quarta-feira, 12 de março de 2014

Greve: o dia em que os garis foram aplaudidos pelo povo


Grande parte da população ainda não admite, ou não quer entender a razão de uma classe de trabalhadores entrar em greve. Sim, ela prejudica a maioria das pessoas, exclusivamente quando deflagradas em setores essenciais do serviço público. Afinal, o cidadão paga por isso. Nada mais que normal achar que é uma atitude injusta. Mas, como em tudo na vida há sempre dois lados, a greve é um direito previsto na Constituição brasileira.
Por outro lado, a Lei de greve prevê que ela seja anunciada, antes de ser deflagrada. E dependendo do serviço público prestado, há normas que determinam a porcentagem mínima de trabalhadores que não devem aderir à greve. Isto é, quando o serviço prestado é considerado de natureza essencial e urgente, a paralisação neste setor não pode ser total, para não resultar em prejuízos maiores à população.

Existem muitas nuances que cercam as relações entre patrão e empregado quando uma greve é deflagrada. Assim como existe o mal empregado, existe o empregador que olha só o seu lado. Daí, ser comum acontecer o extremo da greve para forçar uma negociação mais justa, que atenda os interesses de ambas as partes.

Normalmente, as principais revindicações dos empregados são, a reposição das perdas salariais da classe e melhorias nas condições de trabalho. Surgindo o impasse nas negociações, o julgamento da greve vai parar na justiça, que  julgará se ela é ou não ilegal, determinando outras ações dentro da Lei, para resolver a questão.

Contudo, é impossível não compreender a injúria e a revolta dos cidadãos e cidadãs diante da privação de atendimento através de um serviço essencial, posto que cumprem sua obrigação pagando seus impostos. Por isso, não é difícil compreender que as pessoas tenham uma reação de descontentamento e reprovem uma greve feita por qualquer classe, que venha causar prejuízo, ou mal estar para a coletividade.

Porém, na semana passada, durante a greve dos garis no Rio de Janeiro, em plena semana de carnaval, aconteceu aquilo que o professor do departamento de filosofia da USP, Vladimir Saflate, classificou de um improvável que aconteceu. A população da cidade maravilhosa saiu às ruas para aplaudir a paralisação dos garis, que reivindicavam aumento salarial para a categoria.

http://latuffcartoons.wordpress.com/
“Como tais pessoas invisíveis ousavam manchar o mais belo cartão-postal do país?”, pergunta o professor diante da reação do governo municipal, que a princípio classificou o ato como um motim com razões políticas. Só no decorrer das negociações é que a categoria recebeu uma proposta decente.

“Aplaudir sempre foi um gesto de quem reconhece a dignidade do que vê. Aplaudimos artistas pela dignidade da beleza. Aplaudimos oradores pela dignidade da inteligência e da força retórica. Aplaudimos garis pela dignidade dos humilhados que não temem bravatas e ameaças”, diz Saflate, em sua matéria “Aplausos”, publicada em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo.

Os cariocas que naquele dia decidiram aplaudir os garis, “fizeram um pequeno gesto de forte carga política e que recupera o sentido do afeto político mais importante: a implicação e a solidariedade dos que deixam de lado, ao menos por um momento, interesses individuais. Naquele dia, o Rio de Janeiro mostrou ao país o caminho a seguir”, conclui Vladimir Saflate .

Muito pouco se viu na mídia, em destaque à solidariedade dos cariocas prestada aos garis em vista às suas justas pretensões. Menções raras de alguns colunistas consagrados apareceram em apoio à causa. O famoso âncora da TV, Boris Casoy, que tomou o troco por ocasião em que se referiu pejorativamente, de forma preconceituosa à classe, desta vez ficou calado.

A vitória da classe no Rio, foi notícia nos principais jornais do país. Deram conta que a proposta salarial que pôs fim à greve dos gari, resultou em um aumento de 37% nos minguados vencimentos da categoria. Dos R$ 800,00 mensais na média, passarão a receber pouco mais que R$ 1.000,00 por mês.


Imagem: reprodução/créditos: Douglas Shineidr/Jornal do Brasil


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