segunda-feira, 25 de maio de 2009

Um tema triste quase proibido.

Vamos supor que um belo dia desses, logo de manhã bem cedinho você tenha decidido embarcar para uma viagem. Curta, com destino ao interior do Estado. Sua intenção seria uma visita àquele lugar que você sempre gostaria de conhecer, ou até mesmo passar pela aquela pequena cidade onde há muito tempo residiu e que sente saudades.
O que não deu pra entender foi como aquele dia ensolarado que inspirava um belo passeio ou uma pequena aventura, de repente se transformara em quase noite de tormentosa tempestade. Daquelas quase nunca vistas. Chuva torrencial, vento de assobiar, relâmpagos e trovões. Parecia com um segundo dilúvio, de tanta água que caía, formando corredeiras pelo asfalto.
A violência da tromba d'água faz ceder o barranco bloqueando o caminho provocando um congestionamento quase quilométrico.
O departamento de estradas e a polícia rodoviária já em ação, trabalham para liberar o tráfego. Chega a informação que isso levaria pelo menos umas três horas.
A alternativa seria seguir por um atalho, o que acrescentaria umas duas horas a mais do tempo de chegada ao pretendido destino.
Diante do impasse entre esperar e seguir, você resolve encarar o desvio, afinal o dia parecia estar perdido.
Entre derrapagens e solavancos, segue ainda com tranquilidade, bem devagar já que acelerar era impossível. A chuva dá uma trégua. No entanto piora as condições da estrada de chão batido.
A quase cinco horas sem comer, você começa a sentir uma dorzinha funda no estômago. Bate uma fome animal nunca antes sentida. Se ao menos encontrasse uma "bodega", um bar pra comprar qualquer coisa pra disfarçar a fome!
De repente você avista graças a um sinal de fumaça no meio da floresta um casebre, quase uma choupana. Deixe o carro ali mesmo e segue alguns metros mata adentro já cambaleante, mais de fome que de cansaço.
Um casal de velhinhos sorridentes te recebe, convidando-te a entrar. Você quase dobra os joelhos ao sentir o aroma que vem de uma única panela de ferro encima do fogão a lenha. Dentro dela um pouco de feijão e alguns pedaços de folhas de couve.
Sirva-se - diz o velhinho.

Então você come como se fora a última refeição de sua vida! E no futuro nem lembraria que um dia já sentiu tanta fome. Mas lembraria da melhor refeição da tua vida. Aquela que matou a tua fome.

Ao receber do amigo João Francisco, por e-mail, um vídeo sobre o assunto, introduzi esta singela historinha de ficção(?). Ele me levou a refletir que na maioria da vezes, nós, blindados em nossa zona de conforto e segurança esquecemos deste flagelo da humanidade, e que entre nós parece ser tema proibido. Nações, há tempos lutam para minimizar seus efeitos. Organizações e grupos se mobilizam entre a utopia da fome zero, e o resgate da dignidade do ser humano. Enquanto muitos preferem ficar indiferentes, interpretando projetos e ações efetivamente desenvolvidas através de longo tempo que não são exclusividade deste ou daquele governo, como um instrumento politico eleitoreiro, seu semelhante padece as agruras deste flagelo.
Isto é um problema que diz respeito a toda a sociedade. E a nossa própria consciência enquanto cidadãos, independentemente de governos ou organizações.

A cada momento, em qualquer lugar existe uma pessoa, sentindo da forma mais inusitada aquela dorzinha estranha que vai aumentando e aumentando, e que se não cuidada em tempo certo, vai jogá-la ao chão definitivamente, despojada de todo resquício de dignidade.

Talvez as imagens do video, como aquelas das crianças esqueléticas que vemos nos anexos das mensagens que recebemos não mais te sensibelizem. Mas vai mexer com tua consciência se alguma vez por uma fatalidade, ficou ao relento ou sentiu fome por algumas horas sem poder saciá-la.
Isso se tiveres consciência.


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4 comments:

Anônimo disse...

A realidade é que cada vez mais nós caminhamos para um mundo totalmente consumista e nunca tomamos consciência que a maioria das pessoas do mundo nem sequer têm nada para comer pois alguém tem de ser penalizado pelo nosso bem estar a cima da média...

Por mais que o mundo se ache moderno, sempre falta a igualdade para todos aqueles que o habitam...

Parabéns pelo seu blog!

Maycoln Primo disse...

Inspirado hein guará! parabéns pelo post. Cada vez melhor

Pri disse...

muito bom o texto pai...
a ganância da vida moderna impede de enxergar o abismo que existe separando um mundo que é um só..., enquanto alguns encaram como "problema" não poder trocar de carro, ou outra coisa material, outros não sabem se poderão se alimentar no outro dia...onde o "ter" muita vezes é mais valorizado que o "ser".

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