Só existe uma estratégia segura para vencer a peste, por Luis Nassif
Por Luis Nassif, no GGN - A extensão da epidemia, as notícias de filas nas portas dos hospitais, as grandes tragédias sociais, e as familiares, produzirão uma segunda onde de terror. E aí poderá ser trágico, pois o pânico desorganizará da pior forma toda a atividade produtiva.
A lógica da economia segue a lógica da saúde. O ponto central de instabilidade é o avanço de uma doença, trazendo um conjunto amplo de incertezas:- Os graus de letalidade.
- A capacidade dos governos em enfrentá-la.
- O tempo necessário para sua erradicação.
- a capacidade do governo em apoiar as empresas e as populações vulneráveis.
A estratégia da quarentena horizontal estica o prazo de vigência da doença, para evitar picos que colocassem a demanda muito acima da capacidade de atendimento dos hospitais.
Por outro lado, a capacidade da rede hospitalar dependerá da rapidez da economia em produzir produtos estratégicos - respiradores e máscaras - e dos governos estaduais e municipais em improvisar centros de atendimento em estádios de futebol e hotéis.
Quanto mais rápido atuarem, menor será o tempo de duração da quarentena. Quanto maior o tempo da quarentena, maiores os estragos na economia.
Aí entra em outra variável, que é a capacidade dos governos em trabalhar os problemas sociais e econômicos decorrentes da quarentena.
Ele teria que agir nas seguintes frentes:
- Vulneráveis: definir uma renda mínima e operacionalizar a chegada do dinheiro até eles.
- Pequenas e médias empresas: montar sistemas de crédito que permitam atravessar o período de tormenta.
- Grandes empresas: garantir a recompra de debêntures, recebíveis ou crédito de longo prazo para preservar seu capital de giro.
- Sistema bancário: prover de liquidez, inclusive para dar liquidez ao mercado de capitais.
O segundo caminho - estimulado por Jair Bolsonaro - consiste em deixar tudo solto e acelerar o pico da doença. Com isso, também se reduzirá o tempo de quarentena, mas da pior forma possível: expondo milhares de pessoas à morte. Os infectados, assintomáticos ou curados, tornam-se imunes à doença, deixando de transmiti-la. E os mortos ficam pelo caminho.
Por essa visão, sacrificam-se algumas milhares de pessoas pelo coronavírus, para salvar a maioria pela retomada da economia. No fundo, é uma maneira do governo admitir sua incompetência para conduzir a economia de guerra e deixar que cada qual se vire.
Trata-se de uma visão equivocada, inclusive do lado econômico, pois não leva em consideração o chamado fator pânico. [Prefeito de Milão admite erro por ter apoiado campanha para a cidade não parar no início da pandemia de coronavírus na Itália].
O governo tem demonstrado uma má vontade expressa em erguer logo programas de assistência social para as populações vulneráveis. Deixou ao Deus-dará a população carcerária. E, com o estímulo de Bolsonaro à quarentena vertical, haverá uma enorme rachadura nos planos de defesa dos governos estaduais e uma explosão de novas doenças, especialmente nas capitais, lideradas por São Paulo e Rio.
Até agora, a população experimentou uma primeira onda de temor, que a fez acatar as determinações de quarentena. Bolsonaro está implodindo essas recomendações. Pode-se esperar, então, uma onda de rebelião contra as medidas restritivas [carreatas e mais carreatas estão surgindo em vários pontos do país, contra a quarentena]. Essa onda produzirá um aumento grande do número de infectados.
A extensão da epidemia, as notícias de filas nas portas dos hospitais, as grandes tragédias sociais, e as familiares, produzirão uma segunda onde de terror. E aí poderá ser trágico, pois o pânico desorganizará da pior forma toda a atividade produtiva.
A Itália experimentou a flexibilização da quarentena logo que identificou o coronavírus. A consequência foi uma tragédia social, que não apenas deixou milhares de mortos, como afetou - da forma mais desorganizada possível - todo o ambiente econômico. [Itália pagou um preço alto ao resistir a medidas de isolamento social para conter coronavírus].
Mas o país está nas mãos de uma pessoa totalmente sem escrúpulos e sem discernimento. Enquanto Bolsonaro estiver no comando, a morte continuará rondando ele e o país.
Imagem: reprodução/Foto: EFE

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