A difícil arte de conversar sobre política, nos dias atuais
Por: Fábio Fonseca de Castro, em seu blog – “Dois pesos e duas medidas têm
sido a norma do debate político atual. As pessoas relativizam o que querem da
maneira mais tresloucada possível. Tive o seguinte diálogo na noite de sábado,
numa festinha de aniversário à qual fui:
![]() |
Imagem/reprodução/pt.slideshare.net |
O senhor respeitável – Mas isso depende do ponto de vista. Um jurista que seja favorável ao impeachment vai interpretar isso de outra forma. Tudo é muito relativo, nesse caso.
Eu – Como assim, interpretar de outra forma? É algo muito claro, muito objetivo, não há o que ser interpretado de outra forma.
O senhor respeitável – Mas o fato é que pode ser interpretado de outra forma. Essa gente tem que ser presa, o Lula ficou milionário.
Eu – Ei, não estávamos falando sobre o impeachment? Por que o Lula entrou na história, de repente? Vamos ao menos terminar o assunto anterior.
O senhor respeitável – Sobre o impeachment já te falei: tudo depende da interpretação dos juristas, tudo é relativo. Nós temos que falar de corrupção porque isso sim é um fato maior, o próprio fundamento do impeachment. As coisas estão aí para provar. A mídia expôs tudo.
Eu – Será que o que a mídia diz também não pode ser interpretado de outra forma?
O senhor respeitável – Mas são inúmeros fatos, é muita coisa Fábio. A verdade está ali, clara na sua abundância!
Eu – E o princípio da relatividade, que você evocava acima? Não vale, no caso da mídia? Devo compreender que a realidade colocada pela mídia não é relativa e a realidade de um texto constitucional é absolutamente relativa?
O senhor respeitável outra vez muda de assunto. Fala agora da Lava Jato.
Segue variando os temas para preservar os bordões. Sua vontade justifica os argumentos.
Isso é o Brasil de hoje: todos traem o princípio do debate, a ponderabilidade da argumentação, o bom senso e a simples dialética.
Restam os bordões, as ideias-fixas e os lugares-comuns.Ninguém aceita mais discutir e vai predominando o irracionalismo. A mesma matéria que produz o integralismo, o messianismo e o fascismo.
***
VIA