sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Dados que mostram como brasileiros ricos passam bem pela pandemia

- Eles representam cerca de 2% da população brasileira, mas seus gastos são equivalentes a quase 20% do consumo nacional - Em meio à pandemia, enquanto a maior parte do país sofria com perda de renda, em meio ao avanço do desemprego e da inflação, os brasileiros mais ricos se viram impedidos de gastar em viagens internacionais e em compras nas principais capitais do consumo do mundo.

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Com um "poupança forçada" pela mudança de hábitos, eles gastaram em luxos no mercado nacional e investiram volume recorde de dinheiro no exterior.


Assim, enquanto parte da população fazia fila para receber ossos no açougue, em meio aos preços recordes da carne e ao avanço da fome, outra parcela - bem menor - aguardava na fila para comprar um helicóptero.

Segundo um fabricante ouvido pela BBC News Brasil, a espera por uma aeronave nova chegou a 20 meses, dependendo do modelo, em meio a um salto de demanda.


A fabricante de carros de luxo Porsche bateu recordes de vendas no país em 2020 e 2021, enquanto o setor imobiliário de luxo e super luxo - de apartamentos acima de R$ 1 milhão e R$ 2 milhões, respectivamente - registrou um crescimento de mais de 80% nos lançamentos e de 47% nas vendas.

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Segundo a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor, a chamada "classe A" brasileira representava 2% da população em 2021. 

São pessoas com renda anual acima de US$ 450 mil (R$ 248 mil ao ano ou cerca de R$ 21 mil por mês, ao câmbio atual), cujos gastos equivaleram no ano passado a 19,4% do consumo nacional.


Embora a classe A tenha diminuído após dois anos de pandemia (ela representava 2,7% da população em 2019, segundo a Euromonitor), o consumo dessa parcela de maior renda foi bem menos afetado pela crise sanitária do que o restante da população.

"Os consumidores ricos acumulavam reservas involuntárias importantes por conta das opções de lazer reduzidas e das limitações sociais impostas pela pandemia", observa Guilherme Machado, gerente de pesquisa da Euromonitor Internacional.


"A maioria dos brasileiros desses grupos de maior renda está acostumada a viajar para o exterior e comprar itens de luxo nos principais centros globais de consumo, como Nova York, Paris e Londres. Mas, com o fechamento de fronteiras, esses consumidores têm buscado o prazer no mercado de luxo local, resultando em níveis de faturamento sem precedentes para algumas marcas de luxo", destaca o pesquisador.


Uma dessas marcas foi a Porsche. Enquanto a venda de automóveis de passageiros em geral no Brasil despencou 28% em 2020 e caiu mais 3,6% em 2021, em meio a paradas de produção provocadas por uma escassez global de semicondutores, a marca de luxo bateu recordes de vendas no país nos dois anos da pandemia.

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Em meio a um salto de demanda, o mercado brasileiro de helicópteros e jatos executivos viu a fila de espera pelos produtos chegar a até 20 meses durante a pandemia.

"O mercado vinha represado há um tempo devido aos problemas econômicos brasileiros. Com o advento da covid e do lockdown, houve uma demanda maior, principalmente em helicópteros na via VIP e o que chamamos de 'para público', como política e bombeiros", diz Rubens Cortellazzo, gerente de vendas da fabricante italiana Leonardo Helicópteros.

"Área VIP são operadores civis, como empresas de grande porte, empresários e táxi aéreo", explica o executivo, sobre o sentido no mercado de helicópteros da sigla que em inglês quer dizer "very important person" (pessoa muito importante, em português).

Segundo Cortellazzo, as vendas para o segmento privado forma impulsionadas pelo medo do contágio e pela redução na oferta de voos comerciais durante a pandemia.


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As vendas de apartamentos de luxo e super luxo bateram recorde nos primeiros nove meses de 2021.

São empreendimentos com três ou quatro suítes, metragens amplas acima dos 100 m², janelas e pés direitos generosos e grande número de vagas na garagem.

Em janeiro e setembro do ano passado, os lançamentos neste mercado chegaram a 7,6 mil unidades, alta de 81% em relação a igual período de 2020. No mercado imobiliário brasileiro em geral, os lançamentos cresceram 30% na mesma base de comparação.


Em vendas, o avanço do mercado de luxo e super luxo foi de 47% nos nove primeiros meses de 2021, com mais de 10 mil unidades comercializadas, superando R$ 15,4 bilhões em valor geral de vendas, segundo dados da Brain Inteligência Estratégica, consultoria especializada no mercado imobiliário.


Para Marcos Kahtalian, sócio fundador da Brain, um dos fatores que impulsionou as vendas no mercado imobiliário de alto padrão no período recente foi a taxa de juros em nível baixo - a Selic (a taxa básica, determinada pelo Banco Central) começou 2021 em 2%, menor percentual da história.

"Isso injetou uma grande liquidez no mercado e atraiu recursos ao setor imobiliário, já que outros investimentos estavam com retornos muito baixos", diz Kahtalian.


"Outro fator, foi comportamental: em função da pandemia, houve uma busca intensa - para aquelas pessoas que tinham renda, evidentemente - por moradias maiores, mais amplas, mais confortáveis, tanto nas capitais, quanto fora delas. Houve um movimento em busca de espaço e qualidade", observa o consultor. 


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Por fim, um último dado que mostra como o chamado andar de cima passou com tranquilidade pela pandemia vem do mercado financeiro.

Segundo dados do Banco Central, o investimento financeiro brasileiro no exterior superou os US$ 18 bilhões (R$ 100 bilhões) entre janeiro e novembro do ano passado, alta de 76% em relação a igual período de 2020 e recorde da série história iniciada em 1995.


Conforme Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getúlio Vargas), isso se deve à maior facilidade atual para investir em produtos internacionais e à forte alta recente do dólar em relação ao real, que leva investidores a buscarem a segurança de ter parte do seu dinheiro fora dos riscos da economia brasileira.


"Esse tipo de investimento se popularizou de alguma maneira, saiu daquele cliente 'private' com milhões de reais. Mas ainda não é um produto que qualquer brasileiro tem, estamos falando das camadas mais ricas, de um segmento de varejo de alta renda", diz a professora.

"É um público que tem o dólar como uma moeda importante no seu dia a dia, em viagens de férias ou hábitos de consumo atrelados ao dólar, como itens de luxo e vinhos. Então, para essas pessoas, ter uma parte do seu investimento em moeda forte ajuda, como uma forma de diversificar e de se proteger de altas de preços", observa a especialista em finanças.


"São pessoas que me sua maioria não perderam renda na pandemia e reduziram suas despesas, porque gastam muito com restaurantes, entretenimento e viagens de férias no exterior. Com o distanciamento, essas pessoas conseguiram guardar mais dinheiro."


Para Yoshinaga, apesar de a alta do dólar deixar os investimentos no exterior mais caros e a alta de juros no Brasil tornar os investimentos locais mais atrativos, a volatilidade do ano eleitoral deve continuar estimulando brasileiros a buscar investimentos no exterior, como uma forma de diminuir sua dependência do que acontece na economia nacional.


Reportagem de Thais Carrança, na BBC Brasil

Imagem: reprodução/Getty Images



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