quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Futebol: Crise do apito, crise do VAR e o avacalhamento da tecnologia

Por Lenio Luiz Streck, no Conjur: Ninguém mais (se) aguentou. Tantos erros, tantas tristezas, mais de mil palhaços na arquibancada e arlequim chorou demais pelos gols validados, invalidados, pênaltis, expulsões erradas...que a CBF resolveu chamar os árbitros na chincha. Poxa, onde se viu? Mesmo com vídeo, a mais alta tecnologia, e os roubos continuam? Assim não dá.
www.seuguara.com.br/VAR/tecnologia/futebol/

Trouxeram o VAR para o Brasil e, aqui, apatifaram. É um gritedo nos áudios e, logo depois, a parada para olhar. Para o vídeo, anda o vídeo, coloca a linha, tira a linha e, quatro minutos depois, o árbitro sai correndo para mostrar que foi gol ou calar a torcida que já vibrara. Mais pra lá, mais pra cá!


Como é possível que, mesmo com o VAR, não seja possível constatar se houve ou não a penalidade? Não acreditam na imagem? Precisam de lições de empirismo? O leitor de jornal de Wittgenstein: não acreditava no que lia, então comprava mais um exemplar pra tirar a dúvida.

Vamos repetir a imagem, vai que da próxima não seja pênalti!


Sabem qual é o problema? Em vez de os árbitros de vídeo deixarem que a imagem lhes diga algo, eles é que dizem para a imagem. Contra mim imagens não tem argumentos? Tem sim. A do gaito da cabine do VAR.

Parece a área jurídica. Põe-se a lei; põe depois uma sumula sobre a lei. E, mesmo assim, o causídico não consegue demonstrar que tem razão. Porque o juiz briga com a imagem. O JusVar.


Parece que vão criar embargos de declaração para as decisões do VAR. E que serão respondidas pelo árbitro de vídeo assim: está pretendendo revisar o mérito da jogada; com base na minha convicção, rejeito os embargos. 

Ou algo assim. Vai saber. Logo surgirão "teses" sobre marcação de pênaltis: tocar no adversário e não lhe tirar o espaço é circunstância que não enseja a marcação. "Bem claro", não? Até que surja nova mudança de entendimento...


Bem, agora, depois do cursinho que a CBF deu para os árbitros dias atrás, a coisa vai funcionar. Ah, vai.

Fica uma lição, pelo menos, àqueles que acham que  tecnologia vai salvar o mundo, vai resolver todos os problemas, dispensando livros, professores, bibliotecas e boas universidades tradicionais. O VAR veio para acabar com os erros e com a falta de critérios. Mas e quando a aplicação do VAR se dá sem critérios e seu uso é arbitrário? Traça a linha aqui, Não, mais pra lá. Gol legal...ups, tinha impedimento no início da jogada e ninguém viu.


Adoro os profetas do vídeo. Profetas da imagem. Pior: os profetas da imagem (os comentadores) não acertam nem profecias sobre o que ocorreu. Mesmo que tudo esteja filmado.


Lembrem-se disso quando acharem que os algoritmos e a inteligência artificial são a solução para o direito. Não adianta apostar no robô e seguir sem enfrentar a praga do livre convencimento. Quem programa o robô? O algoritmo não resolve nada quando a arbitrariedade vem antes.


Como se resolve? VAR do VAR? Até que será preciso o VAR do VAR do VAR... e assim vamos.

O VAR mostra: apostar nos algoritmos e nos precedentes não vai nos levar a lugar nenhum.

Talvez nos leve, na verdade. Direto para o hospício.


Imagem: reprodução


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