quarta-feira, 25 de março de 2015

Marconi Perillo: prática da política por conveniência ou racionalidade política?

Recentemente, quando a presidente Dilma Rousseff (PT) esteve em Goiás, em evento da construção civil, e em Anápolis, para entregar as obras da Ferrovia Norte-Sul, esteve com o governador do Estado, Marconi Perillo (PSDB). Antes crítico ferrenho do governo federal, exclusivamente ao anterior de Lula, Perillo desmanchou-se em elogios e agradecimentos à presidente. A atitude dúbia do governador tucano, ligado ao principal partido de oposição ao governo, foi assunto no meio político e em vários jornais do país.
A jornalista Fabiana Pulcineli, do jornal “O Popular”, escreveu uma reportagem sobre o fato. No texto, ela cita o Lula. E disse, que o ex-presidente criticava essa suposta dubiedade do governador. Posteriormente, o governador rebateu a matéria - “ a relação institucional, republicana e democrática que mantenho com a presidente da República em nada se compara ao relacionamento que tive com o então presidente Lula. 

Como reconheci por diversas vezes publicamente, tenho pela presidente Dilma sentimento de gratidão e reconheço a importância da parceria que estabelecemos entre nossos governos”, disse Perillo.

Através da sua página no twitter, Perillo voltou a defender Dilma Rousseff.

 Marconi Perillo-Dilma Rousseff

A executiva nacional do PSDB ficou cuspindo fogo com o discurso do governador tucano - “É demais! O Marconi escolheu uma péssima hora para corresponder aos que não têm nenhum motivo para confiar nele”, disse um integrante, conforme noticiou o jornalista Josias de Souza em seu blog. 

Marconi Perillo esteve envolvido na CPI do Cachoeira, originária de um dos maiores escândalos de corrupção ocorridos no Brasil, resultado das investigações da Federal nas operações Vegas e Monte Carlo. Um esquema escabroso de sonegação de impostos, lavagem de dinheiro, propinas, tráfico de influências entre poder público e privado. Tinha como mentor principal o bicheiro Carlinhos Cachoeira e envolvia grandes nomes da política, inclusive a revista Veja. Na ocasião, os Petistas caíram em cima do tucano, então apontado como inimigo do governo. Mas para a sorte do governador do PSDB a CPI acabaria dando em nada. Ou melhor, em uma grande pizza como de costume.

Quem sabe, se em sua estratégia política Marconi Perillo esteja equivocado ou agindo corretamente? Por ora, desprezar as questões partidárias com o governo federal e buscar uma parceria democrática  para o desenvolvimento do seu Estado e por conseguinte do próprio país, não seria uma atitude racional e assertiva do governador? Aliás, não seria o que tinha que fazer, também o governador do Estado do Paraná, seu companheiro de partido, Beto Richa, que politicamente se encontra em uma situação difícil de governabilidade. Richa, não deveria igualmente buscar uma solução institucional, livre das divergências partidárias, buscar ajuda para resolver os problemas que afligem os paranaenses?

Porém, o mundo da política sugere a cada momento nuances inesperadas em que a união dos governantes se faz necessária. Bem sabemos que na política ninguém é santo. E fora dela, também é impossível ao cidadão comum adivinhar a verdadeira intenção das pessoas e seus objetivos. Mas, o momento atual de crise econômica e política, além da união é preciso tolerância e bom senso de todos, independentemente das ideologias partidárias. É hora de pensarmos nisso com seriedade. A postura política de Marconi Perillo está errada, ou convenientemente correta, para o momento?     

Segue na íntegra, a matéria da jornalista Fabiana Pulcineli:

Jogada em favor de recursos

Em termos de conteúdo e de tom, o discurso do governador Marconi Perillo (PSDB) em defesa da presidente Dilma Rousseff em evento com a petista em Goiânia, na quinta-feira, difere-se pouco das declarações durante a vinda dela a Goiás em maio do ano passado. O contexto político e o forte clima de animosidade no País é que, claro, mudaram e deram visibilidade nacional às declarações do tucano na semana passada.

Quando esteve em Goiânia, em evento da construção civil, e em Anápolis, para entregar as obras da Ferrovia Norte-Sul, Dilma recebeu até mais elogios e agradecimentos do governador. Vale lembrar os adjetivos que ele atribuiu à presidente: “grande estadista”, “republicana”, “séria”, “íntegra”, “honesta” e “sábia”.

Na ocasião, Marconi elogiou programas da gestão petista, agradeceu a autorização de empréstimos e os benefícios para o Estado e finalizou afirmando ser admirador da presidente, ser “leal e grato” a ela. “A senhora terá para sempre um admirador, um amigo, uma pessoa que reconhecerá os gestos de Vossa Excelência em relação ao meu Estado”, disse.

A 40 dias do início da campanha eleitoral, Marconi acenava à presidente que, afora os embates políticos, queria manter boa relação administrativa com a petista. “Não devo satisfação a ninguém a não ser a minha consciência e ao povo de Goiás”, afirmou, quando o PSDB intensificava a pré-campanha com Aécio Neves na disputa.

A lembrança do evento do ano passado, assim como de outras visitas da presidente a Goiás, é necessária para entender que os elogios do tucano a Dilma não são novidade e têm como foco seu interesse de garantir recursos para o Estado. A liberação de empréstimos de cerca de R$ 8 bilhões para Goiás e a operação de federalização da Celg foram dois pontos fundamentais para que o terceiro mandato de Marconi deslanchasse, superasse gargalos, fizesse alto investimento em infraestrutura e se recuperasse dos desgastes políticos do caso Cachoeira em 2012.

Para este novo mandato, com um déficit bilionário, sem as mesmas perspectivas de empréstimos e ainda em um cenário de crise econômica no País, o Estado precisará ainda mais contar com a boa vontade do Planalto. Assim, é impensável o governador entrar no clima de Fla x Flu estabelecido no País.

A oportunidade de marcar posição contra a intolerância e as “injustiças” em relação à presidente, na primeira viagem dela após as manifestações do dia 15, em uma região em que a petista tem a maior rejeição no País e em um Estado em que ela perdeu as eleições, como única voz da oposição, certamente foi calculada como uma estratégia para ganhar pontos com a presidente. E, claro, ter facilidade de garantir recursos, como pediu para o VLT, uma promessa antiga e que não vai andar sem a contribuição federal.

Tanto no evento de 2014 como na solenidade de quinta-feira, o componente emocional pesa quando se trata de Marconi Perillo. Em Anápolis, o governador também enfrentou vaias e, mesmo ciente da possibilidade de ter de lidar novamente com um ambiente hostil, ele se altera. A ênfase do discurso e os elogios excessivos tem a ver um pouco com isso também.

O PSDB mostrou-se insatisfeito, mas acabará relevando o episódio. Quem falou publicamente sobre o assunto pelo partido, disse que compreende a necessidade de uma relação institucional. E Marconi está correto quando diz que Aécio Neves também mantinha boa relação com o ex-presidente Lula enquanto Marconi fazia oposição no Senado. Em resumo: as insatisfações tucanas não devem ir além de umas bicadas aqui e acolá.

Mão que afaga e apedreja

Que o discurso de Marconi foi positivo para a presidente em meio à crise política, é fato. Mas há dúvidas se a jogada vai render os frutos que o governador espera. A revelação de que, em evento dez dias antes, no Instituto Fernando Henrique Cardoso, o governador fez críticas ao governo e endossou as manifestações; a posição de marconistas contra a gestão petista – enquanto Marconi discursava contra a intolerância, aliados dele enchiam as redes sociais de ataques à presidente –; e as justificativas do governador à cúpula do partido, afirmando que não tinha outra alternativa diante de uma plateia hostil e que o discurso era a única forma de conter os protestos, reforçam a imagem de comportamento dúbio e de pouca confiança. É o que o ex-presidente Lula, aliado de Dilma, mais criticava em Marconi.

Resposta do governador Marconi Perillo

“Em relação ao artigo Jogada em favor de recursos, publicado na edição de ontem do POPULAR, creio ser necessário pontuar que as opiniões e sentimentos que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem ou nutre a meu respeito são para mim completa e absolutamente irrelevantes. Por isso mesmo, tais opiniões e sentimentos em nada orientam ou alteram minha atuação e meu comportamento como governador. Já a minha opinião sobre o presidente Lula, que não foi mencionada no artigo e que todos conhecem, foi expressa na convenção do PSDB em 2013.

Nesse sentido, torna-se dispensável para a análise a avaliação ou valoração da ligação – anterior ou posterior às eleições de 2010 e 2014 – do ex-presidente com a atual presidente da República, Dilma Rousseff. Ao que parece, esta é também a percepção dela, pelo menos a julgar pela maneira como tem me tratado, seja publicamente ou em nossas conversas reservadas.

A relação institucional, republicana e democrática que mantenho com a presidente da República em nada se compara ao relacionamento que tive com o então presidente Lula. Como reconheci por diversas vezes publicamente, tenho pela presidente Dilma sentimento de gratidão e reconheço a importância da parceria que estabelecemos entre nossos governos.

Já com relação ao ex-presidente Lula, dá-se o contrário. Afinal, foi copiando iniciativas dos governos do PSDB em Goiás que Lula criou a Bolsa Família e o ProUni. Também foi graças a Goiás que ele ficou sabendo, por meu intermédio e alerta, do esquema de compra de apoio de parlamentares que mais tarde viria a ser batizado de mensalão.

Fonte: opopular
Imagem: reprodução/montagem/247

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