sábado, 2 de junho de 2018

Política, poder e economia: 'Pontos para embasar uma análise de conjuntura'

Por Maurício Abdalla*, no Le Monde Diplomatique, em 24/05/2017 - "O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas metas de maximização dos lucros".
1 - O foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial com dimensões globais e conformações específicas locais.

2 - Os donos do poder não são os políticos. Estes são apenas instrumentos dos verdadeiros donos do poder. 

3 - O verdadeiro exercício do poder é invisível. O que vemos na verdade, é a construção planejada de uma narrativa fantasiosa com aparência de realidade para criar a sensação de participação consciente e cidadã dos que se informam pelos meios de comunicação tradicionais.  

4 - Os grandes meios de comunicação não se constituem mais em órgãos de "imprensa", ou seja, instituições autônomas, cujo objetivo é a notícia, e que podem ser independentes ou, eventualmente  compradas ou cooptadas por interesses. Eles são, atualmente, grandes conglomerados econômicos que também compõem o complexo financeiro-empresarial que comanda o pode invisível. Portanto, participam do exercício invisível do poder utilizando seus recursos de formação de consciência e opinião. 

5 - Os donos do poder não apoiam partidos ou políticos específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes estorva. Isso muda de acordo com a conjuntura. O exercício real do poder não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado e do lucro. 

6 - O complexo financeiro-empresarial global pode apostar ora em Lula, ora em um político do PSDB, ora em Temer, ora em um aventureiro qualquer da política. E pode destruir qualquer um desses de acordo com sua conveniência.

7 - Por isso, o exercício do poder no campo subjetivo, responsabilidade da mídia corporativa, em um momento demoniza Lula, em outro Dilma, e logo depois Cunha, Temer, Aécio, etc. Tudo faz parte de um grande jogo estratégico com cuidadosas análises das condições objetivas e subjetivas da conjuntura. 

8 - O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas metas de maximização dos lucros.

9 - Assim, os donos do poder não querem um governo ou outro à toa: eles querem, na conjuntura atual, a reforma na previdência, o fim das leis trabalhistas, a manutenção do congelamento do orçamento primário, os cortes de gastos para o serviço da dívida, as privatizações e o alívio dos tributos para os ricos. 

10 - Se a conjuntura indicar que Temer não é o melhor para isso, não hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é que o povo brasileiro decida sobre o destino de seu país. 

11 - Portanto, cada notícia é um lance no jogo. Cada escândalo é um movimento tático. Analisar a conjuntura não é ler notícia. É especular sobre a estratégia que justifica cada movimento tático do complexo financeiro-empresarial (do qual a mídia faz parte), para poder reagir também de maneira estratégica. 

12 - A queda de Temer pode ser uma coisa boa. Mas é um movimento tático em que uma estratégia mais ampla de quem controla o poder. O que realmente importa é o que virá depois.

13 - Lembremo-nos: eles são mais espertos. 
Por isso estão no poder. 

*Maurício Abdalla é professor de filosofia na Universidade Federal do Espírito Santo 

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Imagem: reprodução

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