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quinta-feira, 7 de abril de 2016

'Correspondentes estrangeiros agora sabem que impeachment não é causa nobre'

Se impeachment, então quem? - Por Glen Greenwald e David Miranda, na Folha, 06/04/2016. Via Viomundo - "O fato mais bizarro sobre a crise política no Brasil é também o mais importante: quase todas as figuras políticas de relevância que defendem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff – e aqueles que poderiam assumir o país no caso de um eventual afastamento da mandatária – enfrentam acusações de corrupção bem mais sérias do que as que são dirigidas a ela.


De Michel Temer a Eduardo Cunha, passando pelos tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin, os adversários mais influentes de Dilma estão envolvidos em chocantes escândalos de corrupção que destruiriam a carreira de qualquer um numa democracia minimamente saudável.

Na verdade, a grande ironia desta crise é que enquanto os maiores partidos políticos do país, inclusive o PT, têm envolvimento em casos de corrupção, a presidenta Dilma é um dos poucos atores políticos com argumentos fortes para estar na Presidência da República e que não está diretamente envolvido em casos de enriquecimento pessoal.

Esses fatos vitais têm alterado radicalmente como a mídia internacional vê a crise política no Brasil.

Durante meses, jornalistas norte-americanos e europeus retrataram de forma positiva as manifestações nas ruas, a investigação da Operação Lava Jato e as decisões do juiz federal Sergio Moro.

Em razão desses fatos, agravados pelo tratamento abertamente político de Moro com relação ao ex-presidente Lula e pela cobertura midiática embaraçosamente sensacionalista feita pelo “Jornal Nacional” e por outros programas da Rede Globo, agora muitos estão reconhecendo que a realidade é bem menos inspiradora ou nobre.

A sociedade brasileira tem muitas razões legítimas para se zangar com o governo. Mas para uma parte da elite midiática e econômica do país, a corrupção é apenas uma desculpa, um pretexto para atingir um fim antidemocrático.

O objetivo real é remover do poder um partido político – o PT – que não conseguiu derrotar após quatro eleições democráticas seguidas. Ninguém que realmente se importasse com o fim da corrupção iria torcer por um processo que delegaria o poder a líderes de partidos como o PMDB, o PSDB e o PP.

Pior, está se tornando claro que a esperança dos líderes dos partidos da oposição é de que o impeachment de Dilma seria tão catártico para o público, que permitiria o fim silencioso da Operação Lava Jato ou, ao menos, fosse capaz de fazer com que tudo terminasse em pizza para os políticos corruptos.

Em outras palavras, o impeachment de Dilma Rousseff está designado para proteger a corrupção, não para puni-la ou até acabar com ela –o retrato mais característico de uma plutocracia do que de uma democracia madura.

Impeachment é uma ferramenta legítima em todas as democracias, mas é uma medida extrema, que deve ser usada somente em circunstâncias convincentes de que há crimes cometidos pelo presidente da República e quando há provas concretas das ilegalidades. O caso do impedimento de Dilma não responde a nenhum desses dois critérios.

Em uma democracia avançada, o Estado de Direito, não o poder político, deve prevalecer. Se, apesar disso tudo, o país estiver realmente determinado a apear Dilma do poder, a pior opção seria deixar essa linha de sucessão corrupta ascender ao poder.

Os princípios da democracia exigem que Dilma Rousseff termine o mandato. Se não houver opção, e ela for impedida, a melhor alternativa é que sejam realizadas novas eleições e, assim, que a população decida quem assumirá seu lugar, pois, como está na Constituição, todo poder emana do povo."
 
"GLENN GREENWALD, 49, cofundador do site especializado em reportagens sobre política nacional e externa The Intercept, é vencedor do Prêmio Pulitzer de Jornalismo em 2014 e do Prêmio Esso de 2013".
 
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sexta-feira, 25 de março de 2016

Por favor, onde posso me informar sobre a crise?

Artigo de Carlos Castilho, publicado na edição nº 895 do Observatório da Imprensa, em 21/03/16 - "Esta é a pergunta que mais tenho escutado nos últimos dias durante conversas pela internet e em debates públicos ou de botequim. Impressiona a quantidade de brasileiros confusos e desorientados diante de uma batalha informativa que aumenta de intensidade a cada dia e cujo desfecho não é possível vislumbrar. É o drama vivido por pessoas que não vestiram nenhuma camiseta partidária e que sofrem as consequências de um turbilhão de versões e contra- versões difundidas freneticamente por uma imprensa que perdeu o senso de isenção.

Crise-informação
Para tentar dar uma resposta aos milhares de leitores perplexos é necessário primeiro entender por que as pessoas estão vivendo este tipo de preocupação hoje . A desorientação informativa tem duas causas principais: uma estrutural, a mudança nos hábitos, comportamentos e valores informativos provocada pela internet, redes sociais, blogs e outros sistemas que dão às pessoas o poder de publicar suas opiniões e informações; e uma causa conjuntural, provocada pela crise político/partidária que estamos vivendo no Brasil e que gerou uma polarização ideológica nos veículos de comunicação do país.

A crise política funcionou como agravante de uma situação que as pessoas já vinham sentindo quando entravam em alguma rede social e percebiam a avalanche de novos dados, fatos e eventos que desafiam a capacidade de compreensão e contextualização, ou seja, de transformá-los em informações capazes de orientar nossos comportamentos.

O tsunami noticioso

A guerra de versões e contra-versões já existia em crises anteriores, como o golpe de 1964 e o impeachment de Collor, mas os protagonistas da guerra informativa se resumiam a uns poucos jornais, uma dúzia de emissoras de rádio e não mais de três redes de televisão. Agora há quase 100 milhões de brasileiros com acesso à rede social Facebook, onde se informam e opinam sobre os fatos de atualidade. Cerca de 25 milhões dos internautas tupiniquins visitam diariamente blogs noticiosos, um número muito maior do que a soma de todos os leitores de todos os jornais e revistas publicados no país. O resultado inevitável é uma mega cacofonia informativa.

A busca de resposta para a pergunta do título implica num mergulho em um dos mais complexos dilemas da nova era informativa que estamos vivendo. As pessoas estão procurando uma referência, uma espécie de oráculo informativo no qual possam confiar integralmente. Mas a dura realidade é que este oráculo não existe, o que nos leva a ser contaminados pela sensação de que vivemos no meio de um caos informativo. As pessoas procuram certezas mas só encontram dúvidas.

Fomos, em grande parte, educados na tradição cristã de que há uma verdade absoluta. Os antigos acreditavam que ela emanava de divindades. Hoje, a cultura ocidental tende a transferir a certeza informativa para empresas, como jornais, e instituições como os tribunais, juízes e cortes supremas. No entanto, depois da revolução nas tecnologias de informação provocada pela internet, até esta certeza começou a ser posta em dúvida graças à divulgação massiva de dados, fatos, eventos e processos antes ocultos sob o manto do sigilo e da omissão noticiosa.

A ilusão da verdade absoluta

O certo é que perdemos o conforto de depositar em alguém ou em alguma instituição a tarefa de nos dizer o que é certo ou errado, justo ou injusto, necessário ou supérfluo. E na atual conjuntura de crise nacional, não temos nem um jornal plenamente confiável e nem uma televisão acima de qualquer suspeita. Não podemos nem mais acreditar no que dizem governantes, políticos, magistrados, pesquisadores e líderes religiosos. Suas declarações e ações respondem a interesses ou estratégias partidárias e nos faltam elementos para identificá-los e compreendê-los.

As pessoas comuns sentem os efeitos da insegurança informativa de forma diferente. Quem vestiu a camiseta partidária tem menos preocupações porque de certa forma transferiu suas dúvidas para uma instituição ou liderança. O que o partido ou dirigente partidário decidirem, é o que vale e é verdadeiro. Já os que não militam em organizações políticas e decidiram pensar pela própria cabeça estão mergulhados na incerteza, que é angustiante e que motiva a pergunta do início deste artigo.

Para respondê-la é necessário primeiro admitir que não podemos nos informar lendo apenas um jornal, uma revista ou assistindo apenas a um telejornal ou só os blogs com os quais concordamos politicamente. A diversidade de fontes é hoje mais importante do que nunca por causa da avalanche de informações publicadas diariamente em todos os veículos de comunicação, tanto os impressos e audiovisuais, como os da internet. É o que dizem os pesquisadores científicos, talvez aqueles que mais dependem de informação confiável e exata para poder desempenhar seu trabalho.

Evidentemente são pouquíssimas as pessoas que dispõem de tempo para ler diariamente vários jornais, revistas, assistir diferentes telejornais e passar várias horas na internet navegando por sites noticiosos. Mas o pouco que cada um sabe pode se transformar num belo acervo informativo quando compartilhado em grupos ou comunidades sociais. É o que está acontecendo em países onde a avalanche informativa é mais intensa, como os Estados Unidos.

Apanhadas no meio do fogo cruzado da batalha informativa as pessoas buscam nas conversas e debates com vizinhos, colegas ou amigos a forma de compensar a angústia por não terem condições de entender o que está acontecendo. Os que já praticam esta modalidade de captação, processamento e difusão de notícias sabem que é inviável chegar a certezas absolutas. Mas pelo menos a angústia diminui.

A produção colaborativa de informações não é mais um jargão exclusivamente jornalístico pois está sendo adotado também por grupos de cidadãos que já sentem na carne a necessidade de mudar comportamentos e valores na hora de se informar. Estamos sendo obrigados a reaprender a ler uma notícia porque suas causas e consequências passam a ser mais importantes do que o fato, dado ou evento noticiado .

Também estamos sendo forçados a trocar nossos valores individualistas pela colaboração. Para nos informar visando formar opiniões pessoais, precisamos agora mais do que nunca conversar com outras pessoas e ouvir delas os dados e informações de que não dispomos.

Talvez esta não seja a resposta que muitos esperavam, mas é a melhor que se pode dar no contexto atual."

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

'Entenda as suspeitas contra o ex-presidente Lula'

- Notícia replicada no site Terra, tendo como fonte a BBC Brasil.com – "Operação Zelotes, Operação Acarajé, Triplo X, o sítio de Atibaia: O que dizem os que o acusam - e como ele responde?"
“Uma decisão teve, nesta terça-feira, o promotor Cássio Conserino - que intimou Luiz Inácio Lula da Silva a depor na semana passada - à frente das investigações do Ministério Público de São Paulo sobre o ex-presidente.

Suspeitas contra Lula
Conserino convocara Lula a prestar depoimento pela primeira vez como “investigado” no dia 17. O ex-presidente é suspeito de ocultar a posse de um triplex no Condomínio Solaris, no Guarujá, reformado pela construtora OAS.

Seu depoimento, porém, acabou sendo adiado por decisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) após um pedido do deputado Paulo Teixeira (PT), que argumentou que o promotor não poderia ter conduzido o inquérito porque este estaria correndo em uma vara diferente da que atua. Além disso, Teixeira alegava que Cosentino teria agido de forma irregular ao antecipar à revista Veja que denunciaria Lula por ocultação de propriedade.

A decisão do CNMP a favor da manutenção de Conserino no caso poderia abrir caminho para que o depoimento seja remarcado. Os conselheiros destacaram, porém, que a decisão é administrativa – e os advogados de Lula ainda podem levar o caso para a Justiça.

Nas últimas semanas, o nome do ex-presidente apareceu em notícias sobre pelo menos seis investigações - sendo a maior parte delas ligadas à existência de supostas relações indevidas com construtoras envolvidas no escândalo de corrupção na Petrobras.

Lula não é réu em nenhum processo até o momento.

Aliados e simpatizantes do ex-presidente acusam a imprensa e autoridades ligadas às investigações de uma ação política para manchar o nome do ex-presidente (candidato natural do partido nas eleições de 2018).Segundo o presidente do PT, Rui Falcão, Lula seria vítima de uma tentativa de "linchamento moral". Uma prova de que essas seriam "ações políticas", segundo seus simpatizantes, seria o fato de acusações contra opositores receberem menos atenção.

Mas, afinal, quais são as suspeitas contra o ex-presidente? O que dizem os que o acusam - e como ele responde? Confira abaixo:

1) MP de São Paulo e o triplex: Quais as suspeitas contra Lula? SIGA PARA A MATÉRIA COMPLETA::

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Faltava imundice - agora sobra

Por Alberto Dines, no Observatório da Imprensa em 23/02/2016, na edição nº 891 - "O espetáculo protagonizado pela jornalista Mirian Dutra desde o dia 19 de Fevereiro desvenda uma imprensa mais mambembe, avacalhada e vulnerável do que as demais instituições, órgãos e poderes da república.

No auge do mais corrosivo e demorado escândalo da história brasileira, o episódio deveria merecer no máximo 30 segundos num programa pornográfico da madrugada ou 20 linhas num palpitante blog nos confins catarinenses.

Deu-se o contrário: o assunto foi minuciosamente exposto durante cerca de cinco preciosos minutos nos mais prestigiados telejornais noturnos (“Jornal Nacional” da Rede Globo e “Jornal das 10” da GloboNews) e nos dias seguintes vomitado em diferentes segmentos e horários das emissoras de rádio do mesmo grupo midiático (um dos maiores do mundo), também em seu semanário.

Motivo: na edição da Folha de S. Paulo daquele dia, assinada pela responsável da página de frivolidades, amizades & afinidades, a jornalista Dutra denunciou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ex-namorado e pai do seu filho (hoje com 24 anos), por ter usado uma multinacional brasileira para complementar suas despesas primeiro em Lisboa e depois em Barcelona onde serviu sempre como funcionária da Rede Globo. Em dezembro passado, a Globo rompeu o contrato e agora, dois meses depois, pelo telefone a jornalista pergunta indignada: “Por que ninguém nunca investigou as contas que Fernando Henrique tem aqui fora”?

Primeira Pergunta: o que levou o Grupo Globo a fazer tamanho escarcéu sempre citando a matéria da Folha (sua sócia no jornal Valor Econômico), como causadora do insólito quiproquó?

Resposta: Arrufos entre acionistas, óbvio. A matéria da Folha é visivelmente confusa, apressada. Não faz jus às responsabilidades de um jornalão que completa 95 anos de gloriosos serviços prestados ao país: mal escrita, mal apurada e mal editada, deixa claro que a Globo sempre bancou a manutenção da profissional no exterior ao longo de quase três décadas.

Não é inédita: reaproveita uma entrevista da jornalista Dutra concedida em Madri a 19 de janeiro ao mensário ilustrado Brazil com Z destinado a promover as relações Brasil-Espanha. A edição de fevereiro com a jornalista na capa começou a circular no dia 14 (ver reprodução)


O Grupo Globo sentiu-se traído pelos parceiros graças a uma exposição que considera injusta e perniciosa à sua imagem de veículo independente. A bem da verdade, convém acrescentar que a própria jornalista Dutra — pelo menos no período em que residiu e circulou em Lisboa — jamais se importou com o papel secundário a que foi relegada pela empresa. Não muito diferente, aliás, daquele que desempenhou antes do affaire com o ex-presidente.

Segunda pergunta: por que razão a “Folha” insiste em manter um distanciamento majestático, como se nada tivesse a ver com o pepino que produziu? Não chamou a atenção dos responsáveis da redação a proximidade entre a data do desligamento da jornalista Dutra da Rede Globo e sua quase imediata indignação cívica ante as supostas contas do ex-presidente no exterior? Não examinaram o material da revista espanhola que serviu de referência e fonte? Não cabe a um jornal investigar o que se esconde atrás das denúncias que veicula?

Primeira Resposta: na sua coluna de domingo, 21/2, com chamada na capa , o jornalista Helio Schwartsman, da Pagina Dois, vai fundo, inequívoco: “ o timing das novas suspeitas levantadas contra FHC é obviamente suspeito. Elas surgem num momento em que o líder petista [Lula] vinha tendo dificuldades para explicar seu relacionamento com empreiteiras. A possibilidade, porém, de que a história contra FHC tenha sido desenterrada por encomenda não muda o fato de que precisa ser explicada.”

Também a Folha deve explicações aos leitores sobre sua decantada obsessão em fazer barulho e a precariedade de suas apurações. Se o fizer que seja com profissionais habilitados a cobrir assuntos relevantes."

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Que mídia é essa?

Por Marcus Lanoni (*) - O que a grande mídia, porta-voz e holofote da coalizão conservadora oposta ao social-desenvolvimentismo, vem fazendo com o PT, Dilma e, recentemente, com Lula é uma ação política organizada e destrutiva de grande envergadura. Essa ação fornece base empírica para responder à pergunta do título nos seguintes termos: a mídia brasileira é altamente concentrada, não plural e partidarizada. Tal estrutura do sistema de mídia prejudica o desenvolvimento da democracia no que ela tem de mais essencial, a igualdade de condições.


Para mencionar apenas um exemplo, entre tantos outros que têm inundado quase que diariamente a radiodifusão e a imprensa desde as eleições de 2014, a ombudsman da Folha de S. Paulo, Vera Guimarães Martins, avaliou em sua coluna, no último dia 7, que o jornal não deu o merecido destaque à menção, no depoimento do delator Fernando Moura à Justiça Federal, na Operação Lava Jato, de que, ao menos desde 2002, Aécio Neves e o PSDB estariam envolvidos em um esquema de corrupção, na Furnas Centrais Elétricas, semelhante ao existente na Petrobras, tendo como mediador o diretor Dimas Toledo. Referindo-se ao rateio tucano da propina do esquema, Fernando Moura afirmou: "um terço São Paulo, um terço nacional e um terço Aécio".

Formalmente, corporações de mídia são empresas, e não partidos políticos. No entanto, devido à natureza de sua atividade, a informação e a comunicação, que abrange a opinião e o noticiário políticos, essas empresas são peças-chave na comunicação política e na formação da opinião pública. Além disso, quando extrapolam o campo meramente opinativo e partem para a ação, tornam-se partidos políticos no sentido amplo do termo. Havendo oligopólio na estrutura de mídia, a posse desigual de recursos de informação, comunicação, opinião e ação desequilibra a competição político-democrática cotidiana e compromete a diversidade opinativa.

A concentração da propriedade da mídia tem sido uma das principais portas de entrada dos interesses econômicos na esfera política. O ideal neoliberal da primazia do mercado sobre o Estado, portanto, sobre a política, tem na ação da grande mídia concentrada, que desempenha papel estruturante na comunicação política, sua principal vanguarda material de efetivação. A macroeconomia neoliberal, para citar um exemplo especial, embora seja apenas uma visão entre outras, é propalada na grande mídia como se fosse o elixir da longa vida. Atacar a política, considerando-a unilateralmente como ineficiente e corrupta, é a principal plataforma dos ideólogos do partido neoliberal, agremiação sociopolítica na qual a grande mídia se insere como liderança, pelos recursos de poder que possui e mobiliza.

No que diz respeito ao suposto combate à corrupção, tem sido mais do que visível a política de dois pesos e duas medidas da grande mídia, que vem se tornando, com intensidade crescente, desde as eleições presidenciais de 1989, passando pelas de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014, um partido antipetista. Além disso, esse partido conservador, vem, também nos períodos não eleitorais, cada vez mais revelando sua seletividade, conforme verifica-se na sua postura tolerante em relação a casos como a compra de votos parlamentares para a aprovação da emenda constitucional da reeleição, o Mensalão e “Tremsalão” tucanos, o aeroporto de Claudio etc. Por outro lado, não há notícia alguma de jornalismo investigativo, mesmo que de média envergadura, sobre o esquema de propina em Furnas, supramencionado. 

Para um lado, tolerância e favores, para o outro, intolerância e lei. Essa polarização ideológica é o principal propulsor da onda autoritária e até de comportamentos sociopolíticos protofascistas em setores do eleitorado, tendo à frente estratos sociais mais abastados, desde a conjuntura aberta pelos protestos de rua, em 2013. O andamento da cena política induz a imaginarmos o que acontecerá com a liberdade de expressão se a oposição neoliberal vencer em 2018.  Não haverá, caricaturalmente, um coeso bloco governamental-midiático, em um contexto no qual as empresas de comunicação, conformando uma estrutura proprietária sem pluralidade, e o Estado a elas associado, inclusive, mas não só, pelo generoso gasto público com publicidade, além de outras capturas, configurarão um regime político semi-totalitário, coveiro da efetiva diversidade de opinião?

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) tem se preocupado com a liberdade de expressão, que, segundo ela, depende muito da existência “de um sistema midiático livre, plural, independente e diverso”.  O acesso à mídia é tão importante quanto a sua independência. No trabalho “Indicadores de desenvolvimento da mídia: marco para a avaliação do desenvolvimento dos meios de comunicação”, essa organização afirma: “Não é apenas a ausência de restrições na mídia que interessa, mas também saber em que medida todos os setores da sociedade, sobretudo os mais marginalizados, são capazes de ter acesso à mídia para obter informações e fazer com que suas vozes sejam ouvidas”. O trabalho sugere que o desenvolvimento da mídia deve ser avaliado com base em cinco categorias principais: 1) se o sistema regulatório é favorável à liberdade de expressão, ao pluralismo e à diversidade da mídia; 2) o nível de pluralidade e diversidade da mídia, com igualdade de condições no plano econômico e transparência da propriedade; 3) o papel da  mídia como uma plataforma para o discurso democrático; 4) a capacitação profissional e apoio às instituições que embasam a liberdade de expressão, o pluralismo e a diversidade; 5) a (in)suficiente capacidade infraestrutural para sustentar uma mídia independente e pluralista.

O sistema de comunicações no Brasil, altamente concentrado e carente de regulamentação das diretrizes elencadas na Constituição de 1988, não garante adequadamente as cinco características supramencionadas. Uma proposta alternativa foi formulada, a partir de 2012, por organizações democráticas da sociedade civil, resultando no “Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Comunicação Social Eletrônica”, também denominado de Lei da Mídia Democrática. Trata-se de uma iniciativa popular legislativa, encaminhada por um movimento social que coleta assinaturas de adesão à campanha por uma nova regulamentação da comunicação social no Brasil. Nos seus princípios e objetivos, lê-se: “O novo marco regulatório deve garantir o direito à comunicação e a liberdade de expressão de todos os cidadãos e cidadãs, de forma que as diferentes ideias, opiniões e pontos de vista, e os diferentes grupos sociais, culturais, étnico-raciais e políticos possam se manifestar em igualdade de condições no espaço público midiático. Nesse sentido, ele deve reconhecer e afirmar o caráter público de toda a comunicação social e basear todos os processos regulatórios no interesse público”.

Seguem-se 20 diretrizes fundamentais: arquitetura institucional democrática;  participação social; separação de infraestrutura e conteúdo; garantia de redes abertas e neutras;  universalização dos serviços essenciais; adoção de padrões abertos e interoperáveis e apoio à tecnologia nacional; regulamentação da complementaridade dos sistemas e fortalecimento do sistema público de comunicação; fortalecimento das rádios e TVs comunitárias; democracia, transparência e pluralidade nas outorgas; limite à concentração nas comunicações; proibição de outorgas para políticos;  garantia da produção e veiculação de conteúdo nacional e regional e estímulo à programação independente; promoção da diversidade étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, de classes sociais e de crença; criação de mecanismos de responsabilização das mídias por violações de direitos humanos;  aprimoramento de mecanismos de proteção às crianças e aos adolescentes; estabelecimento de normas e códigos que objetivem a diversidade de pontos de vista e o tratamento equilibrado do conteúdo jornalístico; regulamentação da publicidade; definição de critérios legais e de mecanismos de transparência para a publicidade oficial; leitura e prática críticas para a mídia; e, por fim, acessibilidade comunicacional. Ou seja, há alternativas.

Nada é mais valioso para alcançar paz, desenvolvimento e justiça social na complexa sociedade moderna que a democracia. Esta, por sua vez, requer igualdade de condições, especialmente na esfera da liberdade de expressão, que depende de meios de concretização material, e não de mera formalização normativa. Uma ordem legal que enuncia a liberdade de expressão sem propiciar o acesso, em mínimas condições de igualdade, à mídia é tão retoricamente vazia nesse quesito fundamental quanto aquela que verbaliza o direito à vida sem garantir, na prática, recursos básicos ao saciamento da fome para milhões de pessoas excluídas ou mal incluídas no mercado.

Se, ao invés de prevalecer a força livre da opinião pública, predominar, sobretudo em algumas conjunturas, como a atual, a pujança da opinião publicada pelo poder econômico midiático ou se, ao invés da liberdade de imprensa, prevalecer a liberdade de empresa dos oligopólios de comunicação, o imenso potencial dos atores sociais, na democracia brasileira, conduzirem a igualdade de condições a degraus mais elevados seguirá represado. A reforma da estrutura de mídia é um imperativo democrático. Assim como há várias possibilidades de política macroeconômica, há diversos meios de regulamentar a comunicação social, conforme mostram a experiência internacional e as investigações da Unesco. Não à toa, os mesmos atores que propagandeiam na esfera pública a ideologia de que só há uma política macroeconômica, a da austeridade fiscal e monetária, propalam também que só há uma estrutura de mídia, essa concentrada, partidarizada e excludente que existe no Brasil.

(*) Marcus Ianoni é cientista político, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisador das relações entre Política e Economia e VisitingResearcheAssociate da Universidade de Oxford (Latin American Centre). Esta matéria foi publicada originalmente no Jornal do Brasil

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Dez impactos imediatos causados por uma mentira difundida na rede

Por Sakamoto, em seu blog - "Um jornal impresso de Minas Gerais estampou em sua manchete de capa uma foto minha e uma declaração atribuída a mim – mas que nunca dei – de que “aposentados são inúteis à sociedade''. Dentro, uma entrevista – que também nunca concedi – com várias barbaridades contra os aposentados que eu nunca falaria. Ao que tudo indica, alguém pegou um post meu do ano passado, inverteu o sinal de tudo e o transformou em entrevista.

O que acontece no período entre uma difamação ser lançada na rede e o jornal, no caso o “Edição do Brasil'', soltar uma nota informando que a entrevista era falsa?

Desta vez, tive a curiosidade de registrar passo a passo o que acontece. Agora trago um grande passeio pela natureza humana na web. Isso pode ser útil quando disserem a vocês algo do tipo: “Ah, relaxa, é só a internet! Não dá em nada.''


1) Pessoas que não conhecem as ideias deste autor começam a compartilhar o texto, indignadas.

2) Mensagens espumando de raiva chegam até mim. Muitas de aposentados. As mais leves, desejam muita dor e sofrimento.

Como a de Durval Alves Correia Alves, do Rio de Janeiro (RJ): “Seu verme. Deveria ter vergonha do seu pai e da sua mãe que os colocou no mundo. Deveria ter a sensibilidade de saber que o idoso contribui muito mais do que você como jornalista. Acredito que você deverá morrer antes dos seus 40 anos, senão de alguma doença incurável ou de tiro. Toma vergonha na puta da sua cara e vê se faz alguma coisa de bom para aqueles que precisam de pessoas de dignidade. Seja homem e não um marginal. Cuidado com as merdas que fala, você é um ser mortal… Não se esqueças disso seu filho da puta, pela saco, inútil é você. Me processa.'' Não costumo dar nomes, mas a postagem dele foi aberta.

3) As conhecidas redes de ódio e intolerância, mesmo sabendo que aquilo não condiz com o pensamento deste autor, se apropriam do conteúdo e começam a dispara-lo como se não houvesse amanhã. Surge o primeiro “esse desgraçado é vendido para o governo federal'', afirmando que me pagam para falar mal de aposentados. Evitam dizer que sou crítico ao governo Dilma e às mudanças na Previdência e na legislação trabalhista que ela namora. Surgem os memes, que alimentam as hordas do Fla-Flu político nacional que, de forma leviana, reduzem todos que são de esquerda a um partido político.


4) Alguém relaciona a entrevista falsa ao nazismo e diz que o nazismo e o socialismo são a mesma coisa. E que ser de esquerda significa querer acabar com os mais velhos. “Nazista é gente boa perto desse animal'', é um exemplo desses elogios. Alguém sugere a hashtag #Heil_Sakamoto.

5) Chegam as ameaças de morte.

Como a de Jullio Cavalcante Fortes, de Rio Branco (AC): “Este filho da puta, desgraçado, deve ser caçado e morto a faca. Vou distribuir este escarnio para todo o Brasil. E vamos aguardar no que vai dar. Gostaria muito de enfiar 5 balas 1.40 no meio da testa deste filho da puta para ele nunca mais falar mau dos idosos. Desgraçado (sic)''. A mensagem foi pública, por isso publico aqui.

6) Dou uma explicação simpática no Facebook, dizendo que nunca disse aquilo e aponto para o texto que escrevi defendendo o aumento do salário e que foi desvirtuado por ignorância ou má fé. Há pessoas que não acreditam (“se está se justificando é porque fez'') e outras simplesmente ignoram o claro sentido do texto e continuam me xingando.

7) Leitores frequentes do blog, que concordam com ele ou não, tentam convencer os amigos na rede de que aquilo não faz sentido e a acusação é falsa. Mostram o texto original de onde foi inspirada a falsa entrevista, explicam a distorção de tudo. Parte dos amigos dos leitores, em fúria, ignoram as explicações, dizem que nada disso importa. O que importa é que ele é de esquerda. E se é de “esquerda'' pode até não ter tido culpa nisso, mas alguma culpa ele tem. E, seguindo a lógica do linchamento (se a turba está contra ele é porque é o culpado), sentam o pau.

8) O primeiro colega jornalista entra em contato para repercutir a matéria. O texto atinge, em pouco tempo, cerca de 15 mil compartilhamentos.

9) O próprio jornal reconhece que não dei a entrevista a eles. Alega que ela foi respondida por uma pessoa que se fez passar por uma assessora minha para prejudicar a mim e ao jornal (justificativa que eles deram em nota que substituiu a entrevista falsa). Claro, nunca me ligaram para checar qualquer informação antes de colocá-la na capa.

10) Mas não importa mais, não depende mais do jornal. As redes de ódio ignoram e continuam divulgando o conteúdo original. Como um desmentido não é lido com a mesma voracidade que uma acusação, e como as pessoas só leem título e foto na internet antes de comentar, a porrada continua. Na verdade, o conteúdo não mais importa, nem o desmentido, nem a informação. Passo a ser obrigado a provar de que não falei aquilo e não o contrário. É raiva, apenas raiva que flui.

Tomarei as medidas judiciais cabíveis. Mas o próximo passo, eu já conheço: ser xingado no supermercado ou ser vítima de agressões e cusparadas na rua, como já aconteceu comigo quando circularam outras difamações no ano passado. Esses casos têm cauda longa, duram meses e anos, arrastando-se pela internet e sobrevivendo de incautos e ignorantes. É conteúdo que ficará circulando para ser capturado por grupos que promovem o ódio, saindo da rede e sendo transportados por pessoas sem discernimento que, no limite, fazem Justiça com as próprias mãos.

Tudo isso para me lamentar da vida? Não, longe disso. Quem atua na área de direitos humanos sabe que isso pode acontecer.

Isso é para lembrar que você ganha um pontinho no céu e um bebê panda sorri na China toda vez que você checar uma informação antes de compartilha-la em redes sociais. Então, não faça isso por mim ou pela verdade dos fatos. Faça pela sua alma. E pela alegria dos pandas."

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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

As barrigas de 2015, as besteiras que o ódio produz

A exemplo do jornalista Pedro Zambarda, que publicou um artigo com 20 furadas épicas da imprensa brasileira em 2015, replicado aqui, o blogueiro e também jornalista Fernando Brito responsável pelo Tijolaço, selecionou em um post algumas "barrigas" cometidas pelo jornalismo brasileiro durante o ano que passou.
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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

As 20 furadas épicas da imprensa brasileira em 2015

Por Pedro Zambarda, no Diário do Centro do Mundo - "Crise política, abertura de impeachment, pauta reacionária de Eduardo Cunha no Congresso, retração do PIB, voos de Aécio Neves com celebridades e figurões da imprensa, corrupção na Sabesp, Lava Jato, assunto não faltou em 2015. Mesmo assim, o jornalismo conseguiu furos que se provaram enormes furadas, além de teses catastróficas que não se provaram verdadeiras.
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Os Marinho, os mais ricos do País, detonam o mínimo

247 - “Donos da maior fortuna do Brasil, que soma mais de US$ 25 bilhões, os irmãos Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho, donos da Globo, publicaram editorial no último dia do ano, em que chamaram de "tosco" o argumento usado pelo governo para reajustar o salário mínimo ligeiramente acima da inflação; segundo os donos da Globo, trata-se de "seríssimo problema", o que prova que o grupo se mantém fiel à sua tradição contrária a qualquer política trabalhista; em abril de 1962, por exemplo, o jornal alertou para o que seria "desastroso": a instituição de um décimo-terceiro mês de salário; de acordo com o Dieese, a política de ganhos reais do mínimo (77% desde 2002) foi um dos principais fatores de inclusão social nos últimos anos”.

Em abril de 1962, o jornal O Globo, à época conduzido por Roberto Marinho, publicou uma manchete em que previa algo desastroso para o Brasil: a criação de um décimo-terceiro salário.



Hoje, ninguém questiona o fato de que o décimo-terceiro é um dos principais alavancadores das vendas do comércio no fim de ano e já foi devidamente incorporado aos custos das empresas, sem que nenhum desastre tenha ocorrido.

Nesta quinta-feira, último dia de 2015, o Globo retoma sua tradição contrária a qualquer política trabalhista. Em editorial interno, classifica como "tosco" o argumento usado pelo ministro do Trabalho, Miguel Rossetto, para defender um aumento do salário mínimo ligeriamente acima da inflação – com reajuste de 11,67%, o piso salarial foi a R$ 880,00.
Segundo O Globo, trata-se de "seríssimo problema" que inviabiliza as contas públicas. O Globo ainda ironiza e afirma que, se o mínimo fosse capaz de estimular a economia, por que não triplicá-lo?

Coincidência ou não, os três irmãos Marinho (Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto) formam a família mais rica do Brasil, com patrimônio superior a US$ 25 bilhões.
A tese dos três, no entanto, não encontra amparo nos dados do Dieese, que aponta que a política de valorização do mínimo, que teve ganhos reais de 77% desde 2002, foi um dos principais fatores de inclusão social nos últimos anos.

Abaixo, o editorial do Globo:



Leia, ainda, análise do Dieese:

Aumento real do mínimo chega a 77% desde 2002 e injeta R$ 57 bi na economia

Incremento da renda promove retorno de R$ 30 bilhões em arrecadação com impostos. Segundo Dieese, cada R$ 1 de aumento do mínimo promove retorno anual de R$ 293 milhões em contribuições à Previdência.

Por Paulo Donizetti de Souza – Com o reajuste de 11,67% e valor de R$ 880 a partir de 1º de janeiro, o salário mínimo nacional terá alcançado um ganho real de 77,3% acima da inflação acumulada desde 2002. Passará a ter, ainda, o maior poder de compra desde 1979 em relação à cesta básica. O novo vencimento do trabalhador que recebe o piso nacional equivale a 2,4 vezes o valor da cesta básica calculado pelo Dieese. Em 1995, no início do governo Fernando Henrique Cardoso, correspondia a 1,1 cesta.

Segundo o governo, o novo valor terá um impacto de R$ 4,8 bilhões no orçamento da União em 2016. Para o Dieese, no entanto, o acréscimo de renda aos 48 milhões de brasileiros que recebem salário mínimo representará uma injeção de recursos de R$ 57 bilhões na economia, com impacto de R$ 30,7 bilhões na arrecadação de impostos.

O efeito concreto dessa política de valorização é ainda mais benéfico para o bolso das pessoas e para as contas públicas do que a política de juros praticada pelo Banco Central. O coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado Silveira, estima que o gasto anual com os juros pagos aos investidores de títulos públicos baseados na Taxa Selic seja de R$ 400 bilhões.

E ainda que o aumento do mínimo repercuta nos pagamentos da Previdência Social, já que são 22,5 milhões os aposentados e pensionistas que o recebem, os efeitos do aumento da renda em circulação na economia compensam. "Cada R$ 1 de acréscimo no salário mínimo tem um retorno de R$ 293 milhões ao ano somente sobre a folha de benefícios da Previdência Social", diz Silvestre, referindo-se ao impulso dado pela renda dos trabalhadores e aposentados no consumo e, portanto, na manutenção das atividades de empresas, comércio e serviços e no respectivo nível de emprego.
Cerca de dois terços dos municípios do país tem como principal fonte de renda e de ativação das atividades econômicas locais o salário mínimo.

Muito a evoluir

Em seu artigo 7º, a Constituição determina que entre os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, está um "salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim".

Ao anunciar o valor de R$ 880 para o salário mínimo a partir de 1º de janeiro, o governo federal não faz mais do que a obrigação de dar um pequeno passo em direção a contemplar um direito essencial historicamente descumprido, praticamente desde que os primeiros ano em que o salário mínimo foi instituído, em 1938. Mas essa busca pela recomposição de seu poder de compra de modo a cumprir a lei nem sempre esteve presente nas políticas públicas.

A política de valorização mais efetiva do salário mínimo começou a ser discutida em 2004, por pressão das centrais sindicais. Na ocasião o governo Lula apenas começava a rever a política de ajuste fiscal liderada pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci. Essa política de recuperação consiste de um reajuste baseado na inflação do ano que termina e na evolução do PIB no ano anterior – se estenderá pelo menos até 2019.

A pressão das centrais sindicais pela manutenção dessa política é permanente, mas ela não basta. O processo de recuperação pode perder força se o Brasil não voltar a crescer rapidamente, já que o aumento do PIB é que determinará o ganho real dos próximos cinco anos.

Em entrevista à Revista do Brasil, o professor Cláudio Dedecca, do Instituto de Economia da Unicamp, alerta, porém, que o ideal seria que todos os estratos da sociedade contassem com um crescimento da renda, e não que houvesse a perda de um segmento para ganho de outro. Por isso, é preciso que o país apresente taxas de crescimento superiores às que vêm sendo observadas. "Se continuar no ritmo atual, a política adotada para o salário mínimo, por exemplo, encontrará restrições crescentes no futuro."

No início do Plano Real, julho de 1994, o valor necessário do mínimo, calculado pelo Dieese, era nove vezes superior ao oficial (R$ 590 a R$ 64). Ao longo do governo Fernando Henrique essa diferença entre oficial e necessário oscilou de sete a oito vezes; durante a gestão do tucano um trabalhador que recebia salário mínimo chegou a precisar trabalhar 11 meses para alcançar o valor exigido pela lei. No primeiro janeiro dos brasileiros sem Fernando Henrique, em 2003, o valor nominal do salário mínimo era R$ 200, enquanto o necessário para atingir o que determina a Constituição era R$ 1.386 (quase sete vezes mais).

A partir de 2003, essa diferença passou a ser reduzida de maneira mais acentuada, chegando ao seu melhor patamar em janeiro de 2014, final do primeiro mandato de Dilma, quando o mínimo era de R$ 724 e o necessário exigido por lei, R$ 3.118,00 (3,5 vezes mais). A alta da inflação (6,22% em 2014 e estimativa de 11,5% de INPC em 2015) combinada com baixo crescimento do PIB (2,3% em 2013 e 0,1% em 2014) já promove um ligeiro recuo, e a relação mínimo oficial versus o necessário deverá estar em pouco mais de 4 vezes neste janeiro (o valor efetivo da cesta básica, base para o cálculo do mínimo necessário pelo Dieese, só será conhecido no final do mês).

O ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, disse ontem (29) em entrevista que a política de valorização do mínimo leva o governo a caminhar "na direção correta". "Renda nacional é responsável por grande parte da dinâmica econômica nacional. O mercado interno é que responde por grande parte do dinamismo da nossa economia. Essa política tem permitido fortalecer e ampliar o mercado interno, diminuído as desigualdades de renda e elevado a qualidade de vida da sociedade brasileira", disse.

Rossetto tratou ainda de criar um ambiente mais otimista para o início do ano, em que o governo é pressionado por centrais sindicais, movimentos sociais, empresários e governadores a adotar rapidamente medidas de recuperação do crescimento. O ministro afirmou que a oferta de crédito deve ter novo impulso nos próximos meses. O governo espera ainda uma retomada dos investimentos privados, sobretudo com a reativação dos setores paralisados em decorrência da Operação Lava Jato, a partir dos acordos de leniência que permitirão a empresas investigadas voltar a celebrar contratos com o setor público.
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Fonte: https://www.brasil247.com/pt/247/economia/211532/Os-Marinho-os-mais-ricos-do-Pa%C3%ADs-detonam-o-m%C3%ADnimo.htm

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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Como a linguagem da mídia controla os pensamentos

Artigo da jornalista Léa Maria Aarão Reis, publicado no Carta Maior – “A arrogância e a impunidade levam a mídia hegemônica, corporativa e comprometida, que com hipocrisia se diz isenta (!), a prosseguir, como um trator,  reforçando seu perfil de partido político inconfessado e espúrio em que se transformou: o PIG.


Parece sem limites a audácia com a qual falseia a realidade objetiva, perseguida, com esforço, no jornalismo ético. A velha mídia usa palavras e expressões que fazem o papel de “agente contaminador” como diz Zygmunt Bauman no seu livro, Medo Líquido. Manipula e asperge mais medo e insegurança àqueles latentes em todos nós, neste mundo do século 21. Distorce significados com eufemismos; entorpece, envenena corações e mentes, confunde os desavisados e silencia quando é conveniente aos interesses dos seus proprietários. Ludibria e mente sem pudor.

Com os sinais trocados, a velha mídia se vale da novilíngua de Orwell. Restringe ou anula as possibilidades de raciocínio dos leitores, telespectadores/eleitores e vai além ao determinar aos seus editores, redatores, repórteres e produtores de TV o silêncio, o registro ou a ênfase de fatos, coisas e pessoas segundo parâmetros pré-determinados. Ela busca o controle do pensamento, procura abolir a reflexão crítica e tenta impedir que idéias para ela indesejáveis floresçam e dificultem o retorno de um projeto de poder que se esvaiu, porque ficou velho, há 13 anos.

No entender de Venício Lima, professor aposentado de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), a  linguagem viciada da velha mídia começa a ser questionada porque sua falta de credibilidade é crescente. “A credibilidade é o seu freio,” ele diz. “A realidade dos fatos e das coisas e o cotidiano das pessoas, cada vez mais, contradizem essa linguagem criada para atender interesses específicos; mas as palavras nela usadas com insistência, conotam, sobretudo, coisas que vêm dessa ‘seletividade jornalística’, uma visão parcial dos acontecimentos - para se dizer o mínimo.”

“As pautas negativas, por exemplo. “A especialidade dos noticiários locais que vão ao ar em três horários diários, país afora, é desgraça. Elas abastecem os telespectadores de dejetos. Quem chega ao Brasil, de repente, e escuta e vê esses jornais de TV não entende nada. Só que este jornalismo ‘vale de lágrimas’ tem um limite. As pessoas se cansam e percebem que nas suas vidas não há só desgraça; acabam não se identificando.”

Na Av. Paulista, dia 13 passado, o apocalipse era agora. O país, destruído, não contava com fio de esperança fora do golpe. “(Foi) uma prova do serviço horroroso que a mídia presta para a sociedade,” escreveu o jornalista Paulo Nogueira. “Jornais e revistas desinformam, manipulam, escamoteiam. Cria-se uma realidade paralela, uma distopia absoluta que mostra um país em processo de desintegração.”

O sorriso complacente do editor de Economia da Globonews, esta semana, garantindo que “ninguém espera que a economia do país vá se recuperar no ano que vem” conclui o serviço do jornalismo seletivo ao qual se refere o professor Lima. O jornalismo do quanto pior, melhor.

‘Cartão amarelo ao governo’; ‘atividades ilegais durante ação militar’; ‘técnicas avançadas de interrogatório’ (tortura) são exemplos de expressões cunhadas pela mídia hegemônica e corporativa daqui e de lá de fora. São eufemismos oficiais.

O jornalista americano Adam Gopnik diz que é preciso coragem para eliminar o clichê e o eufemismo do nosso discurso e chegar mais perto da verdade. Ele recorda  George Orwell: “Metáforas surradas não passam de uma sopa de palavras destituídas de qualquer poder evocativo; servem de muleta ao orador sem imaginação ou quem tem algo a esconder.”
O professor de Relações Internacionais da Universidade do ABC, escritor e jornalista Gilberto Maringoni, do PSOL, acha que os eufemismos, “algo encontrado na mídia de direita e de esquerda” não são o principal problema da (des) informação.

Na mídia corporativa, no entanto, se lê habitualmente “Bassar, ditador da Síria”, mas não “Aécio, o candidato derrotado nas urnas.”

“Isto vai além de eufemismo,” Maringoni argumenta. “É manipulação de informação mesmo. É o caso de trocar a palavra "ocupação" por "invasão" no caso da luta pela terra. (NR: ou da ocupação das escolas paulistas pelos estudantes.) “Isto se dá não só na mídia corporativa, mas em vários blogs governistas, que propagam notícias falsas ou apurações malfeitas.

Foram dramáticos os casos durante as manifestações de junho de 2013 quando blogueiros governistas tentaram imputar ao PSOL, por exemplo, vínculos com os black blocs. E há os cortes de direitos de aposentadoria, no governo Lula, que viraram reforma da Previdência. Prioridade ao pagamento de juros se torna "responsabilidade fiscal".

Para ele, esta “é a luta pela informação; faz parte do jogo. A direita, por exemplo, custou a admitir que em 1964 tenha havido um golpe. Mas foi uma batalha que os democratas venceram. Ninguém mais fala em ‘revolução de 1964’ salvo alguns siderados.”

Até hoje, porém, a mídia hegemônica, siderada, se refere ao golpe de 64 como militar e não civil-militar. E vai trocando a embalagem dos  mantras despejados ao sabor dos ventos que sopram. Muda a forma da cantilena. O conteúdo continua o mesmo. Refere-se ao novo golpe com que se pretende destituir o governo atual, há um ano, como ‘impedimento’.

A incompetência do governo de São Paulo no caso da falta d’água e do racionamento é, delicadamente chamada de ‘crise hídrica’. ‘Manobras regimentais’ de Eduardo Cunha, registradas na mídia, na verdade são ataques flagrantes ao ordenamento jurídico, obstrução à investigação e uso do cargo para processá-la como denuncia o jornalista e professor Djair Galvão. O fiasco das manifestações  do dia 13 de dezembro, para a mídia velha são apenas um descompromissado ‘esquenta’. Modesto ensaio.

Já o tucano Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB,  perdeu seu nome – mas por outros motivos, que não os do pecuarista Bumlai. Tratado como "ex-governador de Minas" em reportagem da Veja, deixou perplexo o escritor Fernando de Morais. "Como Minas Gerais teve dezessete governadores nos últimos setenta anos, fiquei sem saber a qual deles a revista se refere", reclamou Morais.

Para um colunista do Globo, num dia em que os tucanos se empoleiraram, nervosos, em cima do seu muro, antes de decidir se jogavam ou não, no lixo, o presidente da Câmara dos Deputados, o registro foi cândido: “Cunha confunde as coisas.”

Expressões como ‘danos colaterais’, ‘guerra ao terrorismo’, ‘libertação do Iraque’, ‘arroubos patrióticos’ – esta, usada pelo diretor de jornalismo da TV Globo, na época, se referindo ao comício das Diretas Já, designado aliás pelos âncoras  como ’show de cantores’ - são malabarismos que maltratam o idioma, insultam o cidadão e ocultam a realidade inconveniente. Estes contorcionismos, porém, criam expressões  introjetadas  em milhares de indivíduos desavisados. E isto é grave.

“O foco da reportagem que o telejornal de maior audiência do país, o Jornal Nacional, da Globo, levou ao ar naquela noite das Diretas Já, aliás, foi a comemoração do aniversário dos 430 anos de São Paulo,” lembrou a jornalista Najila Passos em Carta Maior.

A Linguagem do Terceiro Reich, livro de Victor Klemperer, demonstra a importância dos usos da língua para apreensão de uma cultura histórica assim como a linguagem foi usada pelos nazistas como manipulação ideológica. Sua tese é a de que o nazismo se consolidou ao dominar a linguagem: “Ele se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões e frases impostas pela repetição, milhares de vezes, e aceitas, inconsciente e mecanicamente”.’

“É grande a quantidade de palavras absorvidas na linguagem corrente do cotidiano, produtos de repetições feitas à exaustão. O poder da linguagem hegemônica é enorme. Para se ter uma ideia, ela foi responsável pela unificação do estado italiano, ressaltou Gramsci. A propósito: aqui, no Brasil, o ano de 2005 ficou conhecido como o ‘ano da crise do mensalão’, comenta o professor Venício Lima.

Um eufemismo clássico se refere à tortura e às ações militares ilegais. Na mídia americana elas se sofisticaram e se transformaram em ‘técnicas de interrogatório avançadas’ e ‘conjunto de procedimentos alternativos.’

Mas há outros recursos tão fortes e tão ou mais sutis que os eufemismos: a harmonia das três manchetes idênticas dos jornalões do eixo Rio/São Paulo no último dia 14 sobre os gatos pingados que miaram pelas ruas a favor do impeachment: ’protestos em todos os estados’, elas anunciaram. E a omissão, na capa do Globo do dia 17, sobre os milhares que marcharam contra o impedimento no centro da capital paulista?

A construção da narrativa do caos, do fracasso econômico e da incompetência do governo foi um dos vértices da cantilena da mídia corporativa, em 2015. O segundo se refere à Lava Jato e à corrupção tentando, de todas as formas, relacioná-las a Dilma e ao Lula, que “começa a aparecer com maior frequência neste tipo de noticiário durante os últimos meses”, informa pesquisa laboriosa da jornalista Tatiana Carlotti. O terceiro, a construção, segundo o evangelho da velha mídia, da construção da legitimidade do impeachment “abarcando uma narrativa “institucional”, diz Carlotti. “TCU, Legislativo, e outra, de massas - o ‘Fora, Dilma’.

Um rápido levantamento deste noticiário viciado mostra que no dia 17 deste mês, a manifestação contra o impeachment não ganhou manchete nem a imagem panorâmica que merecia pela consistência do protesto. No dia 15, o empresário José Carlos Bumlai perdeu seu nome e sobrenome nas manchetes e se tornou ‘o amigo de Lula, denunciado sob suspeita de corrupção’. Com a imagem em meia folha e não mais em folha inteira, na primeira página da FSP, no dia 14, ’40 mil se reúnem no menor protesto anti-Dilma em SP. Um dia antes: ‘Após 13 anos de PT, 68% não vêem melhoria de vida.’

Dia 9 de dezembro, a imagem com a legenda: ‘... governistas obstruíram as urnas’. Silêncio absoluto sobre a eleição da chapa avulsa de Cunha.

‘Para brasileiros, corrupção é o maior problema do país’ é uma das manchetinhas da capa do dia 29 de novembro com destaque para uma chamada menor na mesma primeira página procurando – atenção para a manobra - relacionar  os dois assuntos: ‘47% do eleitorado não votaria em Lula em 2018’.

Diante deste panorama infecto, a internet e as plataformas digitais de informação, no médio prazo terão força para reverter o garrote atual do jornalismo no Brasil? “Pelas pesquisas, sabe-se que metade da população possui internet. Mas as principais formas de informação provêm ainda da grande mídia que é predominante. Embora já haja alternativas na internet, qual é o noticiário que cai no celular das pessoas e elas recebem pela internet? Que internet é essa? É a dos sites da grande mídia que têm dinheiro para contratar equipes de repórteres para coberturas 24 horas”, lamenta o professor Venício Lima.

Para o sociólogo João Feres Jr., vice-diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ e coordenador do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP), que faz o levantamento do Manchetômetro, “seria muito otimismo concluir que esses sinais de exaustão são o começo do fim do oligopólio da aristocracia midiática brasileira.”

“Enquanto não criarmos canais de financiamento viáveis para a produção de conteúdo na internet,” diz ele, “ e, talvez, por meio de meios impressos, o jornalismo no Brasil vai ficar na mão das mesmas empresas, ainda que economicamente decadentes. É preciso vontade política para democratizar a comunicação em nosso país – coisa tão fundamental para a saúde da democracia. É preciso ação governamental e políticas públicas que incentivem a produção de conteúdo por canais que não passem pelos bolsos da velha aristocracia.”

“Seu jornalismo marrom é cada vez mais escancarado”, dispara Feres, “mais despudoradamente parcial, distorcido e politizado, sem nunca assumi-lo. Isso é tão intenso que o público começa a perceber. A internet ajuda muito, porque as distorções, farsas e mentiras são desmascaradas quase que imediatamente por esse exército de anônimos que cisma em defender a esfera pública brasileira dessa súcia de sicofantas – para usar uma expressão de outra era.”

Para quem gosta de decifrar símbolos e atos falhos: a Veja, esta semana, escolheu Sith como o seu autorretrato. Símbolo das trevas, da ambição e dos projetos sombrios.

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sábado, 31 de outubro de 2015

Política - Mídia cria caos e joga tudo nas costas do PT

O político corrupto da vez, é nada mais nada menos que o homem que ocupa o terceiro mais importante cargo na hierarquia do poder político do Brasil. Eduardo Cunha, foi alçado ao cargo de presidente da câmara dos deputados pelo próprio Congresso Nacional. O deputado arrebanhou tanto apoio e influência política na Câmara federal, que se tornou impossível aos pérfidos oportunistas políticos, para não dizer detratores da Pátria, se posicionarem contra a sua indicação ao exercício do comando daquela Casa.
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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Brizola e o Direito de resposta aos veículos de comunicação

De origem do Senado, a Câmara dos deputados aprovou nesta terça-feira (20) o Projeto de Lei 6446/2013 que regulamenta o direito de resposta a pessoas físicas ou jurídicas contra eventuais abusos de veículos de comunicação. Cidadãos e empresas que considerarem ofendidos com qualquer matéria envolvendo seu nome publicada ou vinculada na mídia terão mais chances de retratação ou correção.
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domingo, 18 de outubro de 2015

A vontade do patrão bem acima do interesse da sociedade


Por Paulo Pimenta (*) - "A atividade jornalística trilha o caminho do obscurantismo quando jornalistas partem às ruas apenas para confirmar teses e reforçar conceitos já formulados nas redações dos jornais. Jornalistas que se portam como “cavalos com viseiras” prestam um grande desserviço à humanidade.

Entretanto, leitores atentos conseguem facilmente identificar que a mídia brasileira tem insistido cada vez mais no processo de editorialização das notícias, prática condenável por contaminar com opiniões textos informativos, impedindo contrapontos e impondo vieses.


Hoje em dia é muito comum observarmos repórteres que saem da redação com a matéria pronta. Na reunião de pauta, o editor pede uma matéria sobre a “passagem de Lula a Brasília para costurar um acordo com Cunha”. Não importa se é verdade ou não. A matéria é essa, o título está pronto e a tarefa do jornalista é conseguir uma declaração, ou uma aspas no jargão jornalístico, para dar crédito a narrativa.
 
Mesmo sem ouvir ninguém, o repórter ainda pode se valer do recurso do “off”. E este, muitas vezes, é o mais prático, pois, no limite, para proteger “minha fonte”, nem o editor precisa saber quem foi. Mas sempre é bom um “on”, até porque sem ele, às vezes, fica difícil justificar o salário.
 
Outra técnica primária utilizada é a de oferecer à fonte a frase necessária para ver se ele confirma e se torna autor. Ou uma pergunta capciosa que com um sim ou mesmo com um vacilo da fonte ou do entrevistado já vale um “confirmada pelo fulano”.
 
Mas e se a fonte nega? Se ninguém confirma? Se os personagens todos refutam a tese? Não importa. Nesta hora, o que vale é a vontade do patrão e ele quer que sua vontade seja verdade. E se ele quer, será publicado. Quem não gostar que se vire para desmentir, mas o estrago, na maioria das vezes, já foi feito.
 
Exemplo disso ocorreu ontem (15). Embora o Manual de Redação da Folha de S. Paulo fale em “objetividade jornalística na construção das notícias”, o site desse jornal estampou: “Lula reúne bancada do PT para conter “fora, Cunha”, sobre uma reunião entre o ex-Presidente com deputados na capital federal. Observe que “Lula reúne bancada do PT” é um fato. Já o “para conter fora Cunha” não passava de pura conjectura, ou melhor, tratava-se apenas da vontade do editor, sem qualquer sustentação na realidade.
 
Desde que surgiram as primeiras denúncias contra o Presidente da Câmara dos Deputados, a imprensa brasileira engendrou todos os esforços para excluí-lo do noticiário. Quando não mais pôde ser complacente, a mídia brasileira, em vão, lançou outra estratégia: colocar Lula – de maneira fantasiosa – como personagem central de uma decisão que será tomada pela Câmara dos Deputados.
 
Aos deformadores da realidade, nunca é demais relembrar que a vontade pessoal dos patrões da mídia para que tal fato seja verdadeiro não é suficiente para transformá-lo em uma verdade. Patrick Charaudeau, linguista francês e fundador da Teoria da Análise do Discurso, ensina que o discurso deve sempre estar submetido aos acontecimentos, uma vez que, segundo ele, a instância midiática, ao relatar um acontecimento, não tem liberdade para criar, como na ficção, por exemplo. Como se observa bem diferente do que a imprensa brasileira tem feito para cumprir seu objetivo de tentar desconstruir a imagem de Lula junto aos brasileiros.
 
Antigamente, bom jornalista era aquele que ia às ruas em busca de fatos. Hoje, infelizmente, o profissional valorizado é aquele que deixa a redação para ratificar as posições ideológicas dos editores e dos patrões."

(*) Paulo Pimenta é deputado federal (PT/RS)

VIA

PS do blog do Guara: este artigo foi objeto de matéria publicada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, em seu blog.

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sábado, 3 de outubro de 2015

Sobre denúncias vazias em manchetes cheias

Por Luis Nassif, no jornal GGN – "A manchete alertava os leitores do conteúdo exclusivo da reportagem: ”Documentos apontam que MP editada na gestão Lula foi 'comprada' por lobby”.

A reportagem do Estadão era estrondosa.

Dizia que uma MP (Medida Provisória) editada em 2009 pelo governo Lula, teria sido “comprada” (assim, entre aspas) por um lobby visando favorecer a indústria automobilística. Falava-se em quantia de até R$ 36 milhões para conseguir a prorrogação de incentivos fiscais de R$ 1,3 bilhão por ano para indústrias automobilísticas das regiões nordeste e centro-oeste.


A matéria mencionava pagamento de R$ 2,4 milhões a um filho de Lula... dois anos depois que a MP foi aprovada. Para estabelecer alguma relação de causalidade, a reportagem informa que a MP entrou em vigor também de 2011. Ah, bom! Primeiro caso de suborno que não é pago no ato.

Segundo a reportagem, a CAOA (que não é flor que se cheire) e a MMC Motores (subsidiária da Mitsubishi) pagariam honorários a um escritório de advocacia que seria responsável pelo suborno.

Aí entra o samba da reportagem doida.

Segundo a mesma reportagem, na correspondência interceptada, ficava-se sabendo que as empresas transferiram R$ 4 milhões para o lobista pagar “pessoas do governo, PT”.

Segundo a matéria, o advogado “faltou com o compromisso”. O que, em tucanês, quer dizer, não pagou ninguém.

O texto sugere que o suborno se estendeu a “deputados e senadores”, sem mencionar nomes. Mas dá ênfase à tese do suborno mesmo sabendo-se – pela própria reportagem –que a CAOA recuou do pagamento quando descobriu que o advogado estava desviando recursos.

Tudo isso consta da matéria.

Mesmo assim o jornal optou pela manchete taxativa: “Documentos apontam que MP editada na gestão Lula foi ‘comprada’ por lobby”. Ou seja, uma manchete que é desmentida pela própria matéria.

Não se parou nisso.

No decorrer do dia, o repórter policial do jornal soltou outra matéria onde dizia que “Mensagens obtidas pelo Estado, que estão sendo investigadas pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal, indicam que houve a oferta de propina para agentes públicos viabilizarem a MP”.

Não era verdade, conforme se leu na matéria original.
Mostrando que o ridículo não tem limites, a melhor síntese do novo PSDB, deputado Carlos Sampaio, solicitou ao Procurador Geral da República que investigasse a denúncia: “Os fatos são de extrema gravidade e, caso comprovados implicam a antiga cúpula do governo Lula, inclusive o próprio ex-mandatário”.

Para ajudar nas investigações, o bravo deputado – que também é procurador estadual – deveria correr ao endereço http://migre.me/rGCBX onde se encontram as provas do crime.

A MP prorrogava incentivos criados no governo FHC, por inspiração do senador Antônio Carlos Magalhães, visando estender para as demais regiões do país incentivos disponíveis para as empresas do Sudeste.

A MP foi aprovada no Senado por um acordo de lideranças. Por unanimidade. Só alguém extremamente crédulo para supor a necessidade de pagamento de propinas para medidas de aprovação unânime.

O então combativo senador Tucano Arthur Virgílio, depois de saudar ACM declarou em alto e bom som: “O Brasil só será feliz quando as nossas riquezas forem melhor distribuídas.

Que o Brasil um dia realize o sonho de ser desenvolvido em todas as regiões e não se faz isso concentrando investimentos em uma ou duas”.

Se não quiser enquadrar Virgílio, o bravo Sherlock Sampaio poderá pegar no pé do senador José Agripino (DEM-RN), frequentador das tertúlias de FHC, que garantiu que “nenhum estado nem município perderá com a aprovação da MP. E foi mais um a ressaltar a "clarividência" de Antônio Carlos Magalhães na luta pela aprovação do benefício”.

Para mostrar sua absoluta isenção, Sampaio deverá inquirir pessoalmente seu colega Tasso Jereissati (PSDB-CE), que declarou que o incentivo foi um "trabalho histórico, um março na história do Nordeste brasileiro".

Depois, todos se reunirão satisfeitos com o guru FHC, em um café da manhã na rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, saboreando a manchete que o Estadão utilizará na edição impressa desta sexta-feira, para saudar seu notável feito jornalístico."

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Miguel do Rosário, responsável pelo site O Cafezinho, também escreveu sobre este assunto com o título: “Bomba do Estadão contra Lula era mentira, para variar”.



PS do Blog do Guara: Em se tratando da mídia brasileira quando o assunto é política, manda o bom senso que tenhamos o mínimo de critério e seriedade. Não é o caso de advogar a favor ou defender este ou aquele lado.  A crise política e econômica que o país atravessa exige de nós uma postura mais genuína, buscando e colocando a verdade dos fatos em primeiro plano. Sob pena de estarmos formando pensamento e opiniões equivocadas e inconscientemente promovermos tão somente o ódio, a desilusão e a mentira entre as pessoas. Como frequentemente constatamos nas redes sociais.  

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quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Veríssimo ataca hipocrisia da mídia e do judiciário


Uma particularidade do Brasil que certamente intrigará os historiadores futuros será a aparente existência no país — inédita em todo o mundo — de dois sistemas de pesos e medidas. O cidadão poderia escolher um sistema como se escolhe uma água mineral, com gás ou sem gás. No caso, pesos e medidas que valiam para todo mundo, até o PSDB, ou pesos e medidas que só valiam para o PT", diz o escritor e cronista Luis Fernando Verissimo. 

"Outra dificuldade para brasilianistas que virão será como diferenciar os escândalos de corrupção, que eram tantos. Por que haveria escândalos que davam manchetes e escândalos que só saíam nas páginas internas dos jornais, qando saíam? Escândalos que acabavam em cadeia ou escândalos que acabavam na gaveta de um procurador camarada?"
 
Do "Brasil 247"


A crônica Conspiração, publicada no domingo pelo escritor Luis Fernando Veríssimo, detona a hipocrisia da mídia e do Poder Judiciário no Brasil. Segundo ele, existem dois pesos e duas medidas no Brasil para avaliar escândalos de corrupção, assim como se vende água com e sem gás.
 
"Uma particularidade do Brasil que certamente intrigará os historiadores futuros será a aparente existência no país — inédita em todo o mundo — de dois sistemas de pesos e medidas. O cidadão poderia escolher um sistema como se escolhe uma água mineral, com gás ou sem gás. No caso, pesos e medidas que valiam para todo mundo, até o PSDB, ou pesos e medidas que só valiam para o PT"", disse ele.
 
"Outra dificuldade para brasilianistas que virão será como diferenciar os escândalos de corrupção, que eram tantos. Por que haveria escândalos que davam manchetes e escândalos que só saíam nas páginas internas dos jornais, quando saíam? Escândalos que acabavam em cadeia ou escândalos que acabavam na gaveta de um procurador camarada?", complementou.
 
"Mas o maior mistério de todos para quem nos estudar de longe será o ódio. Nossa reputação de povo amável talvez sobreviva até 2050. Então, como explicar o ódio destes dias?"
 
Leia, aqui, a íntegra do texto:

Conspiração

hipocrisia-Veríssimo

"O maior mistério de todos para quem nos estudar de longe será o ódio. Nossa reputação de povo amável talvez sobreviva até 2050. Então, como explicar o ódio destes dia?
Coitado de quem, no futuro, tentar entender o que se passava no Brasil, hoje. A perspectiva histórica não ajudará, só complicará mais. Havia uma presidente — Vilma, Dilma, qualquer coisa assim — eleita e reeleita democraticamente por um partido de esquerda, mas criticada pelo seu próprio partido por adotar, no seu segundo mandato, uma política econômica neoliberal, que deveria agradar à oposição neoliberal, que, no entanto, tentava derrubar a presidente —em parte pela sua política econômica!
 
Os historiadores do futuro serão justificados se desconfiarem de uma conspiração por trás da contradição. Vilma ou Dilma teria optado por uma política econômica contrária a todos os seus princípios para que provocasse uma revolta popular e levasse a uma ditadura de esquerda, liderada pelo seu mentor político, um tal de Gugu, Lulu, Lula, por aí.
 
Como já saberá todo mundo no ano de 2050, políticas econômicas neoliberais só aumentam a desigualdade e levam ao desastre. Vilma ou Dilma teria encarregado seu ministro da Fazenda Joaquim (ou Manoel) Levis de causar um levante social o mais rápido possível, para apressar o desastre. Fariam parte da conspiração duas grandes personalidades nacionais, Eduardo Fuinha e Renan Baleeiro, ou coisas parecidas, com irretocáveis credenciais de esquerda, que teriam voluntariamente se sacrificado, tornando-se antipáticos e reacionários para criar na população um sentimento de nojo da política e dos políticos e também contribuir para a revolta.
 
Outra personalidade que disfarçaria sua candura e simpatia para revoltar a população seria o ministro do Supremo Gilmar Mentes.

Uma particularidade do Brasil que certamente intrigará os historiadores futuros será a aparente existência no país — inédita em todo o mundo — de dois sistemas de pesos e medidas. O cidadão poderia escolher um sistema como se escolhe uma água mineral, com gás ou sem gás. No caso, pesos e medidas que valiam para todo mundo, até o PSDB, ou pesos e medidas que só valiam para o PT.
 
Outra dificuldade para brasilianistas que virão será como diferenciar os escândalos de corrupção, que eram tantos. Por que haveria escândalos que davam manchetes e escândalos que só saíam nas páginas internas dos jornais, quando saíam? Escândalos que acabavam em cadeia ou escândalos que acabavam na gaveta de um procurador camarada?
 
Mas o maior mistério de todos para quem nos estudar de longe será o ódio. Nossa reputação de povo amável talvez sobreviva até 2050. Então, como explicar o ódio destes dias?"

FONTE: artigo de Luis Fernando Verissimo publicado no jornal "O Globo" e transcrito e comentado no portal "Brasil 247"  (http://www.brasil247.com/pt/247/cultura/197639/Ver%C3%ADssimo-ataca-hipocrisia-da-m%C3%ADdia-e-do-Judici%C3%A1rio.htm)  e  (http://noblat.oglobo.globo.com/cronicas/noticia/2015/09/conspiracao-20-09-2015.html).

Postado por Tereza Braga, no blog Democracia&Política

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terça-feira, 22 de setembro de 2015

Mídia corrompe a opinião pública


Por Vivian Fernandes, no jornal Brasil de Fato – “A corrupção promovida pela mídia, as intenções golpistas, a concentração dos meios e as novas leis para promover a democracia no setor foram os temas que marcaram o Seminário Internacional "Mídia e Democracia nas Américas", promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Os debates ocorreram com transmissão online, entre a sexta-feira (18) e o domingo (20), na cidade de São Paulo. Estiveram presentem representantes de dez países do continente americano.

corrupção-mídia
Fazendo uma referência aos noticiários dos grandes meios de comunicação, o professor da Universidade de Brasília (UnB) e membro do Conselho Curador da empresa pública de comunicação, a EBC, Venício Lima iniciou o debate falando a respeito do caso brasileiro.
“Se corrupção é a prevalência de interesses privados sobre os públicos, quando a mídia seletivamente apresenta interesses seus, privados, como se fossem públicos, ela está desenvolvendo um processo sistemático de corrupção da opinião pública”, afirmou.
 
A homogeneidade do discurso midiático no Brasil foi outro fator problemático apresentado pelo teórico. “A narrativa da mídia é tão homogênea que é como se tivesse um único editor para todas as notícias de todos os meios", disse. E citando um exemplo recente, Venício traz o tema da “mediatização penal”: “A mídia denuncia, julga, condena e quando se prova a inocência, a mídia não recua e continua condenando”, avaliou.
 
O professor ainda cobrou do governo federal a saída para a “armadilha que ele próprio caiu”. Ele apontou que “os governos populares eleitos nas quatro últimas eleições acreditaram, de forma equivocada, que poderia ser feita uma aliança entre o governo e os oligopólios de mídia. E por acreditar nessa possibilidade foram se perdendo as oportunidades de fazer o mínimo” para democratizar a comunicação no Brasil através da promoção da “pluralidade e diversidade”.
 
A crítica à política promovida pelos governos PT também veio de outros palestrantes e do público. Para Osvaldo León, da Agência Latino-americana de Informação (Alai-Equador), “é incrível como em quatro governos do PT, o partido ainda não tem uma política democrática de comunicação”.

Governo brasileiro
 
Representando o Ministério das Comunicações do Brasil, estava Emiliano José, Secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica. Ele apontou que: “Tivéssemos nós regulamentado os artigos da Constituição, do 220 ao 224, teríamos uma mídia mais democrática que a de hoje”, reconhecendo que o governo não avançou muito na democratização da comunicação.
 
Ao falar do livro que pretende lançar em breve, e reafirmando que esta é uma análise feita em seu próprio nome, ele declarou que “a mídia brasileira sempre teve lado. Ela nunca tergiversou em que lado ela situa e não é do lado do povo brasileiro. Ela sempre teve posições extremamente conservadoras”. Sobre a atual conjuntura política do país, José alertou que “os grupos hegemônicos da mídia desempenham um papel essencial nesse intento golpista”.
 
“Nesse momento, na conjuntura que nós vivemos, pedir uma regulação da mídia é uma contradição com a correlação de forças que vivemos, sobretudo com um Congresso com essa composição”, sinalizou José. Esta afirmação causou polêmica entre os participantes e alguns reagiram apontando que a luta pelo democratização da mídia não cessaria, como foi o caso de Rosane Bertotti, da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Direito à comunicação
 
“O Brasil está atrasado na discussão da democratização dos meios”, foi o ponto de partida pelo qual o Relator Especial para Liberdade de Expressão na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Edson Lanza fez sua apresentação.
Abordando a liberdade de expressão em sua dimensão individual – direito de cada pessoa em buscar, receber, compartilhar e produzir informação - e coletiva – que tem a ver com a garantia da democracia -, Lanza sustentou sua argumentação. Dentro disso, ele afirmou que “os oligopólios ou monopólios [dos meios] atentam contra a liberdade de expressão e a democracia”.
 
Lanza também apontou que é papel do Estado assegurar a democracia no país, garantindo a presença dos três setores: público, privado e comunitário nos meios de comunicação.
Nesse sentido, Néstor Busso, ex-presidente do Conselho Federal de Comunicação da Argentina e ativista das rádios comunitárias, abordou o processo de construção da Lei de Meios em seu país. “O central é que a comunicação é um direito, não um negócio. A liberdade de expressão é um direito de todas as pessoas, não dos donos dos meios”, apontou.
 
“O Estado para garantir o direito à comunicação e à liberdade de expressão, deve assegurar diversidade e pluralismo. Isso significa que o Estado tem que atuar com políticas públicas para garantir esse direito, se faz isso colocando limites aos poderosos e promovendo a palavra e expressão dos setores mais postergados e pobres”, explicou.

Leis de Meios
 
Sobre o caso argentino, Busso ainda contou que as licenças de rádio e TV são divididas igualmente em três tipos de prestadoras: privada ou comercial, social (sem fins de lucros ou comunitária) e pública (que pode ser estatal ou não-estatal).
 
Assim como na Argentina, o Equador possui um modelo de participação dividido em um terço para cada setor. Segundo Osvaldo León, da Alai, um tema importante na legislação equatoriana é sobre a publicidade estatal. “Se a Constituição reconhece três setores, a publicidade estatal deve distribuir-se em três porções iguais”. Isso serve, em especial, para os comunitários, que possuem dificuldades de autossustentação.
 
Apesar de existir há dois anos na lei do Equador, León aponta que não há muitos avanços de democratização dos meios, e afirmou que “não tem nenhuma frequência outorgada para o setor comunitário”.
 
Ainda no capítulo sobre Leis de Meios, experiências do Uruguai, Venezuela, Equador e Bolívia também foram apresentadas. Guardadas as particularidades, em comum pode-se apontar que as mudanças legais foram possíveis pela vontade política dos governos, mas, principalmente, pela mobilização popular, como recordaram todos os representantes destes países.
“A lei não muda a realidade do dia para a noite, mas precisa uma profunda mudança cultural. É um processo que estamos fazendo, mas ainda há muito o que fazer”, refletiu Néstor Busso, da Argentina.

Oligopólio da mídia
 
“Antes nós vimos como funciona no paraíso, agora cabe a mim levá-los ao inferno”, brincou Luis Hernández Navarro, editor do jornal mexicano La Jornada, referindo-se às apresentações dos países onde há lei de meios, e abrindo o caminho para apresentar uma realidade de oligopólio midiático, como é a do México, Chile, Colômbia e Brasil, entre outros.
 
“No México, 96% das concessionárias comerciais de televisão pertencem a duas empresas. E 80% das emissoras de rádio são propriedade de três círculos comerciais. Estamos falando de uma concentração monopolista que vai acompanhando de um projeto de hegemonia semântica”, afirmou Navarro.
 
“Não é somente hegemonia informativa, não é só que os noticiários se informem o que querem informar, e que se oculte o que se quer ocultar; tem a ver como todo o sentido que se dá. Porque a indústria midiática forma parte de um conjunto de entretenimento, de tal forma que estes grupos controlam a principal quantidade de revistas, teatros, salas de cinema”, apontou Navarro sobre a concentração no México.
 
A conversão dos grande grupos midiáticos em atores políticos, “em organismos ideológicos dirigentes, que acabam articulando protestos, convocando a população contra governos progressistas em dois grandes eixos: o da segurança pública e o da corrupção”, foi outro tema abordado pelo mexicano, que sentenciou que esse “é um fenômeno latino-americano”, citando casos como o de seu país e o de Guatemala, por exemplo.

Golpe

Imersos na realidade brasileira, comentários em referência às tentativas golpistas dos meios de comunicação no Brasil, como o inicialmente falado pelo professor brasileiro Venício Lima, foi marcante ao longo do seminário.
 
“O debate da lei no Brasil não é importante só para o Brasil, mas para toda a América Latina. Queremos uma democracia com governos eleitos pelo povo e não governadas pelo poder econômico e pela mídia”, disse o argentino Busso.
 
“Não é mais preciso o fuzil dos militares para promover o golpe, há os meios de comunicação que o fazem”, afirmou Amanda Dávila, ex-ministra das Comunicações da Bolívia.
 
Ela ainda comparou seu país ao Brasil. “Na Bolívia temos maioria no Congresso, quem apoia o governo do presidente Evo são mais de dois terços. No Brasil, o cenário é adverso, no Congresso como está é difícil promover mudanças. É preciso um processo de mudança cultural e política, construído a partir do povo, das mobilizações populares”, salientou Amanda.
 
A ex-ministra boliviana ainda indicou que “se há um golpe no Brasil, o impacto não seria só para o Brasil, mas para todos os países da região. Não gostaria de pensar numa situação como essa, pois seria o fim de muito dos nossos processos”.
 
“O embate entre mercadoria e direito é central para a análise dos meios de comunicação no Chile”, apontou Javiera Olivares, presidenta do Colégio de Jornalistas do Chile.

Via: Blog do Miro

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sábado, 11 de julho de 2015

Para que servem e por que existem os sites progressistas? Por Paulo Nogueira

No DCM – Para que servem os sites progressistas? Por que existem? A sociedade sabe as respostas para ambas as questões, mas a mídia tradicional insiste em tentar manipular as pessoas. Os sites progressistas servem, fundamentalmente, para dar pluralidade ao mercado de notícias e opiniões.

E existem por causa disso: porque há uma expressiva parcela de brasileiros que não se satisfazem com o que lhes é oferecido, ou impingido, pela Globo, pela Veja, pela Folha e por aí vai.

É, no fundo, uma questão de mercado.

Helicoca-DCM

O conservadorismo monolítico das grandes empresas jornalísticas – já não tão grandes assim na Era Digital, aliás – abriu espaço para sites com outra visão de mundo.

Chamar os sites progressistas de governistas é uma mistura de mentira e obtusidade.

Sob qualquer governo, eles seriam o que são. O mesmo já não se pode dizer da grande imprensa: ela protege administrações conservadoras e fustiga administrações populares.

Com isso, defende não os interesses da sociedade, mas os seus próprios.

Que o mercado pedia isso – outras vozes – está claro. É só ver os números.

O DCM, por exemplo.

Tivemos, em junho, 3,4 milhões de visitantes únicos. É o melhor termômetro de audiência: você conta apenas uma vez pessoas que entram diversas ocasiões no site.

Os acessos são algumas vezes aquilo: no ápice da campanha presidencial, o DCM bateu em 20 milhões de visualizações.

Importante: isto tudo foi conseguido num espaço de dois anos e meio. Em janeiro de 2013, quando tomamos a forma atual de um espaço de análises e informações, tivemos 200 mil acessos e 100 mil visitantes únicos.

Sites progressistas acolhem e propagam ideias que não existem nas empresas jornalísticas.
Um exemplo notável: a desigualdade, o câncer nacional.

Jamais o combate à desigualdade esteve na pauta da mídia tradicional. Seus donos sempre se beneficiaram dela, aliás: basta ver sua colocação nas listas das maiores fortunas do país.

A imprensa sempre preferiu, por demagogia, fazer campanhas contra a corrupção, por saber que num certo tipo de leitor menos qualificado esse discurso hipnotiza.

Vital: não contra toda corrupção, mas contra aquela — real, imaginária ou brutalmente ampliada – associada a governos populares.

Não é notícia nada que diga respeito ao PSDB. A roubalheira no Metrô de São Paulo nunca foi assunto. A compra de votos para a reeleição de FHC, idem. O aeroporto particular de Aécio também.

Um delator diz que um ex-presidente tucano recebeu 10 milhões de reais para melar uma CPI da Petrobras. Ninguém, na grande mídia, dá a menor bola, porque este tipo de notícia mina a tese de que a corrupção está sempre ligada a governos populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma.

Neste e em tantos outros assuntos, os sites progressistas jogam luzes onde as corporações de jornalismo projetam sombras. (Fizemos,aqui, levantamentos sobre assuntos tabus na imprensa, como o “Helicoca” e a sonegação da Globo.)

Pessoas que são ignoradas pela mídia tradicional aparecem nos sites progressistas, e enriquecem os debates.

No DCM, para ficar num caso, Jean Wyllys é figura frequente. Vá ao arquivo da Veja e tente encontrá-lo.

A pauta dos sites progressistas é outra. São outros os personagens, são outras as visões, são outros os princípios e valores.

São outros também os leitores. Veja os comentários do blogue de Reinaldo Azevedo: são o primado do ódio, do preconceito, da homofobia.

Agora compare com os comentários dos sites progressistas. São mundos diferentes.
Os anunciantes podem escolher o público que desejam atingir. Não fossem os sites progressistas, esta escolha não existiria.

Como seria o debate no Brasil de 2015 se não houvesse o contraponto digital?
Você pode imaginar.

O cidadão iria para o trabalho ouvindo a CBN ou a Jovem Pan. Leria a Folha e a Veja. Veria à noite o Jornal Nacional e a Globonews.

É sempre a mesma mensagem. A isso se dá o nome de monopólio de opinião.
Os sites progressistas surgiram e cresceram como resposta, exatamente, a esse monopólio.

É para isso que servem. É por isso que existem.


Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/para-que-servem-e-por-que-existem-os-sites-progressistas-por-paulo-nogueira/

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