A mídia monopolizada também condenou Lula
Por Renata Mielli, no site Mídia Ninja: "Já não é necessário que os fins justifiquem os meios. Agora os meios, os meios massivos de comunicação, justificam os fins de um sistema de poder que impõem seus valores em escalda planetária". (Eduardo Galeano).
A divulgação da sentença do juiz Sérgio Moro condenando o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve ter surpreendido muita gente.
Com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais escancarado que a Operação
Lava Jato não foi criada para combater a corrupção no Brasil. Seu foco sempre
foi político, sua missão: impor um fim aos governos progressistas e seu alvo
principal, prender Lula.
Estruturada e desenvolvida à imagem e semelhança da
operação “mani pulite” (mão limpas) – realizada pelo Judiciário italiano na
década de 1990 – a Lava Jato, assim como sua inspiradora, tem no apoio
intransigente dos meios de comunicação o seu principal instrumento.
Sérgio Moro – que em 2004 escreveu o artigo
“Considerações sobre a Operação Mani Pulite”, elogiando o processo de caça aos
“corruptos” na Itália – descreve bem essa relação entre o Judiciário e a mídia
italiana para o alcance dos objetivos da operação. “Os responsáveis pela
operação mani pulite ainda fizeram largo uso da imprensa”. Ele detalha como:
“Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão
eram veiculados no “L’Expresso”, no “La Republica” e outros jornais e revistas
simpatizantes.”
Ele explica que “apesar de não existir nenhuma sugestão
de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação teria
deliberadamente alimentado a imprensa com informações, os vazamentos serviram a
um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do
público elevado e os líderes partidários na defensiva”.
Moro ainda destaca que o resultado mais importante desse
engajamento da mídia com a Mãos Limpas foi garantir “o apoio da opinião pública
às ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem
o trabalho dos magistrados, o que, como visto, foi de fato tentado”. E conclui:
“As prisões, confissões e a publicidade conferida às informações obtidas
geraram um círculo virtuoso, consistindo na única explicação possível para a
magnitude dos resultados obtidos pela operação mani pulite”.
Não há, portanto, qualquer improviso no modus operandi da
Operação Lava Jato e de Sérgio Moro.
Nem, tampouco, poderíamos incluir ao final deste filme o
alerta “qualquer semelhança é mera coincidência”. Muito pelo contrário. Como o
próprio Moro constatou em 2004, sem a mídia a operação italiana não teria tido
sucesso.
Em vários momentos, Moro se refere ao papel da opinião
pública. Em um deles destaca: “Enquanto ela [operação judicial] contar com o
apoio da opinião pública, tem condições de avançar e apresentar bons
resultados. Se isso não ocorrer, dificilmente encontrará êxito”.
Aí, entra em cena a Globo e Cia.
Sem o apoio da Rede Globo e da mídia oligopolizada,
Sérgio Moro continuaria sendo mais um dentre centenas de juízes de primeira
instância e a Lava Jato, possivelmente, jamais teria ido parar nas telas de
cinema.
Isso apenas confirma a centralidade do papel dos meios de
comunicação nos processos políticos, econômicos, sociais e culturais na
atualidade: o de construir o senso-comum e moldar a tal da opinião pública.
Antonio Gramsci, pensador italiano, dedicou parte de sua
obra para discutir a questão da disputa da hegemonia na sociedade. Ele alerta
que: “A tarefa de toda concepção dominante (que, sendo dominante, torna-se
portanto também fé, também ideologia para as grandes massas, não conscientemente
vivida em todos os pressupostos e em todos os seus aspectos) consiste em
conservar a unidade ideológica de todo o bloco social, que é cimentado e
unificado precisamente por aquela determinada ideologia”.
E, como já temos dito muitas e muitas vezes, os meios de
comunicação hegemônicos no Brasil são formados por um grupo de empresas
privadas, que constituem um oligopólio, e que são parte integrante de uma elite
política e econômica que esteve à frente do país por mais de 500 anos. Essa
elite, da qual o oligopólio de comunicação é parte e porta-voz, nunca aceitou
que o Brasil passasse a ser presidido por líder metalúrgico de esquerda e
depois por uma mulher, ex-guerrilheira.
Não condenaram Lula, condenaram o povo e o Brasil
A condenação de Lula a nove anos e meio de prisão não tem
nada haver com a propriedade ou não de um apartamento triplex no Guarujá (é até
estranho explicar para colegas estrangeiros que o ex-presidente Lula está sendo
condenado por causa de um apartamento de 2 milhões de reais). Sua condenação é
para tentar aprisionar os sonhos do povo brasileiro.
Não condenaram Lula, condenaram a ousadia de um povo que
achou que podia mais. Condenaram um país que acreditou que podia atuar com
soberania, que poderia ser desenvolvido.
O resultado desta cruzada da mídia hegemônica em aliança
com a Lava Jato é devastadora para o povo e para o país. Ela abreviou o ciclo
de governos progressistas, e recolocou no centro da agenda política e econômica
os corolários do neoliberalismo – redução de direitos trabalhistas e sociais,
enxugamento do Estado, privatização e entrega de serviços públicos ao mercado.
A Lava Jato desmontou parte da indústria nacional e da
economia brasileira, preparando o terreno para a completa desnacionalização
industrial e tecnológica, fragilizando nossa soberania e abrindo as portas para
o ingresso do predatório capital externo.
Ela fragilizou o processo de integração soberana da
América Latina e a política externa brasileira centrada nas relações Sul-Sul,
ferindo de morte o projeto dos BRIC’s e possibilitando uma postura subalterna
do Brasil aos interesses dos EUA e do capitalismo europeu.
Ou seja, a condenação de Lula é o símbolo do fim de um
período em que o Brasil tentou ser Brasil.
Os que buscavam um “grande acordo nacional com o Supremo,
com tudo”, alcançaram o seu objetivo. Não, a lei não é igual para todos, como
estão tentando fazer crer condenando um ex-presidente. A lei sempre foi e
continuará sendo para proteger os interesses políticos e econômicos da elite
nacional – no nosso caso, mais ainda da internacional.
Será que ainda tem alguém que se arrisque a defender tudo
isso?
Não ouvimos o tilintar das panelas indignadas pela
absolvição de Aécio Neves.
Não ouvimos o rufar dos tambores de guerra contra um esquadrão
de parlamentares que, a serviço do mercado, rasgaram os direitos dos
trabalhadores conquistados há 74 anos, um dia antes da condenação do maior
líder sindical do país.
A indignação seletiva, construída pela mídia, nos legou
uma nação povoada por zumbis. Os lobotomizados respondem única e exclusivamente
aos estímulo da mídia – capitaneada pela Rede Globo. Não têm vontade, nem
opinião própria.
É o controle remoto ao avesso. E como ele tem sido
eficiente! Porque nos controla sem que percebamos.
Mas tudo tem limite e, aos poucos, as pessoas estão
saindo da sua zona de conforto, da sua Matrix. A partir daí, tudo poderá
acontecer.

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