sábado, 10 de agosto de 2013

Veríssimo - o "Lóbi" mais irresistível que existe, o da cobiça

Imperdível, a última crônica que escreveu Luís Fernando Veríssimo para o jornal O Globo. O eminente escritor fala sobre a matéria da "IstoÉ", que relata sobre o cartel formado no Estado de São Paulo para a construção de linhas de trem e metrô sob os sucessivos governos do PSDB, e as suspeitas de propinoduto favorecendo o partido.
Veríssimo, conclui a crônica mencionando a cobiça. Anteriormente, repercutimos aqui no blog uma matéria sobre o egoísmo. Constatamos através do escrito de Veríssimo, que há um outro vício altamente nocivo aos seres humanos. Da mesma forma que o egoísmo é um entrave à evolução da humanidade, a cobiça é também um vício maldito que destrói o humanismo das pessoas. Sinônimo de ambição, leva à ruína. Está na lista dos sete pecados capitais, no dicionário, no Livro da Lei.

Pior! Ela impede que o bem estar geral de uma nação, prevaleça sobre a vontade mesquinha e egoísta de um grupo desmedidamente ganancioso e sem escrúpulos que se julga acima das Leis, do bem e do mal. A conclusão do escritor não poderia ter sido mais assertiva. Mas vai longe, muito longe, esse escândalo de bilhões em trens, metrôs, concorrência e licitações fraudadas. Locupletar-se no poder público através de falcatruas com o erário público, não é exclusividade desta ou daquela agremiação partidária. Entenda o prezado leitor, que não se trata de um julgamento prévio e discriminatório. Sequer de um lampejo de falsa moralidade.

Verifique, à luz  do texto de Veríssimo que a ganância dos poderosos não tem limites. Poucos são os homens públicos devidamente preparados para o exercício do cargo que lhes foi confiado. O que menos interessa para  a maioria são dos direitos dos cidadãos. De um modo geral há um certo exagero mal intencionado em criminalizar determinados grupos, normalmente adversários políticos.

A chamada "grande mídia" desempenha papel importante neste caso. Supervaloriza o crime e o pecado de de alguns e alivia para outros. Há uma cumplicidade incestuosa que ignora conduta deletéria e irresponsável de alguns setores em associação com o poder privado. É como se a corrupção no Brasil tivesse conceitos diferentes quando praticados por este ou por aquele grupo.  

Lóbi irresistível

Luís Fernando Veríssimo, O Globo

“Devo um pedido de desculpas à grande imprensa nacional. Me desculpe, grande imprensa nacional. Quando li a matéria da "IstoÉ" sobre o cartel consentido formado em São Paulo para a construção de linhas de trem e metrô sob sucessivos governos do PSDB e as suspeitas de um propinoduto favorecendo o partido, comentei com meus botões (que não responderam porque não falam com qualquer um): essa história vai para o mesmo pântano silencioso que já engoliu, sem deixar vestígios, a história do mensalão de Minas, precursor do mensalão do PT. E não é que eu estava enganado?

A matéria vem repercutindo em toda a grande imprensa. Com variáveis graus de intensidade, é verdade, em relação ao tamanho do escândalo, mas repercutindo. Viva, pois, a nossa grande imprensa. Já se começava a desconfiar que o Brasil, onde inventam tanta novidade, tinha adotado, definitivamente, dois sistemas métricos diferentes.

A propósito, ou mais ou menos a propósito, li na revista "The Nation" que só a Associação de Banqueiros Americanos tem noventa e um lobistas em Washington defendendo os interesses dos bancos e lutando para revogar a regulamentação do setor aprovada no Congresso, recentemente. Isto sem falar em outras associações de banqueiros e nos próprios gigantes financeiros, como o Goldman Sachs (cinquenta e um lobistas) e o JP Morgan (sessenta lobistas).

O cálculo é que existam seis lobistas do sistema financeiro para cada congressista americano. Os bancos querem derrotar a regulamentação e evitar as reformas para continuar as práticas, vizinhas do estelionato, que provocaram a grande crise de 2008 e continuam a lhes dar lucros obscenos enquanto o resto da economia derrapa. O lóbi é uma atividade legítima, ou ao menos uma deformação legitimada pelo uso.

A questão é saber quando a presença de mil e tantos lobistas em torno de um Congresso deixa de ser uma pressão e se transforma num cerco. E como se pode falar em democracia representativa quando o poder do voto é substituído pelo poder de persuasão de seis lobistas, três em cada ouvido, prometendo presentinhos para a patroa?
O que tudo isso tem a ver com o cartel em São Paulo? Nada, a não ser que, talvez, sirva de consolo para quem sucumbiu ao encanto de muito dinheiro, levado pelo lóbi mais irresistível que existe, o da cobiça. Mesmo sendo daquele tipo de pessoa sobre o qual não se pode dizer que também é corrupto sem ouvir um "Quem diria..."
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Imagem: reprodução/google


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