Mostrando postagens com marcador progressistas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador progressistas. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Se liga, 2026 será mais pauleira; bolsonarismo quer vingança, por Marcos Verlaine

Por Marcos Verlaine*, do Diap - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar: Em princípio, a diferença fundamental das eleições de 2026 será apenas o fato de que o nome do ex-presidente não constará na urna eletrônica. E de que não possa votar porque, muito provavelmente, estará preso. De resto, o componente novo é que o pleito será mais pauleira, porque o bolsonarismo que vingança. 

www.seuguara.com.br/bolsonarismo/2026/política/vingança/

Ou seja, os níveis de radicalização e polarização¹ estarão tão ou mais elevados que nas 2 eleições anteriores. Isto porque o bolsonarismo - apelido dado à extrema-direita brasileira - não arrefeceu nem tampouco dá mostras de que recuou. Ao contrário. Sobretudo, se Bolsonaro for preso.

A próxima eleição também vai expor algo que já ocorreu em 2018 e 2022, que é o fato de as democracias liberais serem generosas e contraditórias, com os inimigos do Estado de Direito.

Após a redemocratização, a parir de 1985, essa contradição não estava presente no debate público, já que os candidatos que disputaram os pleitos livres, diretos, secretos e universais não pretendiam "matar" a jovem democracia brasileira nascida com a Nova República e a Constituição de 1988.


Generosidade e contradição

São generosas porque esses regimes políticos permitem que os segmentos que são contraditórios à democracia possam disputar livremente - é o caso do bolsonarismo - e até ganhar e ampliar espaços, a fim de avançar sobre nacos do poder político. Veem a democracia apenas como ferramenta para atingir seus propósitos de obter poder.

São contraditórias, porque permitem que esses segmentos possam ganhar as eleições - de presidente a deputado - e ainda eleger maiorias no Parlamento. E a partir disso atuar, com as ferramentas proporcionais pela democracia, que eles dão de ombro, para miná-la e destruí-la.

Hitler e o partido nazista fizeram isso, quando em 1934, o chefe se tornou o Führer, o líder único da Alemanha.


Projeto bolsonarista

Embora não seja candidato porque está inelegível - em princípio até 2030, mas esse prazo poderá ampliar-se - Bolsonaro será relevante como cabo eleitoral, em todos os níveis do pleito - de presidente a deputado estadual.

Já o foi em 2018, quando o PSL, partido hospedeiro de Bolsonaro, que elegeu apenas 1 deputado em 2014, elegeu 52 em 2028. Em 2028, o PR, que era PL, voltou a ser PL, em 2019, elegeu 33 deputados. Em 2022, o PL, que hospeda o ex-presidente, elegeu 99. No senado, o PL é a segunda bancada, com 14 membros. Atrás do PSD, com 15.


Das 27 cadeiras que estavam em disputa para a Casa em 2022, o PL elegeu 8. Sem contar os bolsonaristas que foram eleitos em outras siglas.

Inclusive, estão organizados, do ponto de vista do projeto eleitoral, para tentar eleger a maioria dos candidatos que disputarão, nos estados, as 2 cadeiras que estarão disponíveis para o Senado. Este é o projeto central do bolsonarismo.  


O propósito é criar, tendo maioria, as condições para abrir processos de impedimento de ministros da Corte Suprema. Pauta nada republicana, porque se trata de vingança, já que veem no STF a instituição que, em grande medida, impediu o avanço da espiral neofacista que ganhou musculatura e fôlego após o ascenso do ex-presidente ao Planalto. Algo impensável em anos anteriores. 

Este projeto está em curso e extrapola a mera disputa eleitoral. Tem contornos ideológicos. E não encontra contraposição no campo progressista, ao contrário do que apregoam as mídias tradicionais e digitais. Isto é, a polarização existe na sociedade, todavia o governo sob Lula (PT), até pelas características de amplitude política do governo, não aguça os confrontos estimulados pelo bolsonarismo.


Centrão em alta

As eleições de 2026 terão maior protagonismo dos principais partidos que compõem o chamado Centrão - União Brasil, PP, MDB, PSD, Republicanos, Podemos, Avante, PSC, PRD² e Solidariedade³ - que se sobressaiu no pleito municipal de 2024.

O PSD, por exemplo, desbancou o MDB, em relação ao número de prefeitos eleitos. O primeiro elegeu 887 prefeitos, sendo 5 em capitais. O segundo, elegeu 846, sendo 5 em capitais


Esses resultados refletem, objetivamente, a correlação de forças existente hoje no Congresso Nacional, que está inclusive espelhada nas eleições para presidentes da Câmara e do Senado.

Na primeira Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), e na segunda, o senador Davi Alcolumbre (União-AP), estão virtualmente eleitos para comandar o Poder Legislativo nos próximos 2 anos. Ambos os partidos dos novos líderes são do campo do Centrão.


Progressistas

Em razão de as características das últimas 2 eleições - 2018 e 2022 - a próxima, que deverá seguir a mesma receita, isto é, serão disputadas sob amplas frentes, à direita e à esquerda, incluirei as forças de esquerda e de centro-esquerda na terminologia "progressistas". 

Os progressistas estão preocupados com a manutenção da democracia e do Estado de Direito, com a vida digna, a ampliação do emprego e renda, os problemas climáticos, as questões da biodiversidade, questões éticas e tudo o mais que possa permitir que a vida dos cidadãos e cidadãs possa ser mais bem vivida.

Para que não haja retrocessos será preciso disputar as urnas para ganhar, fazer maiorias para ajudar esse campo a governar, em caso de vitória. Em caso de derrota, será preciso eleger bancadas relevantes para exercitar a oposição com força e influência na na sociedade.

As campanhas precisarão mostrar, para convencer, que a extrema-direita nada tem de bom para oferecer à população, em particular, para os segmentos mais pobres. Ao contrário.


Politizar a gestão e o debate público

Cabe ao governo, em particular a Lula, politizar a gestão, a fim de pautar o debate público. E a tarefa cotidiana do campo progressista é politizar, desde já, o debate público. É preciso mostrar e convencer, que as práticas são o melhor critério universal da verdade, para além das retóricas e chamadas narrativas políticas. A fim de dar exemplos de que orientação política pode governar melhor para atender às demandas mais candentes do povo.


O exemplo mais recente de que o fascismo na política e na economia - o neoliberalismo - não são bons para o povo vem dos EEUU, sob Trump e o trumpismo.

No Brasil, relembrar a gestão catastrófica de Bolsonaro - 2019 a 2022 - em todos os setores - da gestão pública à total ausência de políticas públicas para os segmentos mais vulneráveis da sociedade. Não faltam exemplos do que não se deve fazer, na economia, nas relações de trabalho, na política, na ausência total de políticas públicas para melhoria das condições de vida do povo brasileiro.


Violência e outros problemas 

Nos estados, há fartos e bons exemplos de como e para quem a extrema-direita governa. Os índices de violência policial aumentaram exponencialmente em São Paulo, sob o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Não esquecer que essa violência atinge, principalmente, os mais vulneráveis socialmente e as periferias dos dos grandes centros urbanos.

É óbvio que esse problema não acomete apenas o estado de São Paulo. Mas na vitrine do Brasil, o estado mais populoso e rico do País, o discurso do governador estimula a violência para enfrentar os problemas na segurança pública. Ele, inclusive, admite o "peso" desse discurso na elevação da violência policial.

Todos no campo progressista precisam se preparar para essa jornada - nos planos político e ideológico - que já está em curso.


(*)Marcos Verlaine é jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap.

--------------------------       

¹ A bem da verdade e do conceito, essa polarização é falsa, já que o governo, Lula e o PT não são o polo oposto ao bosonarismo. O termo foi usado apenas para expressar o confronto e o antagonismo que se dá, desde 2018, entre o principal partido do governo - o PT - o o bolsonarismo.

² Sigla resultante da fusão do Patriota com PTB, autorizada pelo TSE, em novembro de 2023 - https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2023-11/tse-aprova-criacao-do-prd-resultado-de-fusao-entre-ptb-e-patriota- Acesso em 25.01.25.

³ Sigla resultante da incorporação do Pros pelo Solidariedade, deferia pelo TSE, em fevereiro de 2023 - https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Fevereiro/partido-republicano-da-ordem-social-pros-e-incorporado-ao-solidariedade - Acesso em 25.01.25.

***


Leia Mais ►

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

A esquerda se articula para enfrentar o neofascismo, por Arnaldo Cardoso

Por Arnaldo Cardoso*: Prestes a completar dois meses a posse de Lula na Presidência do Brasil, o novo governo brasileiro, além da missão extraordinária enfrentada com coragem ao derrotar o golpe de Estado deflagrado em 8 de janeiro e, logo em seguida, reverter a crise humanitária vivida pelos Yanomami face à exploração criminosa de seu território, todos os recursos tem sido empregados na tarefa de remover o entulho fascista produzido pelo governo Bolsonaro e promover sinergias de ministérios e demais órgãos do Estado para a implementação de políticas públicas dirigidas à reversão de situações críticas como a fome, o déficit habitacional, o desmonte do sistema público de saúde, os diversos crimes ambientais que agravam o quadro das mudanças climática e suas consequências, além de restabelecer os princípios norteadores da política externa brasileira que, historicamente, serviram para promover o Brasil como ator internacional respeitável e capaz de interagir positivamente na cena internacional em favor da paz, dos direitos humanos, da justiça social e da liberdade.

www.seuguara.com.br/esquerda/noefascismo/Arnaldo Cardoso/

Depois da traumática experiência vivida no Brasil, com a chegada em 2019 da extrema direita no comando do país, a compreensão do fenômeno em sua dimensão internacional, uma vez que lideranças similares e com claras articulações, ganharam crescente espaço em países como Estados Unidos, Hungria, Polônia, Itália, Inglaterra, França, Alemanha, Áustria, Holanda, entre outros, a cooperação internacional entre forças democráticas se afirma como urgente e essencial para frear a escalada do fascismo no século XXI. 


Tem merecido a atenção de analistas brasileiros a realidade política italiana desde a eleição antecipada de 25 de setembro passado, quando a deputada e líder do partido neofascista Fratelli d'Italia, Giorgia Meloni, venceu o pleito e assumiu o comando do país. Desde então, com um governo formado por expoentes da direita e extrema direita, personalidades com históricos vínculos e declaradas afinidades com o passadfo fascista do país, ações e discursos tem convulsionado o debate político na Itália como o recente episódio em que jovens estudantes de ensino médio de um colégio de Florença foram espancados na frente da escola por um grupo de jovens militantes da ala juvenil de partido de extrema direita.


O silêncio do governo diante do episódio deplorável viralizado nas redes sociais por meio de um vídeo, foi quebrado por uma carta pública escrita e divulgada pela diretora do colégio alertando sobre a ameaça da escalada fascista. A reação do governo veio através de declarações do Ministro da Educação, Giuseppe Valditara, criticando a carta da diretora, acusando-a de politização do episódio e ameaçando-a de punição.

As forças de esquerda e progressistas no Parlamento, na imprensa e na sociedade civil condenaram as declarações do ministro e muitos pediram sua demissão. Giorgia Meloni manteve o apoio ao seu ministro. 


Para analistas brasileiros, a série de ações e declarações de membros do governo de extrema-direita na Itália, como defesa de armamento dos cidadãos, ataques à jornalistas e artistas, declarações misóginas e homofóbicas, políticas repressivas à imigrantes, negacionismo diante de problemas sociais, entre outros, produzem uma inevitável sensação de déja vu. Os contextos podem ser diferentes, mas as práticas da extrema direita são muito similares, denotando coesão de valores em escala internacional.


Observar com atenção as estratégias da esquerda e de progressistas, nos planos institucional e social, na Itália e outros países, para enfrentar governos eleitos e lideranças de extrema-direita - no atual caso italiano, com substancial apoio popular -, afirma-se como importante exercício político para o enfrentamento do problema que se configura como um dos mais sérios na atual quadra da história das sociedades democráticas.


Neste domingo, 26, na Itália, ocorrerá uma votação plenária inédita, para escolha do(a) novo(a) dirigente do Partido Democrático (PD) de centro-esquerda, segunda principal força política  no país. A disputa está centrada em dois candidatos do partido, Stefano Bonaccini (56) e Elly Schein (37). Ele, mais à direita, foi governador da rica região da Emilia Roagna, ela, mais à esquerda, foi deputada no Parlamento Europeu e tem forte apoio de lideranças jovens do partido, ambientalistas e defensores dos direitos humanos. Cada um se apresenta como mais apto para conduzir as mudanças no Partido expressas no documento "Manifesto Per Il Nuovo PD" produzido em 2020.


Andrea Pissauro (38), italiano natural de Roma, PhD pela Universidade de Oxford, acadêmico da Universidade de Birmingham, ativista político junto ao Manifesto di Londra, dirigiu-se hoje aos italianos progressistas com as seguintes palavras (tradução livre), que nos ajudam a compreender a importância dessa eleição.


"Neste domingo, pela primeira vez na vida, participarei da eleição para escolha do(a) Secretário(a) do Partido Democrático e aproveito para lembrar que todos os cidadãos progressistas podem fazê-lo.

Votarei em Elly Schlein que conheço há alguns anos, assim como todo o Manifesto di Londra a conhece, cujo caminho ela acompanhou ao longo dos anos compartilhando ideais de justiça, solidariedade e democracia.


Vou fazê-lo consciente dos enormes problemas da esquerda italiana em todas as suas articulações. Problemas que vêm de longe e são profundos. Problemas, entre outros, de credibilidade, organização e cultura política. Para resolvê-los serão precisos anos de trabalho paciente de uma geração de militantes, gestores e intelectuais. 

Não acho que uma única pessoa consiga resolver todos estes problemas rapidamente, mas acho que com a Elly a liderar o Partido Democrático, daremos um passo na direção certa e em direção a um método melhor de lidar com eles. Acho que sim, por pelo menos três razões.


1) Ela é uma pessoa confiável de de claras posições de esquerda. O seu caminho nestes anos é claro e consistente com as suas ideias de justiça social e climática, que ela nunca pôs em negociação. Mostrou que sabe operar em diferentes níveis institucionais, a começar pelo Parlamento Europeu. A sua eleição tornará tanto o Partido Democrático como a esquerda como um todo, mais credíveis e, portanto, mais fortes. 


2) Sabe cuidar de uma organização. Nas ocasiões que tive a oportunidade de vê-la operando, ela prestou atenção e escutou os militantes, valorizando e apoiando as iniciativas da base. Ela tem uma forma humilde de se apresentar, não parece pensar que sabe tudo e parece capaz de tirar o melhor partido da inteligência coletiva de uma comunidade política.


3) Ela é a pessoa certa para unir a esquerda e relançar a oposição. A Itália não se converteu à direita. Meloni venceu eleições em função das divisões do campo progressista. Elly é uma pessoa capaz de unir, sabe dialogar e confio que pode dar força a um campo progressista renovado que oferece à Itália uma chance de um governo orientado para a justiça e solidariedade para muitos e não para poucos.


Por tudo isso, e por muito mais, espero que amanhã sejamos muitos a dar uma boa guinada de esquerda, ecológica e feminista ao Partido Democrata votando em Elly Schlein, e elegendo a primeira mulher a liderar um grande partido de esquerda na Itália!"


Vejamos como nossos companheiros italianos reorientam as forças progressistas para enfrentar o neofascismo. Que não sofram como nós, a trágica experiência de quatro anos de um governo de extrema direita cuja recuperação dos estragos custará muito trabalho e recursos, sem falar das milhares de vidas perdidas.

Particularmente aos italianos, a própria história deveria ser uma fonte permanente de alerta sobre o que não deve ser repetido. Bom que a esquerda pareça disposta a reconhecer seus erros e agir para corrigi-los. A gravidade do momento exige isso.


*Arnaldo Cardoso, sociólogo e cientista político (PUC-SP), pesquisador, escritor e professor universitário. 

***


Leia Mais ►

Arquivos

Site Meter

  ©Blog do Guara | Licença Creative Commons 3.0 | Template exclusivo Dicas Blogger