Sardenberg, as unanimidades e a síndrome do dedo-duro, por Luis Nassif
E expõe a mídia brasileira ao ridículo.
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— Revista Fórum (@revistaforum) March 4, 2022
Guga Chacra e Carlos Sardenberg batem boca ao vivo sobre guerra na Ucrânia
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O episódio, em questão, é ridículo. Mas repete didaticamente o clima que acometeu o país na ditadura militar e repetiu-se na ditadura civil imposta pela mídia nos últimos anos. É quando qualquer opinião contrária implica em risco para quem ousa ficar contra a unanimidade e se cria a síndrome do dedo-duro, o sujeito que se considera empoderado para delatar fraquezas políticas dos colegas.
No período da Lava Jato, imagine qualquer jornalista dos grandes veículos meramente colocando em dúvida a legalidade da operação. Seria "dedurado" implacavelmente, como foi Guga Chacra, e condenado ao desemprego.
Mas o caso transcende esse episódio ridículo.
Tome-se outro bom tema de discussão: o Itamaraty fez bem ou não em condenar a invasão, mas ser contra a aplicação de sanções econômicas mais severas contra a Rússia?
Tem-se, de um lado, a maioria absoluta dos países condenando a invasão e impondo guerra sem quartel à Rússia. Na outra ponta, dois países - a China e o Brasil do Itamaraty - condenando a invasão, mas deixando a porta aberta para futuras negociações. Como será possível resolver essa guerra sem uma mediação diplomática, sendo que o país agressor não pode ser simplesmente derrotado por ser a maior potência atômica do planeta?
É evidente que terá que haver uma mediação no final. E, havendo, quem serão os países mediadores? É tema para uma discussão rica, mis ainda se forem incluídas peças que faltam nas análises pedestres da mídia - o papel da China e de sua moeda, a rota da seda, a nova divisão geopolítica mundial etc. Por aí se percebe a complexidade do tem e a posição do Itamaraty, coerente com a tradição diplomática brasileira.
No entanto, há uma uniformização da discussão mesmo em ouros canais, como a CNN, não submetidos ao patrulhamento primário de Sardenberg (o "patrulhador" da CNN é Boris Casoy, que se apresenta só de manhã). O jornalista que ousar fugir do pensamento binário estará perdido.
No início da discussão, há argumentos explicando a posição do Itamaraty. No final do dia, as opiniões estão uniformizadas.
Cria-se um clima generalizado de emburrecimento em todas as frentes. Não se pode criticar Zelensky para não parecer defesa de Putin. Na ponta esquerda, não se pode criticar Putin, para não fazer o jogo do "imperialismo".
A maior vítima da guerra, então, é o jornalismo.
Imagem: reprodução

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