sexta-feira, 17 de junho de 2022

O incrível negacionismo do golpe. Por Eduardo Guimarães

Por Eduardo Guimarães, para o 247: Em 17 de junho de 2022, o site do jornal O Globo publica a manchete "Integrantes do governo admitem que Bolsonaro pode atuar para barrar eleições em risco de derrota iminente". Sim, esse período quilométrico é um título.
www.seuguara.com.br/golpe/governo Bolsonaro/mídia internacional/

Primeiro parágrafo: 

"Não se trata mais de uma avaliação externa. Membros do governo Bolsonaro admitem que há riscos de o presidente entrar em campo para tentar cancelar a realização das eleições de outubro, caso realmente acredite que perderá".


Dirá você que essa é uma coluna opinativa e que não há certeza para além da palavra do jornal de que ouviu relatos de uma fonte confiável. Todavia, se esse fosse o único indicativo de que a democracia brasileira está ameaçada, não moveria uma palha para tratar do assunto. Contudo, essa é apenas a última notícia inquietante.

Até o momento em que escrevo...


No maior jornal do planeta, o The New York Times, que faz inveja ao mundo ao ostentar um portfólio de DEZ MILHÕES DE ASSINANTES, reportagem publicada no último dia 12 de junho traz o inquietante título "Novo aliado de Bolsonaro no questionamento das eleições no Brasil: os militares".

Primeiro e segundo parágrafos: 


"O presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, está há meses atrás nas pesquisas antes da crucial corrida presidencial do país. E por meses, ele questionou consistentemente seus sistemas de votação, alertando que se ele perder a eleição de outubro, provavelmente será graças a um voto roubado.

Essa alegações foram amplamente consideradas como conversa. Mas agora, Bolsonaro alistou um novo aliado em sua luta contra o processo eleitoral: os militares do país".


E o último parágrafo explica por que é, diabos, que temos que nos preocupar: 

"O motim do ano passado no Capitólio dos EUA mostrou que as transferências pacíficas de poder não são mais garantias mesmo em democracias maduras. No Brasil, onde as instituições democráticas são muito mais jovens, o envolvimento dos militares nas eleições aumenta os temores".


Se só a opinião da grande imprensa mundial -- e, sim, a maioria da grande imprensa mundial diz o mesmo que o Times -- não é suficiente, vamos ver o maior organismo multilateral da Via Láctea. A ONU emite um "alerta" sobre risco ao "processo democrático" no Brasil.


Primeiro parágrafo da matéria do jornalista Jamil Chade:

"Num ato poucas vezes visto em relação ao Brasil, a ONU cobra independência das instituições nacionais em um ano de eleição, faz um apelo por um processo "democrático", "sem interferência" e alerta para a violência contra mulheres, negros e representantes do movimento LGBTI+ que concorram ao pleito, em outubro".


A maior agência de notícias do mundo, a britânica Reuters, também entra na denunciação da agonia da democracia brasileira. E artigo de 5 de maio, disse que o governo dos EUA já enviou vários recados ao governo Bolsonaro afirmando que a comunidade internacional não aceitará um golpe no Brasil.


Diz o parágrafo:

"O diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estados Unidos disse no ano passado a altos funcionários brasileiros que o presidente Jair Bolsonaro deveria parar de lançar dúvidas sobre o sistema de votação de seu país antes das eleições de outubro, disseram fontes à Reuters".


Não basta? Então que tal sabermos a posição da potência hegemônica norte-americana, famosa por um histórico de golpismo no século 20, inclusive no Brasil. O diplomata norte-americano Scott Hamilton, que até o ano passado foi consul dos EUA no Rio de Janeiro, publicou um artigo no jornal O Globo em 30 de abril de 2022 dizendo que há risco de golpe militar no Brasil. Esse artigo foi o estopim de um sem-número de "recados" do governo norte-americano a Bolsonaro.


Primeiro parágrafo:

"O Brasil sabe bem, pela experiência amarga com a ditadura militar, que, quando a democracia morres, é difícil ressuscitá-la. O exemplo global do poder e prestígio democráticos brasileiros tem mais valor hoje como contraponto ao crescente avanço da autocracia pelo mundo do que em qualquer momento na História do país. Mas, em meio a ameaças verossímeis às instituições e valores democráticos no Brasil, os Estados Unidos permanecem passivos diante do público. Seria trágico se compensassem sua errônea e abertamente cômoda identificação anterior com o presidente Jair Bolsonaro escondendo-se agora de modo complacente nas sombras." 


Para não nos estendermos muito, vejamos, enfim, o que diz o povo brasileiro, ou seja, aqueles que vão pagar o pato se Bolsonaro e sues obedientes milicos derem um golpe e cancelarem as eleições ou não aceitarem seu resultado.

Reportagem da Folha de São Paulo de 28 de maio de 2022 diz que, segundo pesquisa Datafolha, 56% dos brasileiros acham que há risco de golpe no país.


Primeiro e segundo parágrafos:

"As declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL) com ataques a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e as ameaças sobre as eleições devem ser levadas a sério pelas instituições segundo a avaliação de 56% da população, mostra pesquisa Datafolha.

Uma parcela de 36%, entretanto, acha que as afirmações do mandatário não terão consequências, e 8% não sabem opinar".


Contudo, o próprio Bolsonaro e uma longa fila de bolsonaristas ativos e arrependidos garantem que não há risco de golpe, que Bolsonaro não tem força, que Bolsonaro é "bundão".

Quem mostra isso como maestria é o humorista Gregório Duvivier, em seu programa Greg News, da HBO, veiculado em 3 de junho. Ele revela que gente como Boris Casoy, além do próprio bolsonarismo, ´quem conduz essa nova forma negacionismo, o negacionismo político.


Diz Casoy, entre outros direitistas citados no programa negando o risco de golpe:

"Não há condições de golpe no Exército. Não há condições de golpe nas Forças Armadas".


Agora, um trecho da ponderação de Duvivier sobre o risco de golpe:

"Enfim, está mais do que claro que se Bolsonaro perder ele vai se recusar a aceitar. Já está avisado, por ele próprio, mil vezes. A dúvida não é tanto se Bolsonaro vai aceitar uma derrota, mas se ele vai conseguir continuar no poder mesmo derrotado. E é disso que a gente tem medo. Não tanto de Bolsonaro questionar a eleição, porque isso ele vai fazer, mas de ele conseguir, de fato, acabar com a democracia".


O comportamento negacionista se estabelece quando há risco claro de algo acontecer e um setor da sociedade se dedica a negar o que os fatos impõe que seja visto e entendido. Isso aconteceu, recentemente, em relação à pandemia de covid-19...


Imagem: reprodução/Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil


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