído. Gritei, fiz ameaças" - escreveu Boni. Na entrevista à Globo News, ao ser questionado sobre a briga, disse que hoje são bons amigos. Mas, na entrevista que concedeu ao próprio Jô em seu último programa na última Segunda (28) não se tocou no assunto.
Ao receber o troféu Imprensa do SBT, na época, Jô Soares respondeu ao ex-diretor global. - "Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais sob a ameaça que estes lá não serão mais veiculados"- disse Jô Soares por ocasião da premiação.
O documentário "Brasil: Beyond Citizen Kane" (Muito Além do Cidadão Kane), mesmo proibido de passar na TV de canal aberto, comprova o monopólio da comunicação exercido pela Rede Globo, na década de 80 no Brasil. Além de ser um dos primeiros a revelar  a influência da emissora nas eleições de 1989. O documentário ficou conhecido através de reproduções divulgadas por movimentos sindicais e populares, foi produzido por Simon Hartog, em 1993, para o Canal 4 da BBC. 
  Durante seus oito anos de governo, o então candidato, preterido pela Globo quando concorria à presidência, continuou tendo que conviver com a predileção da emissora pelo candidato de oposição. Foi assim quando tentou a reeleição, e durante a campanha de sua sucessora, Dilma Roussef, a atual presidente. Ambos, Dilma e Lula, sofreram com uma campanha marcada pela agressividade e manipulação conduzida pela emissora, de modo a favorecer ao outro candidato. Não só por ela, mas também de outros importantes meios de comunicação.    Trombetear aos quatro ventos, escândalos de corrupção advindos de dentro do atual governo tornou-se ato primordial da Organização, enquanto trata com displicência conveniente atos criminosos igualmente praticados pela oposição, muitas vezes em conjunto com o setor privado. Sistematicamente assume postura de partido político, abdicando do dever de informar.  Não estou afirmando que tenha abandonado em definitivo, mas vem relegando à segundo plano o verdadeiro objetivo de sua existência, que é a busca da verdade, e divulgá-la com justiça e imparcialidade.  Nenhum  cidadão em sã consciência é conivente com a corrupção, exista ela onde existir. Muito menos os meios de comunicação que tem o dever de denunciar, e deve respeito  público. Se necessário for, buscar o que foi para baixo do tapete, doa a quem doer. Como fez agora, o "ex-todo poderoso" da poderosa Globo, José Bonifàcio de Oliveira Sobrinho, o famoso Boni.    



Fonte: Paraná On-line
Imagem reprodução: Antonio Lassance.

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