terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Oscar 2020: Joaquin Phoenix vence com Coringa porque é o reflexo de uma sociedade louca (e dolorosamente real)

Da Redação do site Rolling Stone - "Desigualdade, corrupção, cortes de gastos, figuras públicas ameaçadoras e uma população ansiosa. O mundo está em 1980 ou 2020? Como um dos maiores reflexos da sociedade, as produções cinematográficas servem como objetos de estudo do próprio tempo. Se não reproduzem a realidade, essas obras nos atentam a um cenário próximo.
Um bom exemplo é a maior aposta da DC, Coringa, indicado em 11 categorias (Melhor Filme, Melhor Ator, Fotografia, Direção, Edição, Cabelo e Maquiagem, Trilha Sonora Original, Edição de Som, Mixagem de Som e Roteiro Adaptado) na premiação mais importante, o Oscar.

A 92ª cerimônia de entrega dos Academy Award aconteceu na madrugada deste domingo, 9, e consolidou a estrondosa repercussão da produção mais subversiva da história dos quadrinhos dirigida por Todd Phillips e estrelada por Joaquin Pheonix

Ambientado em uma Gotham que faz alusão a Nova York do início dos anos 1980, o filme captura o espírito desse tempo: a ascensão neoliberalista, falência do Estado, a criminalidade e uma população negligenciada. Apesar das quatro décadas de diferença, a obra brinca com o nosso presente.

Uma das semelhanças é a aproximação da figura política retratada em Coringa: Thomas Wanye, o empresário que se propõe a salvar a cidade ao se candidatar para prefeito, com o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, outro empresário que se projetou como a solução das deficiências do poder público de Nova York. 

Por outro lado, a produção acompanha a dormência de uma sociedade fadada ao caos que centra essa angústia gradual no protagonista, Arthur Fleck / Coringa. Os problemas de saúde mental, traumas de infância, frustração profissional e a solidão caminham em direção à violência por falta de amparo. 

Esse retrato, que por si só já soa perigoso, quando transportado para a realidade é ainda mais sombrio por apresentar que o acúmulo de questões, internas e externas, podem levar uma pessoa inserida em uma sociedade desordenada a ultrapassar os limites.

Não é por acaso que essa imagem - unida a atuação admirável de Joaquin Pheonix e a exatidão do diretor ao criar essa linha tênue entre o bem e o mal - tenha sido alvo de preocupações. 

Os primeiros pontos levantados sobre a produção, inclusive, enfatizam de que ele poderia inspirar ações violentas e alimentar a cultura incel [abreviação de involuntary celibates (celibatos involuntários, em português), um termo usado para nomear um grupo de homens, quase exclusivamente formado por heterossexuais adultos que têm dificuldades para se relacionar sexualmente com mulheres]. Essa comunidade tem históricos reais de violência, principalmente os tiroteios em massa nos Estados Unidos. 

Para os críticos, as primeiras impressões foram duras. Segundo Stephanie Zacharek, da revista Time, a produção transforma "um cara triste que não consegue marcar um encontro em um herói assassino". Enquanto Robbie Collin, do Telegraph, escreveu que Coringa "vai causar problemas" e que a produção "deveria ter sido trancada em uma caixa, depois jogada no oceano e nunca lançada".

Por outro lado, a cineasta argentina Lucrécia Martel, presidente do júri do Festival de Veneza - no qual o filme foi ovacionado durante oito minutos -, afirmou que "Coringa é um retrato poderoso deo nosso tempo, e que por espelhar algo latente, não deve ser ignorado".

Desde 1940, quando o Coringa foi lançado, o personagem - apesar de sobreviver com a mesmo imagem há 80 anos - evoluiu e incorporou várias formas a cada nova produção. Tudo isso é resultado do espaço-tempo no qual o Coringa foi inserido.

Se agora, neste retrato premiado, ele soa tão desconfortável e carregado de controvérsias, é porque ainda estamos vivendo nessa caixa de representações: exclusão social, desprezo, intolerância, falta de suporte do Estado, sensacionalismo midiático (completamente coerente aos tempos atuais e essencial para a narrativa) e ascensão de figuras públicas ameaçadoras, que não se restringe apenas a cultura e política norte-americana, muito menos apenas às décadas passadas." 

Imagem: reprodução/Foto: divulgação/Warner

[Oscar 2020: "A 92ª edição da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que começou confirmando as expectativas e as previsões surpreendeu nas últimas categorias. Pela primeira vez, o mesmo filme leva o Oscar de Melhor Filme Internacional e Melhor Filme. Este ano foi o longa-metragem sul-americano Parasita, dirigido por Bong Joon-ho, que ainda levou outras duas estatuetas: Melhor Direção e Melhor Roteiro Original, sendo o mais premiado da noite". Joaquin Pheonix levou o prêmio de Melhor Ator, por Coringa, filme premiado na categoria Melhor Trilha Sonora]    

[Brasileiro 'Democracia em Vertigem' perde o Oscar para 'Indústria Americana' - Democracia em Vertigem, de Petra Costa, perdeu a estatueta de Melhor Documentário para Indústria Americana. "Mesmo antes de abrir o envelope, mesmo de estar na presença dos colegas, irmãos e irmãs que arriscam suas vidas trazendo histórias sobre hospitais que estão sendo bombardeados, sobre a crise política no Brasil, vocês nos inspiram", disse a cineasta Julia Reichert ao receber o  prêmio na noite deste domingo (9). Co-dirigido com Steven Bognar, Indústria Americana - uma produção da Netflix como Democracia em Vertigem e financiado pelo casal Barack e Michele Obama - conta a hostória de trabalhadores de uma fábrica da General Motors em uma cidade no estado de Ohio que ficam desempregados depois do fechamento do local.

A vencedora do Oscar de melhor documentário cita manifesto comunista - "Alguns Internautas vibraram por 'Democracia em Vertigem' não ter levado a estatueta por ser 'comunista', mas não esperavam que o manifesto seria enaltecido". No discurso, a diretora do documentário 'Indústria Americana' criticou as más condições de trabalho, a exploração da força de trabalho e ao final afirmou que a vida das pessoas só vai mudar quando os trabalhadores do mundo se unirem, fazendo referência ao 'Manifesto Comunista', escrito por Karl Marx, Friedrich Engels, em que diz: "Trabalhadores do mundo uni-vos". 

O documentário "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, "foi aclamado mundialmente por seu amplo retrato do que foi o Golpe de Estado contra Dilma Rousseff em 2016, suas causas, consumação e consequências". Entre as honras que recebeu, está a de ser escolhido entre os cinco melhores do ano pela Academia de Cinema de Hollywood]

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