domingo, 25 de outubro de 2009

A invisibilidade das pessoas.

"- Um dia será o mundo com sua impersonalidade
soberba versus minha extrema individualidade de
pessoa, mas seremos um só"  (C. Lispector)

Um dia desses cheguei a um lugar onde trabalhavam várias pessoas. Estavam todas sentadas, aparentemente concentradas em seus afazeres diante dos computadores em suas mesas. Para que percebessem que eu estava ali buscando atendimento, falei em bom tom - "Bom dia". Uma ou duas levantaram a cabeça e logo tornaram a abaixar. Outras nem se moveram. Tive a sensação estranha que estava invisível. Passaram-se uns poucos minutos que pareciam uma eternidade, até que uma delas veio até a mim e me  perguntou se eu desejava alguma coisa. Sem me olhar no rosto! Estranho, como estamos perdendo o senso de sociabilidade!
A crise de valores humanos (ou seria falta de educação?) está nos levando a uma certa cegueira preconceituosa onde enxergamos as pessoas conforme seu "Status", sua cor, sua classe social, e até pela forma como elas se vestem.

Seria exagero da minha parte? Talvez vocês lembrem de uma experiência vivida por um psicólogo que virou furo de reportagem na TV. Enquanto estudante se vestiu de gari e passou alguns dias junto a essas "pessoas invisíveis". Até seus professores não o reconheceram. Não o "enxergaram". Assim como alguns  dos seus colegas de curso. Simplesmente por estar ele travestido de cidadão comum. Desses que fazem parte do nosso dia-a-dia, e que influem diretamente nos nossos hábitos cotidianos de consumo de bens e serviços. E que de uma forma ou de outra nós não os enxergamos.

Insistimos em ignorá-los, talvez pelo seu fardamento de trabalho, incomum e diferente ao mesmo tempo. Ou seria por causa da posição social que lhes impõe com seu humilde e despercebido trabalho? Eles são muitos. Só percebemos que eles existem quando não temos alguma necessidade básica satisfeita. Quando não tem pão e comida prontinhos. Quando não tem ninguém pra abastecer os carros. Quando acumula o lixo em frente as casas. Quando os produtos não estão arrumadinhos nas gôndolas dos super mercados.

Acontece que estamos num estado de cegueira espiritual, perdendo o senso de reconhecimento e de solidariedade. Tem muita gente que nós não  queremos ver ou fingimos não ver. Eles estão em toda a parte, esperando nosso reconhecimento. Pelo menos ouvir um "Bom dia".

O Gari. Apesar da cor berrante de seu uniforme - é invisível para a maioria.

 

O padeiro - muitas vezes só o vemos através da parede de vidro transparente.

 

O vigilante - sabemos que ele está ali. Mas, não o vemos.



O cozinheiro(a). Raramente torna-se visível. Lembramos dele quando o tempero da comida está bom, ou ruim.

   

O frentista - É uma voz, somente.



O motorista - Mais ou menos visível. Aparece quando o ônibus para.



O camera man - Quem mesmo captou essas imagens?



O repositor de mercadorias - Quem organizou esta gôndola?



A telefonista - De quem será esta esta voz gentil e bem humorada?



O catador de lixo reciclável - Como ele consegue puxar este carrinho? Pra onde levará tudo isso?



o idoso em pé dentro do ônibus. Isso não é comigo...



O professor - Tem alguém aí na frente, mas tem gente que ignora.

Imagens: reproduzidas/Google

               
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2 comments:

Blog do Beto Lemela disse...

Muito boa a sua postagem, parabéns ! Realmente estamos nos tornando invisíveis neste mundo globalizado e impessoal. Continue postando artigos interessantes, que sempre nos acrescentam muito. Grande abraço. BETO LEMELA

Mattos disse...

Ainda essa semana pensei quando estava dentro do onibus, " Poxa vida, deve ser foda guiar um onibus tão grande, o motorista sabe o que está fazendo" mas ainda assim a gente apenas passa por ele na pressa de chegar em casa, sem ao menos ver o teu rosto. Reflexivo.
=D

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