Amaury Ribeiro Jr. promete revelar em novo livro bastidores do complô para derrubar Lula e Dilma
"Na semana seguinte às eleições municipais em que Fernando
Haddad derrotou José Serra em São Paulo, episódios estranhos começaram a
acontecer em torno do premiado repórter Amaury Ribeiro Jr., autor do livro
Privataria Tucana, o best seller que vendeu 150 mil cópias.
Primeiro, ele foi procurado por telefone por um homem de
Guarulhos que prometeu documentos relativos à Operação Parasita, da polícia
paulista, que investigou empresas que cometiam fraudes na área da saúde. Foi marcada uma reunião, mas a fonte se negou
a entrar no local de trabalho de Amaury. Quando se encontraram pessoalmente, do
lado de fora, a história mudou: o homem ofereceu a Amaury a venda de material
secreto que teria como origem o despachante Dirceu Garcia.
No inquérito da Polícia Federal que apura a quebra de sigilo
de dirigentes do PSDB, aberto durante a campanha eleitoral de 2010, Dirceu é a
única testemunha que acusa Amaury de ter participado da violação. "Novamente,
estão querendo armar contra mim", diz Amaury. "Mas desta vez a trama foi toda
gravada por câmera de segurança".
Em seguida, outra situação nebulosa, desta vez supostamente
para atingir a Editora Geração Editorial, que publicou o Privataria Tucana. Um "ganso" da polícia paulista marcou
encontro com o diretor de comunicação, William Novaes, com o objetivo de
entregar um dossiê que incriminaria vários políticos tucanos, entre eles o
ex-senador Tasso Jereissati.
O encontro, do qual Amaury também participou, foi gravado
por câmeras ocultas. Amaury acredita que o objetivo era entregar à editora
material falso que pudesse ser usado para desqualificar seu livro. Diante da
recusa, a mesma suposta "fonte", que responde a vários processos por
estelionato, ligou para a editora dias depois dizendo que Amaury corria risco
de vida.
"Acredito que eles pretendiam me acusar de obstruir o
processo em andamento, o que poderia até resultar em minha prisão", avalia o
repórter.
Na mesma semana, narra Amaury, o ex-sub-procurador da
República, hoje advogado José Roberto Santoro, que segundo a revista Veja tem ligações com o tucano José Serra, procurou a direção do jornal O Tempo, de
Minas Gerais, para intermediar um encontro com a direção do jornal Hoje em Dia,
onde Amaury mantém coluna semanal.
Na mesma semana, narra Amaury, o ex-sub-procurador da
República, hoje advogado José Roberto Santoro, que segundo a revista Veja tem
ligações com o tucano José Serra, procurou a direção do jornal O Tempo, de
Minas Gerais, para intermediar um encontro com a direção do jornal Hoje em Dia,
onde Amaury mantém coluna semanal.
O objetivo, segundo o repórter, seria reclamar de uma nota
publicada na coluna de Amaury relativa a uma mineradora de Minas e ao
ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung. Mas, de acordo com Amaury, no
encontro Santoro não reclamou objetivamente do conteúdo da coluna. "Ele ficou
falando mal de mim, tentando levar à minha demissão e quando foi advertido
pelos diretores do jornal aumentou ainda mais o tom de voz, como se estivesse
numa crise histérica", diz o repórter. A coluna continua a ser publicada.
Qual seria a explicação para esta sequência de eventos?
Amaury explica: "Está ocorrendo um verdadeiro complô,
articulado provavelmente por tucanos, com apoio de setores da Polícia Federal e
do Ministério Público Federal. O objetivo é derrubar primeiro o Lula e depois
atingir a presidenta Dilma".
Aqui, é importante lembrar que, na campanha de 2010, Amaury
foi acusado pela mídia de integrar um grupo de inteligência a serviço da
campanha de Dilma Rousseff, aquele que teria violado o sigilo fiscal de
tucanos. O repórter nega: "Estão querendo requentar um assunto velho, que sumiu
das páginas dos jornais logo depois das eleições de 2010. Pelo jeito vai voltar
já pensando em 2014. Talvez estejam pensando em me usar para chegar na Dilma".
Amaury estranha que o processo sobre a violação do sigilo de
tucanos tenha voltado a andar uma semana depois das eleições de 2012, quando
foram chamados para depor o jornalista Luiz Lanzetta e o secretário particular
do diretor de redação do Correio Braziliense e do Estado de Minas, Josemar
Gimenez.
Lanzetta trabalhou na campanha de Dilma e foi acusado de ser
o chefe do suposto núcleo de inteligência. Quanto a Josemar, Amaury trabalhou
em O Estado de Minas, onde deu sequência à apuração dos fatos que resultaram no
livro Privataria Tucana. O repórter enfatiza sempre que baseou o livro em
documentos públicos obtidos em juntas
comerciais e cartórios, na CPI do Banestado e no Exterior.
Aqui, pausa para uma bomba: segundo Amaury, o presidente do
PSDB, Sergio Guerra, entrou na Justiça de Brasília com uma ação em que pede a
retirada de circulação do livro, alegando que o Privataria Tucana causa danos
morais a caciques do partido. O pedido foi feito durante a campanha de 2012 mas
até hoje a Justiça não se pronunciou.
"Com certeza, o livro provocou muitos estragos nas eleições.
Com certeza continuará provocando. O curioso é que eles nunca respondem
especificamente às acusações ou documentos mostrados no livro", diz Amaury.
Ele também estranha que o procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, que recebeu dezenas de livros pelos Correios, de leitores
indignados com o conteúdo, não tenha aberto um procedimento para apurar as
denúncias. Amaury entregou parte dos documentos utilizados no Privataria à Polícia Federal, que até hoje não abriu
inquérito.
Além disso, apesar de o deputado federal e ex-delegado da PF
Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) ter conseguido o número de assinaturas
necessárias à abertura da CPI da Privataria, o presidente da Câmara, Marco Maia
(PT-RS), parece ter sentado sobre o assunto.
NOVO LIVRO
Desde o lançamento do Privataria Tucana, Amaury fala em
escrever a sequência. O livro já tem
nome: Privataria 2, o Grande Complô.
Viomundo: Amaury, do que tratará o livro?
Amaury: Vou mostrar como funciona o núcleo de inteligência
do PSDB, que domina até hoje setores da Polícia Federal e do Ministério Público
Federal. Eles se movimentam para desarticular o ex-presidente Lula e
futuramente a presidenta Dilma. Quero mostrar porque o PT não reage. No caso da
CPI do Cachoeira, tinha a faca e o queijo na mão para investigar melhor a
relação entre o bicheiro e a revista Veja.
Viomundo: Você tem explicação para o recuo do relator Odair
Cunha (PT-MG)?
Amaury: O PT parece abafar todos os casos. Suspeito que é
por um motivo simples. Herdou e deu continuidade a esquemas dos tucanos. No
caso do Odair Cunha, devemos lembrar que o ex-sócio dele, que é da região de
Boa Esperança, em Minas Gerais, se tornou diretor de Furnas e controla verbas e
cargos. Será que tem o rabo preso e os tucanos descobriram?
Viomundo: E a CPI da Privataria, agora sai?
Amaury: Acho que não sai. Tudo indica que o PT tenha herdado o esquema promíscuo que os
tucanos tinham com as empresas de telecomunicações. Diante da nova denúncia do
Marcos Valério, que diz que a Brasil Telecom teria doado 7 milhões de reais ao
PT, o partido vai ficar totalmente desmoralizado se a CPI não for aberta. Se
não for aberta, vai ficar bem claro que eles temem que as investigações atinjam
o próprio PT.
Viomundo: O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, chegou a
convidar o ex-presidente FHC para falar sobre a lista de Furnas. Mas foi
desautorizado pelo líder do PT no Senado, Walter Pinheiro. Afinal, essa lista
de Furnas é falsa, como afirmam os tucanos?
Amaury: O laudo da perícia da Polícia Federal diz que é
verdadeira. A lista mostra doações de campanha feitas por um esquema montado em
Furnas para vários caciques do PSDB, dentre os quais Aécio Neves, Geraldo
Alckmin e José Serra. O caso foi
denunciado na Justiça federal do Rio de Janeiro pela procuradora Andrea Bayão
Ferreira, que em seu relatório diz não ter dúvidas da existência do esquema,
que era abastecido por empresas fornecedoras de Furnas. Mas a Justiça Federal
transferiu o caso para a Justiça estadual do Rio de Janeiro, apesar de Furnas
ser uma estatal federal. É outro caso no qual o procurador Gurgel não tomou
qualquer providência. Será que ele faria o mesmo se fosse um esquema petista?
Viomundo: E essa história do mensalão tucano, anda?
Amaury: Mais uma vez houve tratamento diferenciado ao
PSDB. No caso do mensalão tucano, houve
desmembramento das investigações, encaminhadas à Justiça de Minas. No STF só
serão julgados os reús com foro privilegiado. Vai ficar mais difícil montar o
quebra-cabeças que facilitaria a condenação, como foi o caso do mensalão
petista. As teorias do Gurgel não teriam vingado se tivesse havido
desmembramento também no mensalão petista.
No caso dos tucanos, houve.
Viomundo: Lula nunca falou sobre a Operação Porto Seguro,
aquela que desvendou um esquema de tráfico de influência nas agências
reguladoras e que teria a participação de Rosemary Nogueira. A mídia explorou o
que define como “relações íntimas” entre
o ex-presidente Lula e Rosemary. O que te pareceu o caso?
Amaury: São denúncias sérias, que devem ser apuradas. Mas outra vez a imprensa, a Polícia Federal e o Ministério Público dão tratamento desigual a petistas e tucanos. Devemos lembrar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acreditava ter um filho com uma jornalista da Globo e a imprensa não só calou a respeito durante quase duas décadas como ajudou a abafar o caso. Uma concessionária pública, a Globo, transferiu a mãe do menino para a Espanha. Conheço bem essa história. Nunca toquei no assunto por se tratar da vida pessoal. Mas diante do cinismo da imprensa estou pensando em incluir no livro algumas revelações sobre como era o esquema para sustentar mãe e filho na Europa. É jornalisticamente relevante por se tratar de dinheiro de caixa dois, de financiamento de campanha. Tenho uma testemunha que sabe de tudo.
Viomundo: Você não poupa nem a PF, que vem trabalhando como
nunca?
Amaury: O governo é petista, mas há um núcleo tucano na PF,
tanto que a presidente da República só ficou sabendo da Operação Porto Seguro
depois que ela foi deflagrada. O ministro da Justiça apareceu na TV com aquela
cara de bobo, ficou vendido. Vale lembrar que o início das investigações se deu
pelas mãos do serviço de inteligência do PSDB, que cooptou testemunhas para
levar o caso adiante. Meu livro vai contar os detalhes de como isso aconteceu.
Vai também desnudar as relações promíscuas entre integrantes do Ministério
Público e da Polícia Federal com o alto tucanato. Como vou sustentar, é mesmo
um grande complô.
Viomundo: Mas se a Rosemary foi exonerada no dia seguinte à
operação da PF, Dilma não sabia de nada antecipadamente? Há especulação de que
ela deixou andar justamente para eliminar um núcleo de corrupção que herdou do
governo Lula…
Amaury: Essa é a grande pergunta, até hoje não foi
respondida. Pretendo responder no livro.
Viomundo: Já que estamos no campo das especulações, e a
boataria sobre a saída de Dilma do PT para o PDT?
Amaury: Seria um suicídio político. No PDT há uma briga de
vida e morte entre a família Brizola e o ex-ministro Carlos Lupi. Só faria
sentido ela sair do PT se o Lula fosse candidato em 2014, o que o atual quadro
político não indica.
Viomundo: E essas gravações que você fez, do pessoal que
tentou armar contra você, vão entrar no livro?
Amaury: Com certeza, mas antes vou entregar todo o material
à Polícia Federal e à Justiça. Quero deixar claríssimo que eles escolhem os
casos para investigar e punir. Como eles até agora não tomaram providências,
pretendo entrar com representações na PF e no Ministério Público pedindo a
apuração das denúncias contidas no Privataria Tucana. Quero ver eles sentarem
em cima do assunto. Pelo jeito só vai me restar fazer denúncias fora do Brasil
por meio da ICIJ, International Consortium of Investigative Journalists,
entidade que tem sede nos Estados Unidos e representação em dezenas de paises.
Fui o primeiro repórter brasileiro a integrar a entidade e estou pensando em
acioná-la se as autoridades brasileiras não tomarem providências."
*Luiz Carlos Azenha, é repórter da TV Record, jornalista com dois prêmios Vladimir Herzog, e editor do site Viomundo e diretor geral do projeto editorial do programa "Nova África" na TV Brasil. Já trabalhou em várias emissoras, como Globo, SBT e na antiga Rede Manchete, hoje RedeTV.
Fonte: Viomundo
Imagem: reprodução/ComTextoLivre

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