segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Política - A eleição de Eduardo Cunha e o “pemedebismo” que paralisa o Brasil

Por Flavio Moura*

- "O fenômeno pode ser entendido como uma blindagem do sistema político que represa as forças de transformação: em última análise, é a redução das alianças ao simples balcão de negócios e da prática política ao moralismo de resultados.
Suas origens remontam ao MDB, partido criado durante a ditadura militar que abrigava todas as forças de oposição.
Depois de transformado em PMDB, encastelou-se no governo e de lá nunca mais saiu.


O “pemedebismo” não se restringe ao partido que lhe dá nome, mas a um modo de fazer política que está além dele.

Nobre argumenta que foi se criando no país, em nome da “governabilidade”, um ambiente em que não existem situação e oposição, mas uma massa homogênea, amorfa e indistinta que fecha todos os canais possíveis de representação.

A eleição deste domingo para a presidência da Câmara dos Deputados ilustra a atualidade dessa tese.
O PMDB é partido aliado ao governo. O vice-presidente, Michel Temer, é PMDB. A sigla tem 65 deputados na Câmara – o mesmo número do PT. Somados aos deputados dos partidos aliados – PP, PSD, PR, PTB, PRB, PDT, PC do B e PROS – são 329 representantes pró-governo, contra 181 da oposição.

Mas o recém-eleito presidente da Câmara, Eduardo Cunha, apesar de PMDB, é inimigo e sua vitória representa uma derrota do governo. Cunha é desafeto pessoal de Dilma e, a julgar pela festa que fizeram os opositores do PT, maior esperança dos que acreditam na possibilidade do impeachment da presidente.

O PT tinha candidato próprio, Arlindo Chinaglia. Os partidos que o apoiavam somavam 180 cadeiras. Mas ele teve 44 votos a menos. Ao que tudo indica, PR, PSD e PDT lideraram as traições.

Mesmo o PRB, sigla do nobilíssimo ministro do Esportes George Hilton, o pastor aliado do bispo Macedo que vai tocar nada menos que as Olimpíadas do ano que vem, fechou com Eduardo Cunha.

Quem é situação? Quem é oposição?

Toda essa guerra de foice se passa no interior da “base aliada” do governo.

Para tentar conter a sangria, o governo Dilma vai que ter que distribuir cargos de segundo e terceiro escalão para o bloco liderado pelo PMDB, sob pena de ser vítima de rebeliões.

O “pemedebismo” é isso: a necessidade de formar supermaiorias para governar – e ter de pagar o preço em cargos, traições, puxações de tapete.

A chantagem segue como principal moeda de troca do sistema político no Brasil."


*Flavio Moura é jornalista e doutor em Sociologia pela USP
Imagem: reprodução/ultimosegundo.ig/Foto: Câmara dos deputados


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