sexta-feira, 5 de abril de 2019

Política: 'A gambiarra de Bolsonaro', por Fernando Brito

Por Fernando Brito, no Tijolaço - No dia em que a perícia revela que foi uma "gambiarra" elétrica a causa do terrível incêndio do Museu Nacional, assistiu-se à instalação de uma "gambiarra" política no Palácio do Planalto. Os encontros entre Jair Bolsonaro e os líderes do partidos do Centrão é daqueles em que se podeira dizer: "fiz a ligação, mas não garanto que vá aguentar".

Para aprovar a reforma na Comissão de Constituição e Justiça, algo mais rápido e de baixa tensão, é possível e até provável que aguente.

Mas todo mundo sabe que para a lata tensão e os dois meses, quase, da Comissão Especial da Previdência, os fios emendados depois de xingamentos e, sobretudo, da exclusão daqueles partidos da montagem do governo (exceção ao DEM, que é de uma cepa resistente a quase tudo) não suportam a carga. 

O deputado Arthur Mais, do DEM e relator da tentativa de reforma de Michel Temer disse a Miriam Leitão que há uma conta presente na cabeça dos parlamentares: "dos 23 deputados que votaram a favor da proposta na Comissão Especial em 2017, só quatro foram reeleitos, dos 14 que votaram contra, 10 voltaram". Um dos quatro que voltaram foi ele próprio, ainda assim perdendo votos em relação a 2014.  

Isso, claro, importa muito mais que posições "de princípio". E os parlamentares sabem que é preciso ter com que compensar o desgaste que sofrerão. E não será com a popularidade de Bolsonaro, que segue caindo e é das mais baixas já registrada para um presidente na fase inaugural de sue mandato. 

Essa história de que "conselhos políticos" e "diálogo" vão suprir as garantias de participação do Centrão [DEM, PP, SD, PRB e PSC] no governo é como aquela velha frase de parachoques de caminhão: "Amor é lorota: o que manda é a nota".

Pois isso, a declaração do presidente de que "caiu do cavalo" quem esperava que houvesse cargos neste entendimento é uma advertência a ele próprio, que cairá do cavalo se achar que abraços e sorrisos são o suficiente para garantir o circuito que pensa ter montado para ter apoio parlamentar.

Bernardo Mello Franco, em O Globo, diz que há problemas de confiança graves, pelos ataques que Bolsonaro fez aos representantes da "velha política" a quem fez salamaleques ontem: "o presidente inverteu o poema de Augusto dos Anjos: a mão que apedrejou é a mesma que afaga", e que ninguém sabe o que essa mão fará amanhã.

Talvez, Bernardo, valesse lembrar outro dos versos de Augusto do Anjos nos mesmos Versos Íntimos: "O beijo, amigo, é a véspera do escarro". 

É isso que assombra os deputados, assim que entregarem seus votos. 

Imagem: reprodução

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