sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Petrobras: de onde vêm os factoides?

Uma impressionante reportagem da jornalista Julia Duailibi, do Estadão, revela que Delegados federais da Operação Lava Jato, força-tarefa que investiga o esquema de corrupção na Petrobras envolvendo empreiteiras e partidos, entre os quais o PT, criaram perfis fechados no Facebook onde atacam o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Roussef e exaltam o ex-candidato a presidência, Aécio Neves.
 Além de xingamentos ao PT, Lula e Dilma, o grupo fazia propaganda eleitoral e tecia elogios ao candidato da oposição, enquanto corria a campanha eleitoral do segundo turno. O que chamou mais atenção é o compartilhamento seletivo do conteúdo da deleção premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, à  justiça, cujo processo corre sob sigilo.

Especialmente escrita para o jornal O Estado de S. Paulo, a matéria de Duailibi, foi repercutida aqui, aqui e aqui. Com referências em vários dos chamados blogs progressistas.

Ainda sobre a reportagem o jornalista e escritor Luciano Martins Costa, em artigo para o Observatório da Imprensa fez um importante comentário. Para ele, “um escândalo dentro do escândalo da Petrobras" e "de onde vêm os factoides utilizados pela imprensa para exercer sua influência em questões importantes para a sociedade brasileira, como a eleição para a Presidência da República" .



Transcrevo o artigo na íntegra: 

De onde vêm os factoides?

Por Luciano Martins Costa
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 13/11/2014

"Não há nada mais interessante nos jornais de quinta-feira (13/11) do que a reportagem do Estado de S.Paulo revelando que os delegados federais responsáveis pela Operação Lava-Jato compunham uma espécie de comitê informal do candidato Aécio Neves à Presidência da República enquanto vazavam seletivamente para a imprensa dados do inquérito. A repórter Julia Duailibi teve acesso a perfis restritos do Facebook, nos quais autoridades da Superintendência da Polícia Federal do Paraná agem como os mais fanáticos ativistas da polarização política que marcou a campanha eleitoral.

O texto não explica como a jornalista teve acesso ao material, nem quando, o que autoriza o leitor a considerar que o jornal podia já saber, na ocasião, que a fonte das especulações publicadas pela revista Veja na véspera da eleição era o próprio núcleo de investigações, atuando a serviço do candidato do PSDB. Segundo o relato, praticamente todos os agentes envolvidos na apuração, inclusive o chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários e a titular da delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Desvios de Recursos Públicos do Paraná, onde estão os principais inquéritos da operação, agiam como cabos eleitorais na rede social.

Entre as manifestações coletadas pela repórter há xingamentos vulgares à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula da Silva, e elogios de todo tipo a Aécio Neves – entre eles uma página em que o ex-governador de Minas aparece em montagem de fotografias na companhia de mulheres atraentes. Nessa página, o responsável pela Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, a quem estão vinculados os delegados empenhados na Operação Lava-Jato, escreveu: “Esse é o cara!”

Os policiais citados participam de um grupo fechado autointitulado Organização de Combate à Corrupção (OCC), cujo símbolo é uma caricatura da presidente da República com dois grandes dentes incisivos e coberta por uma faixa onde se lê: “Fora, PT!” O conteúdo repete factoides, mitos, boatos e todo o arsenal usado durante a campanha eleitoral contra a reeleição da presidente.

Inquérito contaminado

A página inicial da organização ainda pode ser acessada (ver aqui) no Facebook, embora a participação seja exclusiva para inscritos sob convite, e apresenta a OCC como “um instituto de orientação da cidadania, da democracia, da promoção do desenvolvimento econômico e social e de outros valores universais”.
Ela remete ao blog da suposta entidade (ver aqui), onde se desenvolvem campanhas em defesa da ditadura militar, teorias conspiratórias e textos que procuram desacreditar alguns profissionais da imprensa – num deles, os autores expõem os repórteres Gustavo Uribe, da Folha de S.Paulo, e Ricardo Chapola, do Estado de S.Paulo.

A OCC tem todas as características de outra organização de extrema-direita que atuou como força auxiliar da repressão nos tempos da ditadura militar: o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) também começou como uma entidade da sociedade civil preocupada com a defesa de supostos “valores universais” e acabou transformado em milícia terrorista, praticando ações extremas como a depredação de uma emissora de rádio, atentados a bomba e o assassinato de um padre católico no Recife.

A reportagem inclui entrevistas com especialistas em Direito Administrativo e Penal para os quais o posicionamento político de delegados na condução de uma investigação pode colocar em xeque a neutralidade e conduzir até mesmo à nulidade de um inquérito. Alguns dos consultados citam a Operação Satiagraha, que levou à destituição e condenação do delegado federal Protógenes Queiroz por vazamento de informações sigilosas. Como se sabe, com essa justificativa a Operação Satiagraha foi esvaziada por decisão do Supremo Tribunal Federal, deixando livre o principal acusado, o banqueiro Daniel Dantas.

A revelação feita pelo Estado de S.Paulo e o que se pode apurar sobre os personagens dessa história compõem um escândalo dentro do escândalo da Petrobras e expõem a perigosa contaminação de toda uma superintendência regional da Polícia Federal por interesses externos ao da atividade policial, o que coloca em dúvida a qualificação de seus agentes para conduzir essa investigação, e, por consequência, de todo o noticiário que se seguiu.

Além disso, revela de onde vêm os factoides utilizados pela imprensa para exercer sua influência em questões importantes para a sociedade brasileira, como a eleição para a Presidência da República."

***
Segundo informação do Congresso em Foco – “O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou nesta quinta-feira (13) que a Corregedoria-Geral da Polícia Federal apure a conduta de delegados federais que, por meio de redes sociais, manifestaram apoio e fizeram elogios ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) durante a campanha eleitoral, além de críticas à presidenta Dilma Rousseff. Seria apenas caso de “liberdade de manifestação”, nas palavras do próprio ministro, não fosse o detalhe de que os delegados atuam na Operação Lava-Jato, que investiga esquema de corrupção envolvendo, segundo denúncias, partidos como o PT de Dilma.” (matéria completa aqui)

Via I Via II
Imagem: reprodução/247

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