Por que é incorreto afirmar que institutos de pesquisas "erram" resultados eleitorais
Ela continua: "O povo peca pela falta de memória. Sabe quanto o Zema tinha? 20, 23%. Sabe quanto ele teve? 42%. Gente, isso não é margem de erro de 2%, é de 20%, então o Datafolha não dá".
Apesar de a narrativa de que pesquisas eleitorais erram resultados ser frequente nas redes sociais, o argumento é incorreto.
Isso porque pesquisas são deferentes de prognósticos, como explicou Antonio Lavareda, cientista político vinculado ao instituto Ipespe, em evento da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), em 3 de maio de 2022.
"As primeiras concernem a opiniões, a preferências por candidatos, ou seja, a atitudes, ao passo que os prognósticos dizem respeito a antecipações sobre as probabilidades dos diversos candidatos ganharem a eleição e com que desempenho nas urnas, ou seja, versam sobre o comportamento dos eleitores", disse ele.
Outros fatores mencionados por Lavareda para explicar por que pesquisas não devem ser interpretadas como prognósticos eleitorais foram a alienação eleitoral, que se refere a abstenções, votos brancos nulos, a decisão de voto tardia, e o voto estratégico, usado por eleitores para "prevenir um resultado específico quando sua escolha original não tem chance de ganhar, e eles preferem evitar a vitória indesejada de outro candidato", definiu o cientista politico.
Além disso, os inquéritos populacionais feitos nessas pesquisas fornecem estimativas de votos em um espaço de tempo bem definido, nesse caso o período de coleta da pesquisa, aponta Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center, da Universidade:
"Caso as preferências de voto do eleitorado mudem entre o período de coleta da pesquisa e a eleição, seja qual for o motivo (algum evento político, ou porque a preferência de voto ainda não estava bem consolidada, por exemplo), as pesquisas não têm como captar essas alterações e suas estimativas não refletiram aquilo".
Entrevistados são instruídos a responder em quem votariam se as eleições fossem naquele dia. Portanto, completa Nishimura, seus resultados são válidos para aquele momento específico.
"Tecnicamente, não é correto comparar os resultados de uma pesquisa pré-eleitoral com o pleito eleitoral, pois são momentos distintos, e as preferências eleitorais podem mudar de um tempo para outro", explica o estatístico. A única exceção, segundo ele, são as pesquisas de bocas de urna, por serem realizadas no dia da eleição, com eleitores que já votaram.
O problema de análises que apontam erros nas pesquisas eleitorais está, então, na ideia de que o objetivo desses levantamentos é acertar resultados de eleições, pondera Felipe Nunes, professor de ciência política na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor do instituto de pesquisa Quaest. "Pesquisa serve para descrever como a opinião pública está naquele momento, para que a gente possa entender, do ponto de vista probabilístico, para que lado as coisas estão caminhando".
Nishimura concorda, apontando que os levantamentos eleitorais são importantes para entender o eleitorado em um determinado momento, mas mais que isso: "Uma série delas pode nos dar uma noção das tendências do eleitorado e para onde ele parece estar indo".
Pesquisas são, portanto, retratos do momento, que indicam tendências quando levantamento vão se somando uns aos outros, define Felipe Borba, cientista político e coordenador do Grupo de Investigação Eleitoral (Giel) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
Ele explica que em alguns momentos, a população realmente muda de opinião em uam velocidde muito rápida. A eleição do então governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, citado no vídeo viral, exemplifica essa mudança: "O Witzel era um completo desconhecido, e na última semana, ele foi ganhando votos dia após dia. As pesquisas às vezes não conseguem acompanhar a velocidade com que a opinião pública muda", comenta.
Assim, pesquisas que analisaram intenção de voto no primeiro turno das eleições para governador do Rio de Janeiro mostraram Witzel com 12% dos votos válidos, no caso do Ibope, e 17%, no caso do Datafolha.
Já na disputa de segundo turno no estado, os levantamentos capturaram a mudança de atitude dos eleitores fluminense, com resultados muito próximos aos da eleição (1, 2).
O caso de Romeu Zema, eleito governador em Minas Gerais com 71,8% dos votos, foi parecido: a rápida mudança do eleitorado não foi captada nas pesquisas de primeiro turno. Ainda que tenham indicado uma disparada de Zema na isputa, Datafolha e Ibope deram, respectivamente, 24% e 18% dos votos válidos para o então candidato. Naquele pleito, ele conquistou 42,73% dos votos.
No segundo turno, contudo, os dois institutos indicaram resultados similares aos das eleições: 71%, no caso do Datafolha e 67% no caso do Ipobe.
Imagem: reprodução

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