Um modelo superado de debate político, por Luis Nassif
Foi adaptado no Brasil com um condimento tupiniquim: a possibilidade de participação de vários candidatos no mesmo debate, mesmo alguns pontuando zero ponto nas pesquisas. Pior: sem nenhuma espécie de checagem da enxurrada de números que brota dos debates. O sujeito pode mentir à vontade, sem ser incomodado nem pelos entrevistadores nem pelos adversários - em função das regras impostas ao debate.
Por exemplo, Bolsonaro despeja informações de que sua gestão foi a que mais fez pelas mulheres. Lá na frente, uma entrevistadora lembra que, este ano, houve o maior corte da história para investimentos em mulheres. No cipoal de números e chutes do programa, a observação passou em branco e Bolsonaro terá sua resposta editada para ser transformada em memes de redes sociais.
A primeira falha, então, é a ausência de checagem para as afirmações dos candidatos. No máximo, o candidato solta 5 mentiras e eventualmente um adversário desmente uma.
A segunda, é a falta de discernimento na escolha dos candidatos debatedores, provavelmente em função das limitações das regras eleitorais.
Aí, o espectador tem que ouvir dezenas de vezes o zero-candidato Luiz Felipe D'Ávila dizer que a salvação do país é acabar com o Estado. Ou soltar o bordão de que o Brasil gasta com educação valores de primeiro mundo e tem resultados de terceiro mundo - felizmente, no caso, corrigido em cima da bucha por Ciro Gomes. Ao apregoar a honestidade e profissionalmente do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, envolvido até o pescoço em problemas com a Cemig, na indicação de fornecedores indicados pelo Novo.
Ou, então, ouvir dezenas de vezes a candidata Soraya Trhonicke, do União Brasil, apresentar como novidade a fórmula mágica o imposto único e classificar Marcos Cintra, seu autor, como um dos maiores economistas brasileiros.
Cria-se uma dinâmica maluca. Se Bolsonaro tropeça nos seus ataques às mulheres, se Lula vacila na explicação das condenações anuladas, se Ciro é exposto por erros passados, tudo isso é ecoado por uma turba vociferante, no Twitter, como se a eleição fosse decidida em um episódio - em meio a um caos amplo que caracteriza debates dessa natureza.
Pelo próprio formato, acusações mais complexas ou propostas mais amplas não são nem explicadas nem questionadas.
Mais: cria-se uma assimetria entre candidatos com possibilidade de vitória e os demais. Quem não tem perspectiva de vitória, promete tudo. Quem tem, precisa se conter. E, para a parte menos informada do público, a cautela em não fazer propostas descabidas é vista como timidez para governar.
Lula e a corrupção
Lula ainda não conseguiu desenvolver uma explicação simples para esse paradoxo de ter sido condenado em três instâncias, pela Lava Jato, e ser absolvido em 26 julgamentos, quando saíram do foco de Curitiba.
A lógica é simples:
- Sérgio Moro atuou politicamente. Por isso fez acordos com os corruptos para incriminar Lula, em troca de preservar parte do seu roubo. O corrupto dizia que Lula era culpado e ganhava o direito de ser libertado em manter consigo parte do que foi roubado
- Toda delação, para ter validade, precisa ser acompanhada por provas. No caso da Lava Jato, não houve esse cuidado: passaram todas. Bastava a palavra do delator, que ganhou dinheiro para delatar.
- Os demais tribunais julgaram de acordo com as delações.
- Quando o Supremo anulou os julgamentos de Curitiba, as ações foram para outros tribunais. A mudança de foro não significou o fim das investigações. Provas reais, colhidas nas investigações foram mantidas. Quando novos juízes foram julgar os processos, perceberam que nos 26 processos havia apenas delações sem provas. E Lula foi absolvido em todos eles.
- O pagamento de Sérgio Moro foi ser nomeado Ministro da Justiça de Bolsonaro e ganhar contratos de empresas americanas beneficiadas por suas sentenças.

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