O que fazer com Braga Netto. Por Moisés Mendes
Será que pode se livrar? Não no sentido de dispensar o general como membro do governo, o que de fato é quase impossível, mas como seu vice-presidente praticamente já escolhido.
Braga Netto pode cair antes de ser formalmente anunciado como futuro substituto de Hamilton Mourão e ser dispensado da parceria na eleição, para que a imagem das Forças Armadas seja preservada?
O risco real é o da exploração das compras numa campanha em que o vice deve ser apontado como o homem que sabia ou deveria saber, como então ministro da Defesa, da aquisição de próteses penianas e de Viagra durante sua gestão.
Braga Netto estaria exposto como um general poderoso omisso diante de aquisições tecnicamente inexplicáveis e moralmente insustentáveis.
Vamos a um exercício sobre o conhecimento da realidade de Brasília e do poder, para ajudar na reflexão sobre o possível destino do futuro candidato a vice.
Pensem nesses nomes. Lauro Luís Pires, João Carlos Corrêa, Franklimberg Freitas, Antônio Carlos Moretti e Eduardo Camerini.
São personagens escolhidos aleatoriamente entre ex-ocupantes de altos cargos que foram dispensados do governo Bolsonaro. Todos são militares das mais altas patentes.
Os três primeiros são generais, o quarto é almirante e o último é brigadeiro. Só alguém com destreza e aptidão por assuntos militares sabe quem são eles. E meia dúzia deve saber o que eles faziam no governo.
Desde que assumiu, em janeiro de 2019, Bolsonaro demitiu 18 generais. O mais recente foi Joaquim Silva e Luna, que presidia a Petrobras.
Também demitiu cinco brigadeiros e mais dois almirantes. Entre os militares que Bolsonaro mandou embora, mesmo que formalmente tenham pedido para sair, estão os chefes das três armas e o ministro da Defesa, que saíram em março do ano passado.
Ganha um Kit com uma caixa de Viagra, uma prótese peniana de bom tamanho e cinco quilos de filé quem souber dizer, sem pensar muito, os nomes desses quatro militares.
É provável que, fora do meio militar e da política, o brasileiro médio também não saiba direito quem é Walter Souza Braga Netto. Mas cada vez vai saber mais, por notícia boa ou notícia ruim.
Braga Netto é talvez o único general que Bolsonaro não pode mandara embora. Porque foi fortalecido como o seu general preferido, mais do que Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos, porque é o mais impetuoso, conhece a realidade do Rio, deve saber tudo da família e porque já foi 90% anunciado como vice.
Afastá-lo da chance de vir a ser o vice-presidente, com a ampliação do seu poder político, num governo que seria ainda mais militarizado no segundo mandato, é condená-lo à estagnação e aos ostracismo.
Braga Netto é assessor especial de Bolsonaro, desde que saiu do Ministério da Defesa no fim de março para ser o vice.
Pode ser substituído, por pressão de aliados, por Tereza Cristina ou Damares Alves, que para alguns agregam mais do que o general?
Poderia, se descartado, voltar a ser ministro da mesma área? É improvável, porque seria andar para trás.
Bolsonaro não deve correr o risco de mexer com o humor do líder maior entre todos os generais que tutelam seu governo e tudo o que eles representam.
Mas Braga Netto passa a ser testado por sobressaltos diários, a cada descoberta das listas de compras dos militares.
O general pode, se as listas se avolumarem e ficarem mais assustadoras, transformar-se num fardo fardado a ser carregado por Bolsonaro.
Imagem: reprodução/Foto: ABr

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