sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Lupa: Senador que denunciou tentativa de golpe de estado tem histórico de ataques ao STF e desinformação

Agência Lupa: O senador Marcos do Val (Podemos-ES), que denunciou ter sido coagido a ajudar em um golpe de Estado articulado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tem um histórico de declarações polêmicas e disseminação de informações falsas. Ele já chamou o Supremo Tribunal Federal (STF) de "departamento jurídico do crime" e foi condenado a indenizar o ex-deputado federal Jean Wyllys por difamação. Também adotou uma posição sobre os ataques de 8 de janeiro em Brasília. 
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Eleito senador pelo Espírito Santo em 2018, quando concorreu pela primeira vez a um cargo eletivo, o ex-treinador da SWAT - grupo de elite da polícia norte-americana - sempre foi alinhado a pautas bolsonaristas, apesar de se declarar um parlamentar independente. Durante a pandemia da Covid-19, defendeu o tratamento precoce, mesmo sem eficácia comprovada cientificamente. "Tratamento precoce salva vidas [...] Não podemos politizar um medicamento que, quando usado de forma precoce, tem evitado internações", afirmou, em publicação nas redes sociais.

Embora uma das justificativas de Do Val para ter sido convidado a participar do plano de "golpe de Estado" seja sua proximidade com o ministro do STF Alexandre de Moraes, sua relação com a Corte nunca foi das mais amistosas. Em outubro de 2019, ele postou uma foto em seu Instagram em que afirmava que o tribunal era um "departamento jurídico do crime". A publicação foi apagada.


Meses antes, o parlamentar havia assinado um pedido de impeachment do próprio Moraes, além do ministro Dias Toffoli. A iniciativa foi protocolada pelo senador Alessandro Vieira (PSDB-SE). Na época, Do Val também apresentou um pedido de impeachment do ministro Gilmar Mendes, acusando-o de cometer crimes de responsabilidade.


Além dos ataques à Corte, o senador também tem um histórico de disseminação de informações falsas. Em 2021, Do Val foi condenado pela Justiça do Rio de Janeiro a indenizar Jean Wyllys por danos morais após compartilhar uma desinformação que associava o ex-deputado a Adélio Bispo, que esfaqueou Bolsonaro durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). "Jean Wyllys seria o mandante da tentativa de assassinato do presidente Jair Bolsonaro?", questionou Do Val, em publicação feita em 2020. Ele foi condenado a pagar cerca de R$ 41 mil ao ex-parlamentar.          

www.seuguara.com.br/Marcos Do Val/desinformação/Jean Wyllys/

Enquanto membro-suplente da CPI da Pandemia no Senado, Do Val fez parte da tropa de choque do governo. Nas sessões em que participou, minimizou acusações contra a gestão Bolsonaro, defendeu o uso da hidroxicloroquina no combate à Covid-19 e protagonizou uma discussão com o deputado Luís Miranda, que foi empurrado por Do Val. Ele também bateu boca com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).  


Seu empenho em divulgar o tratamento precoce - para o qual destinou verbas ao Espírito Santo - fez com que fosse convidado a participar de lives com médicos e encontros promovidos pelo empresário Carlos Wizard. Uma reportagem publicada pelo site The Intercept Brasil mostrou que Do Val era apresentado como "padrinho político" de uma iniciativa que orientava o uso de medicamentos e políticas públicas inúteis contra a Covid-19.

De acordo com a reportagem, o senador era integrante do "gabinete paralelo" do governo federal na divulgação do "tratamento precoce". Na época, ele afirmou que "nunca atuou em qualquer iniciativa para influenciar, de forma clandestina, políticas públicas de competência do Ministério da Saúde". 


8 de janeiro

Assim como outros políticos aliados a Bolsonaro, Marcos do Val apresentou um comportamento dúbio em relação aos ataques de 8 de janeiro em Brasília. Ao mesmo tempo em que condenou os atos, afirmando que a direita "estava dando um tiro no próprio pé", o parlamentar alimentou a tese não comprovada de que havia infiltrados entre os golpistas, além de acusar oi presidente Lula e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, de prevaricação.

O presidente tem sido um dos alvos frequentes das desinformações compartilhadas pelo senador. Em dezembro, Do Val compartilhou uma montagem de dois tuítes que foram atribuídos a Lula, em que o petista afirmava que pretendia desmilitarizar as polícias e criar uma nova Guarda Nacional para combater o neonazismo. As informações foram checadas pela Lupa e são falsas

Em publicação recente no Instagram, Do Val publicou um print de um site que afirmava que o ministro Alexandre de Moraes estaria pronto para emitir um mandado de prisão contra Lula por prevaricação nos acontecimentos de 8 de janeiro. Não há informações públicas sobre supostas investigações contra o presidente pelos atos golpistas de Brasília. 


Denúncia

A denúncia de uma tentativa de golpe de Estado foi feita por Marcos do Val em entrevista à revista Veja. Segundo a publicação, o senador contou que, em novembro de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro pediu para que ele gravasse conversas do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. A ideia era flagrar o magistrado em alguma inconfidência que pudesse ser usada para anular o resultado das eleições.

Durante a tarde desta quinta-feira (2), Do Val convocou uma coletiva de imprensa e mudou sua versão. Ele negou que Bolsonaro tenha sugerido um plano para dar um golpe de Estado. Segundo ele, a proposta teria partido do então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), na presença do ex-presidente, que não teria se manifestado sobre o assunto.

O senador também mudou de opinião sobre renunciar ao mandato. Durante a madrugada, ele tinha anunciado nas redes sociais que abriria mão de seu cargo como senador. Na coletiva, disse que havia falado em um "momento de raiva".

Esta não é a primeira vez que o parlamentar entra em rota de colisão com a família Bolsonaro. Em 2018, Do Val registrou uma denúncia na Delegacia de Crime Cibernéticos em Vitória (ES) após o vereador Carlos Bolsonaro espalhar a falsa informação de que haveria um mandado de prisão contra o senador no Texas, Estados Unidos. A Justiça determinou que a postagem fosse excluída das redes sociais.


Edição: Bruno Namura e Maurício Moraes [com todos os links da matéria]
Imagem: reprodução


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