Os riscos para o governo Lula e a democracia, por Luís Nassif
Se dezembro marcou uma virada em relação aos abusos do orçamento, também mostrou a extraordinária vulnerabilidade do país em relação aos movimentos especulativos com câmbio e juros.
Há um cartel operando esses ativos. Como enfrentá-lo?
De um lado, o trabalho de Sísifo, de administrar o dia a dia do mercado, que vem sendo desempenhado pelo Ministro da Fazenda Fernando Haddad.
Mas é apenas para administrar o tempo, enquanto o governo prepara a pauta positiva, o projeto de país, organizando as inúmeras oportunidades que se abrem na próxima revolução industrial, baseada nas mudanças climáticas e nas novas tecnologias. Enfim, um plano de governo que repita 2008, permitindo a recuperação da credibilidade das políticas públicas.
Enquanto não houver um projeto claro de país, a convicção de que há um governo construindo saídas, algo que permita à opinião pública recuperar a confiança nas públicas - como ocorreu em 2008 - será um processo de enxugar gelo até onde der.
E, aí, há um vácuo amplo, a começar da inação do próprio Lula.
O Lula de 2002 a 2010 era uma esponja, absorvendo informações por todos os poros, aberto a conversas com políticos e analistas. E, depois, atuando como um maestro organizando as ações do ministério.
Esse Lula ainda não apareceu em 2023 e 2024. Está isolado, desinteressado do dia a dia da gestão, fechado a conversas com especialistas de fora do governo, fechado a novas ideias. E, aí, comete a pior das estratégias: enfrenta o mercado com declarações e sem nenhuma estratégia de governabilidade.
Não apenas isso. Em dois anos de gestão, é um governo sem Casa Civil, sem Secretaria de Comunicação e sem Secretaria Geral da Presidência. Não há interlocutores no Palácio, e a queixa é generalizada entre praticamente todos os ministros.
Na Casa Civil - que deveria ser a porta de entrada para a Presidência - há um político limitado, com baixíssima visão de problemas nacionais e empenhadíssimo em ampliar seu espaço político sem dispor de planos nem ideias e praticamente barrando o acesso a Lula por todos os demais ministros.
Há dois programas promissores - a transição energética e a Nova Indústria Brasileira. Na 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, o próprio Lula - no discurso de encerramento - entendeu a importância de um plano, um modelo de gestão integrada, com prazos e metas. E encomendou o plano à Conferência - algo inusitado, já que seria um plano de governo.
De lá pra cá, nada ocorreu. Houve uma tentativa de montar um grupo de trabalho entre Fazenda, Indústria e Comércio e Minas e Energia, para administrar os planos de transição energética. Não saiu do lugar. O Ministro da Minas e Energia, Alexandre Silveira - o candidato favorito a uma segunda Lava Jato - não quis abrir mão de seu poder atual, que lhe permite atender às demandas de lobbies do setor.
Resta o trabalho solitário da NIB (Nova Indústria Brasil), graças a um grupo de especialistas com visão de desenvolvimento.
Na solidão cósmica do Palácio, uma das únicas exceções identificadas por observadores qualificados é o vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem atuado como conselheiro político de Lula, evitando algumas armadilhas.
Sem um plano de metas, a economia fica à mercê da bancada ruralista, bem montada mas, devido aos benefícios do crédito subsidiado, sem nenhum interesse em fazer um contraponto ao poder avassaldor do mercado.
Sobram as bancadas do mercado e os novos imperadores: André Esteves, do BTG, os irmão Batista. da J&F, em um plano menor Rubens Ometto, da Vibra, e o lobby permanente de Carlos Suarez, um fenômeno do que a política brasileira tem de pior.
2025 será a prova de fogo. Se Lula não acordar logo, se o Lula de 2008 não reaparecer, o país será um barco à deriva.
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