segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O "acordo" de Veja com Valério, a farsa contra Lula, e a fala de Collor de Mello sobre a revista

 Brasil 247 
Diretor de Veja revela "acordo" com Valério e farsa contra Lula - Em entrevista ao O Globo, Eurípedes Alcântara, que comanda a publicação de Roberto Civita, disse ter feito acordo com Marcos Valério e que, por isso, não apresentou as provas da “entrevista” que o empresário teria concedido à revista, afirmando que Lula seria o “chefe do mensalão” denunciado por Roberto Gurgel. Eurípedes, no entanto, diz que ainda pode vir a apresentar suas provas, numa ameaça velada ao ex-presidente.
Como foi dito aqui, era (e ainda é) apenas um blefe. Veja joga truco com a democracia, mas não tem o zap.

Em sua edição 2287, de 19 de setembro de 2012, Veja vendeu ao público uma entrevista com Marcos Valério, anunciada por seus blogueiros como o fato político mais importante desde que Pedro Collor de Mello concedeu entrevista gravada e filmada à revista, em 1992, abrindo o caminho para o impeachment de seu irmão Fernando Collor.
Depois de 20 anos, na entrevista que não houve, Veja colocou as seguintes frases na boca de Marcos Valério, que, supostamente, teria falado a interlocutores próximos:
“Lula era o chefe”.
“Dirceu era o braço direito do Lula, o braço que comandava”.
“O Delúbio dormia no Alvorada. Ele e a mulher dele iam jogar baralho com o Lula à noite”.
“O caixa do PT foi de R$350 milhões”.
“[Depois da descoberta do escândalo], meu contato com o PT era o Paulo Okamotto. O papel dele era tentar me acalmar”.
“O PT me fez de escudo, me usou como boy de luxo. Mas eles se ferraram porque agora vai todo mundo para o ralo”.
“Vão me matar. Tenho de agradecer por estar vivo até hoje”.
Poderia ser um caso apenas de propaganda enganosa, da revista de Roberto Civita contra seus leitores, mas era também uma tentativa preventiva de golpe contra Lula. A mensagem era clara: se Lula ousasse querer voltar a participar de forma mais ativa do jogo político, seria também alvo de uma ação criminal relacionada ao “mensalão”. Portanto, estava em impedimento técnico.
Nos meios de comunicação, Ricardo Noblat, de O Globo, foi o primeiro a falar na existência de fitas não publicadas, em razão de um acordo de Veja com Marcos Valério. Depois, José Roberto Guzzo, membro do Conselho Editorial da Abril, também argumentou numa de suas colunas que Lula tinha medo de que as “gravações” aparecessem.
Sem comentar o assunto, o ex-presidente recebeu uma nota em solidariedade assinada por presidentes de seis partidos políticos, denunciando a iniciativa golpista.
Aqui, no 247, desde o início da história, argumentamos que Veja não tinha fita alguma e que apenas blefava em relação a Lula. Jogava truco, brincando com instituições democráticas, sem ter a carta forte, o zap, ou seja, as fitas.
No sábado, dia 27, o jornalista Eurípedes Alcântara, diretor de Veja, pela primeira vez falou abertamente sobre o tema, em entrevista ao jornal O Globo. E o conteúdo é estarrecedor. Eurípedes disse que Veja fez um acordo com Marcos Valério, que acaba de ser condenado a mais de 40 anos de prisão. E que por isso não apresenta suas evidências – que já não são mais gravadas ou filmadas.
“Temos as provas necessárias para demonstrar que as afirmações são o que no STF se chamaria de ‘verbis’, ou seja, transcrições ao pé da letra do que ele disse. Marcos Valério decide se as provas serão divulgadas, apenas porque nossa combinação com ele foi a de que se ele desmentisse a reportagem estaria quebrando o que foi acordado e, assim, ficaríamos dispensados de cumprir nossa parte”, disse Eurípedes, por e-mail, ao Globo.
E inacreditável, mas Eurípedes tenta convencer o Brasil do seguinte: por uma questão de honra, um acordo no fio do bigode com Valério (condenado a 40 anos de prisão), Veja não irá apresentar as provas que diz ter contra Lula – um personagem a quem a revista já deu provas continuadas de seu apreço.
Eurípedes, no entanto, aponta razões éticas para não quebrar seu acordo com Marcos Valério.
“O fato de um indivíduo estar condenado não dá direito ao jornalista de, aproveitando-se de fragilidade inerente a sua situação, abusar de sua confiança. Pessoa nessa situação merece a mesma consideração ética e humana que ele dispensaria a celebridade ou autoridade no auge da fama ao poder.”
O diretor de Veja, no entanto, mantém a ameaça a Lula e diz que as provas ainda podem vir a aparecer no futuro – caso seja necessário.
Assim como lá atrás, a revista continua blefando. A “entrevista” de Valério, um golpe contra os leitores, era e continua sendo uma farsa.

Complementando. 

O senador Fernando Collor de Mello, primeiro presidente do Brasil a sofrer um processo de impedimento, fracassou em dois planos econômicos para tentar salvar a economia do país, chamados Plano Collor 1 e Plano Collor 2. Em um deles, não me recordo no momento em qual deles, confiscou os depósitos em caderneta de poupança efetuados por pessoas físicas e jurídicas, acima de um determinado valor limite. A medida permitiu que ficassem de fora, pequenos poupadores e aposentados. Depois vieram as medidas corretoras, permitindo que os depositantes fossem paulatinamente resgatando o dinheiro que ficou retido. No entanto, esta medida fez com que a população desejasse a cabeça do ex-presidente em uma bandeja.  Foi perdendo popularidade e ganhando pressões da mídia e da oposição (incluida a revista Veja, que tanto lhe ajudou a chegar a presidência, quanto contribuiu depois para derrubá-lo), até a sua inevitável renuncia.

Collor desapareceu por algum tempo do cenário político brasileiro. Foi gozar de sua fortuna em algum lugar no exterior. Foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal. Voltou. Tentando sempre se defender das acusações que lhe eram atribuídas naquela ocasião costumava dizer, o tempo é senhor da razão. Em que pese toda sua rejeição popular, de certa forma, há quem afirme que as medidas duras e impopulares tomadas durante o seu Governo contribuiram para aplainar o caminho para sucesso do Plano Real, que viria a seguir. Hoje, o senador Collor é uma das figuras mais respeitadas (temidas) no Congresso Nacional.  Talvez, por saber demais.

Veja o depoimento de Collor de Mello na CPI do Cachoeira, sobre a revista Veja.




Via: limpinho&cheiroso
Imagem: reprodução/247


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