sábado, 17 de junho de 2023

O futebol brasileiro é uma sabida caixinha de surpresas, mas Felipão caprichou na sexta insana dos At(h)léticos

Por Leandro Stein, no Trivela: Os torcedores at(h)leticanos tiveram uma sexta-feira das mais insanas possíveis. Duas bombas caíram de forma simultânea em Belo Horizonte e em Curitiba. Num movimento um tanto quanto inesperado, o Atlético Mineiro anunciou Felipão para ser o seu novo treinador. A pretensa aposentadoria do gaúcho em relação ao trabalho de técnico não durou mais do que alguns meses. Depois de algumas tentativas com estrangeiros que não vingaram, o Galo muda totalmente de direção com o pentacampeão na casamata. E isso também deixou feridas expostas no Athletico Paranaense, onde realmente Scolari parecia fazer mais do que seu cargo de diretor sugeria. Não à toa, o Furacão decidiu demitir Paulo Turra na esteira - como se o comandante não mandasse tanto assim.
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Felipão fez um trabalho histórico à frente do Athletico Paranaense. Foram meses para resgatar a aura do pentacampeão, com um time bastante competitivo e copeiro, mesmo com suas limitações no elenco. A final da Libertadores demarcou o aproveitamento alto alcançado pelo gaúcho e serviu como deixa para que ele (teoricamente) se aposentasse da casamata, tornando-se o novo diretor do Furacão. Paulo Turra seria um encarregado direto e um velho conhecido no comando técnico. Que continuava bebendo da filosofia de Scolari, no que se notava durante os últimos meses dos rubro-negros.


O Athletico passou longe de exibir um futebol exuberante com Paulo Turra. No entanto, a equipe conquistou a classificação antecipada na Libertadores e se colocou entre os oito melhores da Copa do Brasil. A campanha no Brasileirão também é razoável, com a sétima colocação, enquanto o título do Campeonato Paranaense veio. Entretanto, o pedido de Felipão para sair pare3ceu quebrar a confiança dentro da Baixada. Paulo Turra perdeu o emprego junto, em decisão tomada pelo executivo Alexandre Mattos, com respaldo do presidente Mario Celso Petraglia. Soou como uma represália ao pupilo de Scolari. Da mesma forma, indicou que o prestígio no Furacão se concentrava sobre o pentacampeão do mundo, não sobre Turra. Nem os 73% de aproveitamento no comando do time fizeram o técnico salvar o emprego.


A decisão de Felipão não deixou de pegar muita gente de calças curtas. O treinador havia afirmado que não trabalharia mais como técnico, por mais que recentemente tenha abrandado o discurso, ao indicar que aceitaria assumir algum time no exterior. O Atlético Mineiro, entretanto, recoloca o gaúcho nas casamatas do Brasileirão. De fato, é uma oferta com potencial, considerando o elenco que o Galo possui e também as condições na temporada. O time está na quarta posição da Série A e ficou bem próximo da classificação às oitavas da Libertadores antes da última rodada da fase de grupos. Só caiu na Copa do Brasil, diante do Corinthians.


O Atlético Mineiro investiu seguidamente em treinadores estrangeiros nos últimos anos. Rafael Dudamel, Jorge Sampaoli, Turco Mohamed e Eduardo Coudet passaram pelo clube desde 2020, num período em que o único treinador brasileiro a dirigir os alvinegros foi o Cuca - possibilitando as principais conquistas. Sem que o campeão da Libertadores de 2013 parecesse apto a mais uma passagem por Belo Horizonte, especialmente diante da maneira como ele saiu do Corinthians e das novas informações sobre o caso de estupro pelo qual foi condenado nos anos 1980, o Galo precisou de uma outra solução. E fugiu do óbvio, mesmo com um medalhão.


Neste momento de desgaste, buscar um treinador estrangeiro seria um risco para o Atlético Mineiro. Apenas Sampaoli deu razoavelmente certo no clube, e ainda assim sem grandes conquistas. As turbulências com Coudet pareceram reduzir as chances de outro estrangeiro, especialmente quando não há de imediato uma figura tão clara para ser escolhida. Bruno Lage era o favorito, mas optou por permanecer na Europa. Da mesma maneira, as opções no mercado brasileiro parecem cada vez mais escassas e mais sujeitas às críticas. O Galo preferiu apostar numa famosa "bola de segurança", por mais que Felipão parecesse fora do radar por sua suposta aposentadoria.


Felipão possui uma ligação forte com o Cruzeiro, entre o trabalho prévio antes de assumir a Seleção em 2001 e o retorno recente na Série B. Entretanto, não parecia algo tão forte a ponto de prevenir a assinatura com o Galo. Outro vínculo do gaúcho que se mostrou mais fraco do que o imaginado é com o Athletico Paranaense. Por aquilo que se via desde o último ano, era de se imaginar que o veterano desempenharia por um bom tempo o cargo de diretor na Baixada. Entretanto, ele prefere voltar à linha de frente como técnico dos mineiros. Faz um tempo que Scolari não é mais um treinador dos sonhos. Entretanto, os clubes que o contrataram sabem o que vai entregar: defesas sólidas, competitividade e um escudo à diretoria. É o que os atleticanos preferem, quem sabe para descolar uma taça nos próximos meses. Qualidade há para Felipão trabalhar, mesmo com lacunas no elenco.


Além do mais, a chegada de Felipão mostra mais uma vez como a escolha do técnico é muito mais uma questão de nome do que de filosofia de trabalho ou de estilo de jogo. A proposta de Scolari é muito diferente daquela que se via com Coudet, assim como aconteceram outras quebras nos últimos anos, como na transição entre Sampaoli e Cuca. Se os meses de Chacho não garantiram a regularidade que os atleticanos almejavam, agora eles optam por um adepto do futebol defensivo - mesmo que a montagem do elenco tenha sido imaginada sob outras circunstâncias. Mas nada que Felipão não possa aproveitar, também, quem sabe com reforços pontuais.


O grande protagonista do Atlético Mineiro é um velho conhecido de Seleção, Hulk. Deverá ser o homem de confiança de Felipão nesse início de trabalho. Outros como Everson, Mariano, Edenílsom, Alan Kardec e Eduardo Vargas garantem doses de experiência. E não vai surpreender se mesmo os mais jovens virem o futebol florescer com o novo comandante. Matías Zaracho, Cristian Pavón e Guilherme Arana ganharão mais campo para acelerar. Isso sem falar em Paulinho, o principal nome do Galo na temporada, que deve seguir prestigiado pelo impacto que causa nesses primeiros meses em Belo Horizonte.


Outra diferença gritante no Atlético Mineiro se concentra sobre as personalidades dos treinadores. Coudet conseguiu ser mais intempestivo que de costume no Galo, entre as rusgas com a direção e as críticas aos jogadores que serviram de gota d'água ao seu trabalho. Felipão, muito pelo contrário, possui entre suas virtudes a maneira como consegue agregar o vestiário e também o relacionamento interno com os superiores. Pode nem sempre ser o mais afável com a imprensa, mas vai baixar a poeira em relação ao que foi esse primeiro semestre. Num momento em que a situação administrativa dos atleticanos está em xeque, até pelas limitações financeiras, essa tranquilidade diante das câmeras é valiosa. Os holofotes vão para Scolari.


Felipão não é um projeto de longo prazo, como quase nunca se é no futebol brasileiro. Também não é uma revolução, bem longe disso. Mas garante casca ao Atlético Mineiro e alguns truques, que podem evitar as oscilações recentes e também aliviar à direção. Enquanto isso, o Athletico Paranaense precisará pensar em novos rumos quando menos se esperava. Tudo bem que Paulo Turra não estava isento de questionamentos, mas parecia haver uma segurança por trás. Isso ruiu como num estalo de dedos. O elenco recheado do Galo serviu de atrativo para que Scolari deixasse o que parecia disposto a construir no Furacão. E para proporcionar uma sexta insana mesmo num futebol brasileiro tão acostumado a reviravoltas.


Imagem: reprodução/Foto: Icon Sport


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