quinta-feira, 25 de agosto de 2022

No Paraná, é cada vez mais comum fatos corriqueiros descambarem para a violência

Reportagem de Rodolfo Luiz Kowalski, no Bem Paraná: - Promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná constata que a intolerância está em alta em nossa sociedade e dá a dica: 'Conte até 10' - As cenas de violência se acumulam. Na semana passada, por exemplo, uma família foi ofendida e escorraçada de um restaurante em Curitiba por torcedores do Athetico. O "crime" que eles cometeram? Vestir camisas do Flamengo, time adversário.
www.seuguara.com.br/Paraná/violência/intolerânica/discussões/

Em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, uma festa de aniversário terminou em morte em julho último, tudo por causa de divergências políticas. Já em Cascavel, também no oeste paranaense, uma discussão no trânsito no final de março terminou com um jovem motociclista de 21 anos morto a tiros por um motorista de 54 anos.

Ocorrências assim, em que desentendimentos corriqueiros acabou escalando e culminando em situações mais graves (como casos de lesão corporal ou mesmo homicídio), estão se tornando cada vez mais comuns no Paraná. É o que constata o promotor de Justiça Alex Fadel, do Ministério Público do Paraná, apontando uma intolerância crescente na sociedade.


"O número de casos envolvendo esse tipo de intolerância é crescente, tanto por conta das informações que nos chegam por meio de filmagens e gravações, mas também porque os casos têm aumentado numericamente, sim, sem sombra de dúvida", disse o promotor em entrevista ao programa MP no Rádio, realizado pela Assessoria de Comunicação do MPPR e que na edição desta semana tratou da chamada violência de ímpeto, que são aqueles crimes não planejados, não premeditados.


Segundo o promotor, via de regra tudo começa com uma situação desagradável, um dissabor. "Uma confusão zinha no trânsito, alguém que fura uma fila num banco, num comércio qualquer", exemplifica. Em seguida, vem o xingamento. Ou uma troca de xingamentos. As coisas começam a esquentar, o estresse aumenta e as coisas pode acabar saindo de controle.


"De um mero xingamento, de uma mera ameaça, a coisa pode tomar proporções mais sérias, com os envolvidos partindo para uma via de fato, uma lesão corporal, um soco, algum tipo de briga física. E a partir do momento em que a pessoa é agredida fisicamente, o instinto quiçá natural da pessoa é se proteger. E como se dá a proteção nessas situações? Por meio do revide. Ação e reação. Então o que era simplesmente um esbarrão, um xingamento qualquer, acaba se tornando alguma coisa mais séria, desembocando num crime extremamente grave, como uma lesão corporal grave ou gravíssima ou até mesmo num homicídio ou tentativa de homicídio", explica Fadel.


Os casos citados na abertura da reportagem são alguns poucos exemplos, de maior repercussão, de situações assim registradas apenas neste ano, apenas no Paraná. Os relatos e notícias, no entanto, são ainda mais numerosos.

Em Japurá, no noroeste do Paraná, por exemplo, dois policiais militares se desentenderam no trânsito no último domingo. O que começou com uma discussão acabou em troca de tiros, com um policial sendo preso e outro ficando gravemente ferido.


No começo deste mês, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) outra situação de violência. Duas pessoas se encontraram num bar no bairro Vargem Grande. Conversaram, chegaram a se abraçar. Mas após uma bebedeira, discutiram e um dos homes sacou uma pistola e atirou no tórax da vítima, que não resistiu aos ferimentos.

Poucos dias antes, na Lapa, também na RMC, dois amigos bebiam juntos, mas acabaram discutindo a certa altura. Foi quando um deles pegou um cachado e desferiu dois golpes no colega, pelas costas, matando-o.


Conte até 10 antes de tudo


Além de atuar na repressão a esse tipo de conduta, o Ministério Público do Paraná também atua em prol da educação e conscientização das pessoas para que tenham mais respeito, empatia e tolerância no convívio social, de forma a evitar tragédias. Com esse intuito, inclusive, foi criada a campanha 'Conte até 10', que atende escolas, faculdades, empresas e o comércio em geral (principalmente bares e casa noturnas) para fazer com que as pessoas, antes de tomar qualquer tipo de providência impensada, provocativa, parem e pensem.


"Conte até 10. Pare e pense sobre as consequências de seu ato, porque se envolver numa confusão pode trazer seríssimas consequências a nível patrimonial e, inclusive, na sua própria liberdade, se você for réu. Mas também pode se tornar a vítima. Você não sabe com quem está lidando do outro lado. Se você não quer uma vítima de crime, não se envolva em confusão também. Então conte até 10", apela o promotor de Justiça Alex Fadel.


Já se você verificar uma situação desse tipo envolvendo outras pessoas, não precisa assumir o papel de herói. " A depender do ânimo das pessoas envolvidas, não é nada recomendável entrar no meio da briga. Se não tem nada a ver com essa situação, pegue o telefone e ligue para a polícia. Mas se a confusão não chegou nesse ponto de estresse, um terceiro pode apaziguar, vale a pena. Vai lá, fala 'cara, pare com isso, conte até 10' para conter o ânimo dos envolvidos nessa situação", destaca o promotor.


Um em cada cinco homicídios são cometidos por impulso ou motivo fútil


Um levantamento feito entre 2011 e 2012 pelo MPPR demonstra a importância das pessoas contarem até 10 para evitar contribuir com o quadro de banalização da violência no país, prevenindo os homicídios que acontecem por motivos fúteis ou por ações impulsivas. Esse estudo, que analisou os homicídios ocorridos no período referido, identificou que, no Paraná, 23,33% dos crimes contra a vida tiveram motivação fútil ou foram cometidos por impulso.


Com a banalização da posse e porte de armas em todo o país, há um temor de que esse índice possa se tornar ainda mais expressivo e que ainda mais vidas sejam perdidas para a violência. Por isso, o apelo é para que as pessoas que portam arma de fogo tenham ainda mais tolerância e paciência do que qualquer outra pessoa.


"Quem tem uma arma de fogo está a um passo de puxar o gatilho e eliminar a vida de uma outra pessoa. Quem não tem uma arma de fogo vai precisar de uma faca, uma pedra, uma arma branca para matar outra pessoa, o que dificulta um pouquinho a sua ação. Quem porta uma arma de fogo está mais próximo de cometer um crime seríssimo, porque o instrumento arma de fogo basta puxar o gatilho para gerar lesões gravíssimas ou a morte de uma pessoa", comenta o promotor de Justiça Alex Fadel.


Imagem: reprodução/Foto: Franklin de Freitas


RSS/Feed: Receba automaticamente todas os artigos deste blog.
Clique aqui para assinar nosso feed. O serviço é totalmente gratuito.

0 comments:

Postar um comentário

Seu comentário é muito importante para agregar valor à matéria. Obrigado.

Arquivos

Site Meter

  ©Blog do Guara | Licença Creative Commons 3.0 | Template exclusivo Dicas Blogger