terça-feira, 18 de outubro de 2016

Paulo Moreira Leite: 'Em 2036, almoço com a família PEC 241'


"A história de povos e países ensina que nunca foi possível superar o atraso e a miséria sem a fantasia de uma situação melhor. Não haveria democracia, em nenhum lugar do mundo, sem o sonho do século XVIII de um sistema de homens livres e iguais."



- Paulo Moreira Leite, jornalista, escritor e diretor do 247 em Brasília - "Ao longo de várias gerações, reprises e versões, os brasileiros já acompanharam o destino de várias famílias fictícias. Entre 1967 e 1971, era possível dar boas gargalhas com a Família Trapo, onde Ronald Golias, no papel do inesquecível personagem Bronco Dinossauro, produziu momentos antológicos do humor brasileiro.

Em 328 capítulos, exibidos pela primeira vez entre 1970 e 1971, o jovem Tarcísio Meira no papel principal, Irmãos Coragem contava a epopeia de uma família de um garimpeiro as voltas com a tirania de um coronel sem escrúpulos numa cidade remota do país. Muitos enxergavam neste microuniverso uma metáfora sobre a ditadura militar que esmagava o país, na época.

A família de 2016 não tem o humor da primeira, nem os lances de heroísmo da segunda. 

Estou falando da família PEC 241, uma farsa construída por economistas e porta-vozes do governo Temer-Meirelles em atividade nos meios de comunicação. Sua finalidade é funcionar como suporte ideológico ao mais perverso programa de ataque ao patrimônio econômico do país e ao progresso – relativo mas real – de conquistas sociais, num processo até chocante pelo espírito neo-colonial. Em síntese, quer iludir consciências para amortecer a resistência.

Para empregar um diagnóstico do economista e professor da PUC de São Paulo Antônio Correa de Lacerda (Estado de S. Paulo, 15/10/2016), a intenção é construir um “autoengano coletivo” sobre o “orçamento do lar.”

Metáfora risível, que deveria corar de vergonha todo economista e todo jornalista que tenta nivelar as opções que envolvem gastos do Estado com decisões que envolvem orçamento de uma família, sugerindo que dizem respeito a realidades comparáveis, o sucesso publicitário da família PEC 241 é enganoso – mas não pode ser negado.

Já lhe permitiu atravessar a primeira de duas votações na Câmara. Caso não seja  derrotada numa segunda decisão, missão que boa parte dos observadores considera muito difícil, a última palavra caberá ao Senado. Também não será fácil, convenhamos.

Assim, sem uma forte reação das ruas, que deve ser trabalhada e articulada pelas organizações de trabalhadores e dos movimentos sociais, o país irá ingressar numa realidade econômica e social que parecia extinta pela Revolução de 1930. Sim.

O horizonte de uma regressão de mais de 80 anos, um retorno a velha república do café com leite, ajuda a explicar a disputa entre mineiros e paulistas do PSDB, convencidos de que a sucessão de 2018 será um anacrônico baile entre eles, com o povo mantido a distância, como acontece nas sociedades onde a questão social é um caso de polícia, como dizia o carcomido Washington Luiz. 

Para entender o caráter ruinoso da metáfora que compara o governo a uma “dona de casa”, vamos levar esta imagem a sério. Pense em qualquer família, inclusive na sua, para entender o que vem a ser a economia da família PEC 241. É fácil perceber que não há nada de doméstico nos eventos e mudanças principais que irão ocorrer no país. O papel do Estado, com investimentos, e estímulos, aparece em decisões e episódios que muitas pessoas tem dificuldade para compreender e imaginar.
 
Por exemplo: sente-se à mesa de um imaginário almoço de domingo. Claro que a terceirização irá diminuir a presença de pais e irmãos, já que muitos serão obrigados a trabalhar no antigo dia do descanso.  Isso já acontece hoje, mas será ainda mais frequente em duas décadas, com a PEC 241, quando a CLT terá sido transformada em menos que um retrato na parede.

Como também lembrou Antônio Correa de Lacerda, daqui a 20 anos a população terá crescido 10%, ou 20 milhões de pessoas, o que implicará num adicional importantes nas despesas típicas para atender a demanda de jovens, desde alimento até educação – num horizonte de cobertor curto, onde o movimento que cobre a cabeça expõe os pés e vice-versa.

Ao mesmo tempo, as vovós e vovôs irão dobrar. Se hoje eles vão embora mais cedo – e representam 12,1% da população – em 2036 chegarão a 21,5%. Mesmo com os cortes previsíveis nas despesas com saúde pública, a expectativa de vida tende a aumentar – como se nota, inclusive, em países que sobrevivem num grau de miséria grotesca que a maior parte dos brasileiros abandonou na última década e meia.

Não pense em senhoras e senhores de cabelos brancos, que em anos recentes tiveram um reforço em suas pensões e até puderam dar apoio, com conforto razoável e saudável orgulho, um número maior de filhos e especialmente netos. A contrapartida da PEC 241 é a reforma da Previdência, o corte das pensões, a criação de barreiras a aposentadoria. Isso quer dizer que nossos velhinhos mal terão para o próprio sustento e, em vez de ajudar, muitas vezes serão obrigados a pedir ajuda. Muitos voltarão a residir com os filhos, naquela convivência compulsória que pode ser tensa e pesada, pode ser muito enriquecedora e agradável, mas também tensa e pesada. 

Forçados a trabalhar até mais tarde, para atingir o limite de idade para a aposentadoria, os avôs e avós mais irão levar mais tempo para deixar o mercado de trabalho. Vão trabalhar até a última gota. Isso irá dificultar a abertura de vagas para as gerações mais jovens. As consequências são previsíveis, em qualquer país onde os jovens não tem oportunidades necessárias de estudo e trabalho. Já somos a quarta população carcerária do planeta. Conforme algumas estatísticas, podemos ser considerados a primeira. Alguém tem dificuldade de prever o que pode acontecer depois da PEC 241?

Na família da PEC 241, não teremos de garotos e garotas que tiveram acesso a bolsas no Exterior, que logo estarão na mira da tesoura de Meirelles-Temer, junto com o FIES e, é claro, o pró-UNI. Pelo retorno das mãos mais visíveis do racismo, teremos ataques duros ao programa de cotas.  Na melhor das hipóteses, a PEC 241 irá implantar o modelo educacional previsto nos acordos MEC-USAID dos primeiros anos da ditadura de 64. Este projeto acabou derrotado nas ruas dos protestos estudantis da geração de 1968, que impediram uma reforma universitária que previa universidade pública para poucos – e paga – e ensino profissionalizante para alguns. Estamos no país onde só vai para a universidade quem tem dinheiro, como disse aquele deputado paulista, numa frase de quem perdeu todo receio de assumir o caráter de classe da PEC 241. 

Neste imaginário almoço em família de um país derrotado, vinte anos depois que suas maiores peças de resistência foram destruídas, pelo abuso e pela prisão, depois da sobremesa alguém irá lembrar como era a vida no Brasil antes que todos tivessem incorporado a PEC 241 ao sobrenome.

Sempre aparece um parente que leu textos que os jornais não publicam, que foi atrás dos fatos como eles aconteceram e é capaz de separar a verdade da lenda. Então todos irão lembrar que o empobrecimento, a miséria cultural e o inferno de uma sociedade sem espinha dorsal só foi possível depois que, embalada por um golpe de Estado pacífico mas nem por isso não-violento, a PEC 241 impediu um país inteiro de sonhar. Irão compreender que é por isso que, hoje, colunistas amigos escrevem, com orgulho, que a PEC é o fim da fantasia. É mesmo. E é um projeto venenoso justamente por isso. Este é o mal. O pesadelo.

A história de povos e países ensina que nunca foi possível superar o atraso e a miséria sem a fantasia de uma situação melhor. Não haveria democracia, em nenhum lugar do mundo, sem o sonho do século XVIII de um sistema de homens livres e iguais – que os sábios da época diziam ser inviável e insustentável, já que a maioria da humanidade era formada por pessoas submissas e diferentes pela renda, pelo estudo, pela história.

A humanidade não teria vencido o terror e a tragédia do nazismo sem a convicção de que era possível vencer a Depressão terrível da economia criada pela crise de 1920-1930.

O Brasil não teria vencido a ditadura militar sem o sonho de outro país, outra ordem política, outras oportunidades, expressas na Constituição de 1988 – e realizadas, ainda que parcialmente, com vários limites e muitos pontos críticos, pelos governos Lula e Dilma.

Nenhuma dessas mudanças se fez sem investimentos públicos, sem estímulos ao crescimento e a distribuição de renda. É isso que faz as decisões de governo essencialmente diferenças das decisões de uma família.

Um governo fixa os juros e tem meios de promover o crescimento ou a ruína organizada de um país. A família está submetida a política econômica que o Estado determina. Paga a taxa de juros que o Banco Central definiu. Pode fazer empréstimos e consumir, se encontra juros favoráveis. Ou terá de empobrecer e conformar-se, caso sejam impagáveis – como quer a PEC 241.

A boa lição da história é que não se conseguiu, até agora, eliminar a capacidade de um povo sonhar e fantasiar. Os efeitos do pensamento único pode ser mais ou menos duráveis. A audiência da burrice bem remunerada pode alcançar um alcance surpreendente. Mas nada disso dura para sempre. Em geral, menos do que se programava. A pior ditadura do século XX durou 83 vezes menos do que seus arquitetos planejavam. Os 25 anos sonhados pelo PSDB depois da vitória de Fernando Henrique limitaram-se a 8 – sem golpe parlamentar.

Acredito que, mesmo que venha a ser aprovada, a PEC 241 não irá sobreviver o período de 20 anos de seus criadores. Não chegará nem aos dez, previstos para uma revisão intermediária.

Tenho certeza de que, mais cedo do se imagina, os brasileiros irão reagir e impedir que seu país seja transformado em ruína. Foi assim em 1965, em protestos contra a recessão que anteciparam 1968. Também foi assim na resistência a recessão de 1983, que abriu a Diretas-Já em 1984.

Exercício de imaginação e futurologia, o almoço de um domingo de 2037 é uma tentativa de alerta – num momento em que a ficção ajuda a compreender a realidade. 

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Os vivos e os mortos - charge do Kayser

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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Resumo e melhores momentos dos jogos da 31ª rodada do Brasileirão 2016

Na liderança do Campeonato Brasileiro 2016, o Palmeiras venceu o Figueirense, por 2 a 1, no Orlando Scarpelli, e abriu quatro pontos de diferença para o vice-líder Flamengo. O rubro-negro carioca perdeu para Internacional pelo mesmo placar, no Beira-Rio, permanecendo com 40 pontos. Com a vitória, o Colorado deixou a Zona do rebaixamento e chegou ao 15º lugar, com 36 pontos. Mesma pontuação do São Paulo, em 16º lugar, que joga neste segunda-feira contra o Fluminense, partida de encerramento da 31ª rodada.

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domingo, 16 de outubro de 2016

Política: Dada a largada para a aprovação da anistia ao Caixa 2 eleitoral

Por Andrei Meireles(*), em Os Divergentes - "O deputado Vicente Cândido era o representante do PT na articulação secreta para aprovar na surdina a anistia para os políticos que se beneficiaram de dinheiro ilegal do Caixa 2. Descoberta e detonada por um grupo de parlamentares, Miro Teixeira à frente, a manobra fracassou. Ninguém quis assumir a sua paternidade. Mas quem deu o sinal verde para sua execução foi Rodrigo Maia.



Também foi Rodrigo Maia quem escolheu Vicente Cândido como relator da Comissão Especial da Reforma Política, a ser instalada semana que vem. Serão poucas medidas pontuais. O ponto principal é a adoção do voto em lista — aquele em que o eleitor vota em partidos, e não mais em candidatos, nas eleições para as câmaras municipais, as assembleias legislativas e a Câmara dos Deputados.

Rodrigo Maia-Presidente da Câmara dos Deputados
Junto com o voto em lista, considerada uma medida para reduzir os custos de campanha, virá o financiamento público das eleições. A ideia é proibir até a doação por pessoas físicas, o que é permitido nessas eleições municipais.

Pois bem. Na esteira da proibição do dinheiro privado na campanha, busca-se uma maneira de regularizar o passado. É aí que está prevista a inclusão de alguma emenda que, de maneira explícita ou não, ressuscite a tal anistia ao Caixa 2.

A intenção é de uma tramitação a toque de caixa e a aprovação dessa mini reforma pela Câmara no início de novembro. Vai coincidir com a ressurreição no Senado, pelas mãos de Renan Calheiros e Romero Jucá, do projeto que regulamenta o abuso de autoridades, feito sob medida para tentar enquadrar a força-tarefa da Operação Lava Jato e de outras investigações.

Portanto, destinado a fortes polêmicas. A maneira como esse projeto volta à pauta no Senado tem cara de ser o velho bode na sala. Entra para confundir enquanto os deputados constroem uma alternativa para escaparem da Lava Jato. A avaliação comum é que poucos ficarão de fora da mega delação da Odebrecht. Vale conferir."

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( * ) Andrei Meireles é Repórter de Política há mais de 40 anos, Andrei Meireles passou pelas redações dos jornais O Globo e Jornal de Brasília, das revistas IstoÉ e Época, foi comentarista político do boletim diário da revista Época na rádio CBN e colunista do Fato Online. Um dos mais premiados jornalistas brasileiros, tem dois prêmios Esso (de Reportagem em 2000 e de Jornalismo em 2001) e três prêmios Embratel (de Jornais e Revistas em 2001 e 2004 e o Grande Prêmio Embratel Barbosa Lima Sobrinho em 2009).

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STF nega cinco recursos contra decisão que aposentou juízes envolvidos no "escândalo da maçonaria"

Por Paulo Victor Fanaia Teixeira, da Redação do Olharjurídico - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Melo, negou mandados de segurança impetrados por cinco, dos sete juízes, aposentados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) acusados de  desvios de verbas para o pagamento de dívidas de uma loja maçônica, em caso conhecido como “Escândalo da Maçonaria”. A decisão da suprema corte foi proferida nesta terça-feira (4).

Ministro Celso de Mello-STF
O escândalo foi revelado depois da corregedoria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) ter apontado um suposto esquema de socorro financeiro à loja Maçônica Grande Oriente, instalada em Cuiabá, e envolvia três desembargadores e sete juízes. A irregularidade teria causado rombo de R$ 1,5 milhão aos cofres do Tribunal. Em momento posterior, o caso foi transferido e examinado pelo Conselho Nacional de Justiça.

Impetraram recursos no STF os magistrados aposentados Antônio Horácio de Silva Neto, José Ferreira Leite, Marcos Reis Ferreira, Juanita Clait Duarte e Graciema Caravellas.
 
Nele, impugnavam o procedimento administrativo disciplinar, apontando para um desrespeito aos seus aspectos técnicos, por parte do CNJ. Ainda, o órgão teria transgredido o princípio do “juiz natural”, ao apurar a responsabilidade disciplinar de membros do Poder Judiciário em relação a fatos anteriores à sua instalação.
 
Os requerentes sustentam, ainda, a ocorrência de transgressão à garantia constitucional do “devido processo legal”, uma vez que o CNJ teria deixado de assegurar, ao longo do procedimento administrativo disciplinar, o direito ao contraditório e à ampla defesa.
 
Por fim, apontam que ao aplicar a sanção disciplinar de aposentadoria compulsória, teria o CNJ extrapolado os princípios constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade.
 
Em sua decisão, o ministro Celso de Mello afirmou que o "CNJ dispõe de competência, em sede disciplinar, para fazer instaurar procedimentos destinados a investigar e apurar desvios funcionais, ou atos de improbidade administrativa, ou, ainda, outras ilicitudes de caráter jurídico-administrativo. Inquestionável, por isso mesmo, a integridade dessa competência em matéria disciplinar, que traduz, mais do que uma prerrogativa jurídica, verdadeiro dever-poder de adotar medidas que viabilizem a plena e efetiva responsabilização disciplinar de magistrados que hajam conspurcado o seu ofício e transgredido a autoridade da lei”.
 
Celso de Mello não vislumbrou que o postulado fundamental do juiz natural tenha sido transgredido pelo Conselho Nacional de Justiça, “pois a jurisdição censória que lhe foi cometida adveio de norma impregnada de estatura constitucional e que, por veicular prescrição geral, impessoal e abstrata, não permite substantivar a alegação de que aquele órgão administrativo, posicionado na estrutura institucional do Poder Judiciário, equivaleria a um tribunal”.
 
O ministro ainda fez uma avaliação ácida: “a ordem jurídica não pode permanecer indiferente a condutas de quaisquer autoridades da República, inclusive juízes, que tenham eventualmente cometido reprováveis desvios éticos no desempenho da elevada função de que se acham investidas”.

Razoabilidade e Proporcionalidade:
Em outra decisão, para o pedido da mesma natureza, o ministro considerou que “a alegação da parte impetrante no sentido de que a decisão administrativa em causa, ao aplicar a sanção disciplinar ora questionada, não teria observado os princípios constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade, não se mostra processualmente viável, eis que a penalidade imposta à magistrada está em consonância com a natureza grave da falta cometida e em plena harmonia com a disposição legal que rege a matéria em referência”.
 
Entenda o Caso:
Sete juízes e três desembargadores mato-grossenses foram envolvidos em suposto desvio de verbas e materiais de construção do Fórum de Cuiabá, além de favorecimento de licitação e tráfico de influência, maior parte em favor da maçonaria. A irregularidade teria causado rombo de R$ 1,5 milhão aos cofres do Tribunal.

À época dos fatos, a maçonaria montou uma cooperativa de crédito em parceria com a Cooperativa de Crédito Rural do Pantanal Sicoob Pantanal, mas ela quebrou em novembro de 2004, quando teria surgido o esquema. Os créditos eram concedidos aos juízes, que os repassavam à Grande Oriente. Eles foram denunciados em 2008 pelo ex-corregedor do TJ, desembargador Orlando Perri, por desvios de verbas e materiais na construção do Fórum de Cuiabá e favorecimento em licitação e tráfico de influência envolvendo desembargadores.

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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Resumo, gols e melhores momentos da 30ª rodada do Brasileirão 2016

Seis jogos fecharam a 30ª rodada do Campeonato Brasileiro 2016 nesta quinta-feira (13), sendo dois clássicos estaduais. Muita polêmica para o Fla-Flu realizado no Raulino de Oliveira, que terminou com a vitória do Flamengo, por 2 a 1. No Pacaembu, o clássico San-São marcou mais uma vitória do Peixe sobre o tricolor paulista. Copete fez o único gol do tradicional clássico paulista, no primeiro minuto de jogo da etapa final.
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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sobre informação, boatos e farsas nas redes sociais

Em vista da situação política e social que atravessa nosso país, é crescente a onda de boatos e meias verdades que proliferam principalmente através do compartilhamento nas redes sociais. Com tanta desinformação a produzir mais prejuízos que benefícios aos usuários, qual seria a atitude mais sensata e louvável diante disso tudo?

A excelente matéria de Ana Freitas, publicada no NexoJornal, nos oferece uma grande ajuda para separarmos o joio do trigo nesse turbilhão de informações, que diariamente rola nas redes sociais, como no Facebook, por exemplo.

Como identificar a veracidade de uma informação e não espalhar boatos

Por Ana Freitas, no Nexojornal

"O serralheiro carioca Carlos Luiz Batista, de 39 anos, viu sua vida virar de cabeça para baixo em poucos dias em razão de um boato compartilhado nas redes sociais. Uma mensagem, acompanhada de sua foto, dizia que o serralheiro era “estuprador e sequestrador de crianças”.

verdade-boato
Batista, que começou a receber ameaças, agora tem medo de sair de casa. Não é o primeiro caso do tipo: em 2014, uma mulher foi espancada até a morte no Guarujá, litoral paulista, depois de ser acusada, em boatos em redes sociais, de que estuprava e sequestrava crianças. No entanto, nem sequer existiam denúncias do tipo na região.

Esses casos demonstram o que acontece a indivíduos, em casos extremos, quando o compartilhamento de informações mentirosas sai do controle. Essa prática, comum em um mundo no qual todos são consumidores e produtores de conteúdo, também pode ter impactos políticos e sociais - na medida em que informações falsas ajudam as pessoas a construir opiniões.

Nos últimos anos, a crise política escancarou esse cenário no Brasil. De acordo com um
levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso a Informação da USP, na semana em que a Câmara autorizou a abertura do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, em abril, três das cinco matérias mais compartilhadas no Facebook no Brasil eram falsas.

Por que as pessoas compartilham informações sem checá-las

“A dinâmica [de compartilhamento de boatos] é um efeito da polarização do debate político, mas também é muito marcada pelo viés de confirmação”, disse ao Nexo Marcio M. Ribeiro, professor da USP e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso a Informação da universidade.

O viés de confirmação é uma tendência cognitiva que faz com que nós tenhamos mais propensão de lembrar, pesquisar informações ou interpretar fatos de maneira que eles confirmem nossas crenças ou hipóteses.

Na dinâmica da comunicação digital e dos algoritmos que mostram apenas aquilo que queremos ver, o viés de confirmação cria uma “bolha” de visão de mundo que exclui aqueles que pensam diferente - o chamado “filtro bolha”.

Quando recebemos, por meio das redes sociais, o link de uma matéria que confirma nossa visão de mundo, temos mais chances de ignorar possíveis evidências de que ela seja falsa.

“Na dinâmica das redes sociais, as pessoas têm tanta ou mais responsabilidade que os veículos em determinar qual conteúdo terá mais ou menos visibilidade por meio do compartilhamento”, diz Ribeiro. Por isso, cabe também aos usuários garantir que a informação compartilhada seja verdadeira.

Como identificar notícias falsas e matérias inverídicas

Abaixo, o Nexo reuniu um conjunto de boas práticas que podem ser aplicadas de maneira rápida, no dia a dia, por qualquer pessoa. Geralmente, o ideal é usar mais de uma técnica - e, se tiver tempo, todas elas.

10 boas práticas para o consumo de informações na web
1 - CRUZAMENTO DE FONTES

É simples: basta jogar as informações-chave relacionadas à notícia em questão no Google e verificar se outros veículos também falaram dela, e em quais termos. Caso você encontre apenas uma fonte para aquela informação, vale desconfiar. Se encontrar várias fontes, mas todas elas forem cópias de apenas um veículo, também é razoável considerar a matéria com cautela.

2 - BUSCAR A FONTE ORIGINAL

Uma notícia ou print mostra que uma figura pública disse ou fez alguma coisa. Confira nos canais oficiais daquela pessoa se o print é verdadeiro, ou se há uma entrevista original, publicada em um veículo de confiança, que exiba a declaração em questão. Também é importante ficar atento a perfis falsos - muitas vezes, prints de declarações polêmicas têm origens em perfis não-oficiais, às vezes criados com propósitos humorísticos, outras para difamar alguma figura pública.

3 - CREDIBILIDADE DE QUEM PUBLICA

Verifique o histórico do veículo que publicou a informação. Redações com jornalistas profissionais, sejam de veículos tradicionais ou novos, mantêm critérios de checagem em suas reportagens. E quando há erro, essas redações costumam corrigi-los. Isso não quer dizer que sites e blogs pequenos, além de posts no Facebook ou em outras redes sociais, não tragam bons conteúdos. Basta que você conheça o histórico desses canais.

4 - ADJETIVOS DEMAIS SÃO SUSPEITOS

O excesso de adjetivos para difamar ou exaltar alguém ou algo, ou seja, um viés muito claro de acusação ou defesa no texto, também merecem sinal amarelo (especialmente em textos noticiosos).

5 - FAÇA UMA BUSCA REVERSA DA IMAGEM

Muitas fotos que circulam nas redes sociais são montagens. Antes de compartilhar a suposta foto da capa da revista “Time” que mostra uma reportagem bombástica sobre o Brasil, confira no próprio site do veículo - ou faça uma busca reversa, que procura a imagem no Google e encontra outros lugares em que ela (ou versões parecidas) foram publicadas. Para fazer isso, é preciso usar o navegador Chrome. Então, basta clicar com o botão direito na imagem exibida no navegador e escolher a opção “Procurar Imagem no Google”.


6 - HÁ GENTE QUE SE DEDICA A ACHAR BOATOS

Para qualquer tipo de informação recebida via Whatsapp e Facebook, há sites dedicados exclusivamente a pesquisar e confirmar (ou não) os boatos espalhados nas redes. Dois dos mais famosos são o E-Farsas e o Boatos.org. Uma visita rápida pode evitar o compartilhamento de uma informação falsa.

7 - VERIFIQUE A DATA DA PUBLICAÇÃO

Em um contexto e data diferente, uma notícia antiga pode servir a uma narrativa atual completamente diferente daquela em que ela estava inserida no passado. Por isso, é comum que links antigos ganhem novas ondas de compartilhamento anos depois de publicados. Para evitar que uma informação fora de contexto contamine seu julgamento, adquira o hábito de checar a data de publicação de uma matéria antes de compartilhá-la. Geralmente, essa informação se encontra embaixo do título.

8 - VÁ ALÉM DO TÍTULO

É relativamente comum o compartilhamento de informações por Whatsapp e Facebook apenas com base no título do link. O título, no entanto, pode ser modificado: além de o Facebook permitir isso na publicação do conteúdo, também é possível usar ferramentas que mudem o título exibido quando o link é compartilhado. Por isso, evite compartilhar material sem ler o conteúdo completo.

9 - SEM FONTE, NÃO CONFIE

Em muitos casos, textos ou vídeos compartilhados por mensagens do Whatsapp vêm sem uma fonte - ou, então, mencionam fonte sem um link para ela. Cheque sempre, usando o Google, se a informação é verdadeira e está mesmo disponível na fonte mencionada. Se o conteúdo vier sem fonte, é muito improvável que seja real. Além disso, ligue o radar diante de vídeos ou áudios gravados por completos desconhecidos. Qualquer um pode fazer um vídeo ou áudio de Whatsapp e dizer o que quiser, e já temos provas suficientes de que muita gente inventa informações falsas para compartilhar nessas redes.

10 - NA DÚVIDA, PENSE DUAS VEZES

“Na dúvida, achei melhor compartilhar.” Você já deve ter lido a frase por aí. No entanto, embora a abordagem seja muitas vezes bem intencionada, ela pode ter efeitos trágicos - como aqueles mencionados nos primeiros parágrafos deste texto. Caso não consiga obter confirmação de uma informação que consumiu na internet, recomendamos que considere não compartilhá-la."

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