sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O fino do vernáculo no congresso.

Não estranho discussões que nascem do nada no mundo corporativo. Afinal passei quase trinta anos trabalhando em ambientes propícios ao bate bocas infundados.
Basta uma palavra mal entendida, uma predisposição à ofensa para que se presencie um ato verdadeiramente imbecil e bizarro.
Certa ocasião, por um gesto mal interpretado de um colega de trabalho, o outro lascou-lhe o termo "sacripanta". A discussão não teve prosseguimento, pois este me pareceu assim como eu, perplexo ao ouvir aquela palavra chique e desconhecida que poderia não ser tão ofensiva assim. Afinal fora pronunciada com ares de aristocracia, parecendo ser mais um pedido de desculpa que um palavrão.
Logicamente quem presenciou a cena recorreu ao dicionário para saber o significado.
Foi o que eu fiz mais uma vez, quando assisti aos debates dos últimos dias no senado brasileiro depois do pronunciamento de defesa que fez o presidente da casa, o Sr. José Sarney.
Em vista às representações impetradas no Conselho de ética por líderes dos partidos que pedem o afastamento do presidente, levantam-se em sua defesa a duvidosa liderança dos partidos da situação. O que se verifica daí em diante é uma verdadeira troca de insultos entre senadores já conhecidos de um passado recente que os condena justamente pela desfaçatez, pela mentira e pela improbidade no exercício do cargo que um dia lhes foi confiado.
Collor de Mello, hoje líder no senado que conhecemos de outras melindrosas façanhas, defende José Sarney contra Pedro Simon que o acusa. Dirige-se a este como "parlapatão".
Mantenha a calma. Não consulte ainda o Aurélio. Deixe para daqui a pouco. Rolou mais da sabedoria sobre o vernáculo que utilizaram Vossas Excelências nos dias que se seguiram.
Tasso Jereissati, no papel de inquisidor, ao se manifestar contra uma pessoa presente que protestava pela postura dos senhores senadores em plenário, foi interrompido por Renan Calheiros, defensor suspeito de José Sarney, que apontando-lhe o dedo reprova sua reação.
Tasso por sua vez, lhe pede que não lhe aponte o dedo sujo e lhe chama de "cangaceiro de terceira categoria". Renan lhe devolve o insulto e o chama de "coronel de merda".
Como se percebe senadores "probos" transformam-se em verdadeiras bestas sanguinárias ao defenderem as suas ílegitimas posições e o corporativismo de suas pérfidas organizações partidárias. Beneficiam-se entre si em detrimento daqueles a quem deveriam servir, ou pelo menos respeitar.
Tenho a impressão de que existe qualquer coisa de trama diabólica para usurpar os poderes uns dos outros, para dar continuidade ao processo de exercer o pleno poder em benefício de uns poucos. Do "compadrio", e de ninguém mais. Não é possível que esse comportamento estranho e reprovável não tenha um objetivo já previamente acordado. Será que pensam que nós, o povo, não estamos percebendo?
Peço a você mais um pouco de calma. Não se sinta palhaço ainda. Antes veja o que Collor falou sobre o jornalista Roberto Pompeu de Toledo da "Veja" quando tomou conhecimento do que este escrevera para a revista esta semana: "eu tenho "obrado" em sua cabeça nesses últimos dias...para que alguma graxa possa melhorar seus neurônios. Para ele cair em si e trazer a verdade. Ele é mentiroso e salafrário, alguém que não merece título de jornalista."
Neste caso eu não sou favorável a este, nem àquele, nem muito menos àquela. Esta revista como todo mundo sabe, sempre foi a favor da sua candidatura.
É ou não é de se admirar o vocabulário requintado que os senadores utilizam para se fazerem entender? Inclusive quando tratam-se entre si de Vossas Excelências, para tentar desestabilizar o adversário, é a glória.
Bem, então vamos à prática saudável de interpretar palavrões. Digo, palavras estranhas e exóticas ditas (escritas) por gente educada e intelectualizada.
Lá no Aurélio diz (se quiser utilizar outro dicionário, pode):
- Sacripanta: diz-se de pessoa desprezível, capaz de quaisquer violência e indignidades;
- Parlapatão: diz-se de, ou homem cheio de vaidade; mentiroso, impostor, fanfarrão.
- Cangaceiro: bandido do sertão nordestino brasileiro, que anda sempre fortemente armado; assombra-pau, bandoleiro, cabra, cabra-de-chifre, capixaba, capuava.
- Merda: matérias fecais; excremento, dejeto; coisa insignificante, ruim, irritante.
- Coronel: oficial que detém o posto na hierarquia militar; chefe político, em geral proprietário de terra, do interior da país.
- Probo: de caráter íntegro; honesto, honrado,reto, justo.
- obrar: converter em obras; fazer, executar, praticar,...(aqui o nobre senador usou o verbo no presente. O que será que ele quis dizer com "tenho obrado em sua cabeça!?" Ah! tá. Ele foi solidário ao seu parceiro quando este fez uso das palavras: coronel, merda...).
Às vezes fica meio difícil entender Vossas Excelências. Até quando dizem "o tempo é o senhor da razão"(?) Também eles não se explicam direito. Aliás, nunca se explicaram, nem aos outros nem à nação.
Doravante tenho uma sugestão aos digníssimos senadores. Já que são quase todos oriundos da mesma região nordestina, que resolvam suas pendengas na forma tradicional do tempo do "coronelismo". Na base da "peixeira". Assim ficaria mais original e pareceria pelo menos mais verdadeiro do que essa forma teatral de mentir, aprendida nas universidades ( Harwards e Surbones) do primeiro mundo que servem tão somente a ludibriar o povo brasileiro.
Pelo visto recorreremos muitas vezes ao Aurélio. Enquanto no senado segue a demanda pelo poder, o congresso está estagnado. Quanto a isso nada podemos fazer. Pelo menos até 2010.
A impressão que fica é que a tão procurada Democracia corre sérios riscos de ser estirpada da vida pública.
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