Mensalão - Por trás dos fatos e palavras, um silêncio não revelado
Todo o pesquisador é um curioso por natureza. Vício ou virtude, a curiosidade igualmente inerente aos jornalistas, blogueiros e blogueiras de plantão, pode levar a resultados surpreendentes. Em uma pesquisa, um importante critério é a origem do fato. E o significado intrínseco das palavras. Sem considerar esses pontos fundamentais, a pesquisa não resultará em uma notícia boa, verdadeiramente relevante.
Isto é, fica parecendo uma meia verdade. Por silenciar sobre certos aspectos importantes.
Para entender melhor, veja este texto (verdadeiro) de autoria do escritor, Luís Fernando Veríssimo, publicado no jornal O Estado de São Paulo. Conclui sobre o tema mais falado no momento: o mensalão. Cujo processo está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal. E que se tornou desejo obsessivo da sociedade, que resulte em condenação sumária daqueles que realmente forem declarados culpados. Independentemente da conotação política que ganhou o chamado "maior escândalo de corrupção" da política brasileira.
O grande silêncio
É sempre bom investigar a origem dos fatos e das palavras. Você pode
descobrir coisas surpreendentes. Por exemplo: o final abrupto de uma
frase de jazz moderno, vocalizado, soava algo como "be-ree-bop". É daí
que vem o nome do novo estilo de tocar jazz, "bop". O "biribop" foi
usado numa música brasileira que falava da influência do novo jazz no
samba - "eba biribop", lembra? - e não demorou para que o "biribop" do
samba se transformasse em "biriba" e acabasse sendo o nome do cachorro
mascote do Botafogo, segundo alguns um dos maiores responsáveis pela boa
fase do time na época - e nome de um jogo de cartas. Hoje quem joga
biriba (ainda se joga biriba?) não desconfia que tudo começou nos clubes
de Nova York onde alguns músicos faziam uma revolução que não tinha
nada a ver com o baralho.
A procura de origens pode levar por caminhos errados, é verdade.
Ainda no campo da música: quando a Bossa Nova começou a ser tocada nos
Estados Unidos uma das curiosidades dos nativos era o significado do
termo "bossa". Quem procurou num dicionário leu que "bossa" era a
protuberância nas costas de um corcunda, não podia estar certo. Aí
alguém se lembrou de um LP gravado pelo guitarrista Laurindo de Almeida
nos Estados Unidos anos antes, junto com três americanos, uma
saxofonista, uma baterista e um contrabaixista, que incluía ritmos
brasileiros. E surgiu a teoria que o disco do Laurindo de Almeida teria
sido muito ouvido no Brasil e a marcação do baixo nos sambas muito
impressionara os músicos locais. Claro, "bossa" era uma corruptela de
"bass", contrabaixo em inglês. Tudo esclarecido. (Não foi a única
injustiça que fizeram com o João Gilberto, o verdadeiro criador da
batida da bossa. Ainda inventaram que ele roubara o jeito de cantar do
Chet Baker.)
Mas tudo isto, acredite ou não, tem a ver com o mensalão. Ouvi dizer
que a origem do esquema que está sendo condenado no Supremo é uma
eleição em Minas que envolveu alguns dos mesmos personagens de agora, só
que o partido favorecido foi o PSDB. Se a origem é esta mesmo, ou -
como no caso da origem da bossa nova - há um mal-entendido, não sei. Mas
não deixa de surpreender a absoluta falta de curiosidade, da grande
imprensa inclusive, sobre esta suposta raiz de tudo. Só o que há a
respeito é um grande silêncio. O barulho com o esquema precursor mineiro
ainda está por vir ou o silêncio continuará até o esquecimento? É
sempre bom investigar a origem dos fatos e das palavras. Inclusive
porque dá boas histórias.
Via: Saraiva.
Via: Saraiva.

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